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J. J. Cale

por FJV, em 29.07.13


Tinha prometido a mim próprio que, para me proteger da melancolia, guardaria algum silêncio na morte de J.J. Cale, o músico que tem mais canções no meu iPod. Mas a sua música está quase toda ligada à minha vida, à memória dos melhores e piores anos e eu não podia deixar de ouvir ‘Anyway the Wind Blows’, ‘‘After Midnight’ e, sobretudo, ‘Magnolia’, ‘Magnolia’ sempre (“Whippoorwill’s singing/ Soft summer breeze/ Makes me think of my baby”). A lista é interminável para falar da comoção e da melancolia desse som (laid back: blues & rockabilly), do seu ar abandonado, poemas cantados nas varandas de casas de madeira à beira de estradas poeirentas, ‘jeans’, nevoeiro e uma guitarra admirável. J.J. Cale morreu este fim de semana, aos 74 anos, de um ataque de coração. Não havia canções como as suas, sempre a provocar ataques de coração. Teremos de ouvir e de dançar ‘Magnolia’. Teremos sempre a sua voz.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

Pela semana fora, oiçam J.J. Cale, tornem a nossa vida um pouco melhor: ‘Travellin’ Light’,, ‘Passion’, ‘Hold on Baby’, ‘Durango’ ‘Devil in Disguise’, ‘My Babe and Me’, ‘Starbound’, ‘Cocaine’, ‘Magnolia’. Em modo ‘repeat’.


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Memórias de uma nota de banco.

por FJV, em 29.07.13

Camilo Castelo Branco e António Sérgio, lembram-se? A Rainha Isabel, Vasco da Gama e Santo António, lembram-se? Eram as efígies de algumas das nossas notas de banco.A mudança do escudo para o euro não foi apenas, digamos, ‘monetária’ – no estrito sentido do termo. Foi também uma mudança de efígie: de Camilo ou Sérgio passámos a nada. Sim, podíamos cunhar a figura de Camões ou de Pessoa nas moedas de euro ou de cinquenta cêntimos – mas não. Ficámos sem efígie. Já em Inglaterra, que mantém a libra, a presença numa nota de banco gera discussão e alimenta polémicas que passam pela imprensa. Esta semana foi anunciado que Jane Austen, a autora de Orgulho e Preconceito (de que agora se assinalam 200 anos sobre a sua publicação) ou de Sensibilidade e Bom Senso, iria passar a figurar nas notas de dez libras. Quando pensaram na «construção europeia», os mentores do euro podiam ter pensado no assunto.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

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Um nome.

por FJV, em 29.07.13

O nome vale tudo. Veja-se o caso de J. K. Rowling e do seu novo romance assinado por Robert Galbraith (que, por si, evoca já o economista John Kenneth Galbraith): bastou saber-se que era um pseudónimo da autora das aventuras de Harry Potter para se transformar num sucesso editorial.Talvez Álvaro de Campos, magnífico heterónimo, não tivesse o sucesso de Fernando Pessoa – e Bernardo Soares, que assina o Livro do Desassossego, também não seria considerado um fenómeno. Um editor americano acaba de confessar que recusou um manuscrito assinado por um pseudónimo de Doris Lessing (e ainda há a recusa da Gallimard em publicar Proust, por exemplo). Romain Gary ganhou pela segunda vez o Goncourt com um pseudónimo (o de Émile Ajar) e foi criticado por isso. Não sei como seria a poesia de José Fontinhas, verdadeiro nome de Eugénio de Andrade. Mas um nome é tudo. É tudo o que se guarda no meio da literatura.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

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Europa: Claudio Magris.

por FJV, em 29.07.13


Por que razão é tão importante a obra de Claudio Magris, sobretudo Danúbio, um livro maravilhoso, belo, único, misto de geografia e de romance, de história política e de contemplação?Porque a obra de Magris, que é este ano galardoado com o Prémio Helena Vaz da Silva para a divulgação do Património Cultural, atravessa todas essas pontes e é um manifesto silencioso e permanente contra a ingratidão. O termo é de Alain Finkielkraut: a ingratidão contra a história, a memória, as ruínas, o horror e a ignorância. Danúbio, de Magris, que é a obra de uma vida, um livro inimitável (só Breviário Mediterrânico, de Predrag Matvejevitch se lhe aproxima), descreve uma Europa como ela seria sem a destruição de cultura. Cultura, precisamente, não é espetáculo. O espetáculo é, precisamente, o que destrói a história e a transforma em banalidade. Claudio Magris é um dos combatentes contra esse ruído da moda.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

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