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Na juventude, eu não sabia
Qual era o sabor da melancolia.
Gostava de subir aos altos pavilhões
E fazer versos muito melancólicos.
Porém, agora, tendo-lhe conhecido
O gosto, já não quero
Falar mais dela. Digo apenas:
«Um dia fresco, que belo Outono.»
Xin Qiji (1140-1207)
[Versão de Gil de Carvalho]
A oeste do pavilhão da Ponte Amarela,
despedimo-nos, velho amigo.
Entre as flores e a bruma de março,
desces rumo à aldeia de Yang.
A vaga silhueta de tua solitária vela
desaparece no espaço esmeralda,
e só resta o Grande Rio
a correr para os confins do céu.
Li Bai (701-762)
[Versão de Sérgio Capparelli e Sun Yuqi]
A Lua de Outono, em quarto crescente,
Li Bai (701-762)
[Versão de António Graça Abreu]
A minha filha lê inglês como eu nunca lerei; para um aparelho que não sei manejar, descarregou duzentos livros e em Português estão apenas dez, ou nem isso. Creio, aliás, que pensa em inglês. Tento convencê-la a estudar mandarim com o pretexto, oculto, de ir com ela às aulas e ter companhia para aprender a ler alguns versos de Li Bai daqui a cinquenta anos. Na China já me desmobilizaram: só radicais são 220 caracteres; a coisa vai ao milhão pelas minhas contas. Na semana passada perguntou-me o que eu achava de ler 2666, de Roberto Bolaño. Exultate! Claro que sim. Imprescindível. Vi, pelos seus olhos, que desistiu naquele segundo. Lancei a armadilha: podes é ler Os Maias, mas acho que não é para a tua idade. Hum. Ai sim? Às escondidas, corri a ver se existe uma versão inglesa em e-book.
Adli Mansur, o novo presidente do Egito, jurou defender “o sistema republicano”. A expressão pode parecer inócua, mas está na base da tentativa de os militares evitarem o caminho para um regime religioso e islâmico no país, destino para onde o presidente agora deposto tinha indicado a direção. Alaa Al-Aswany, um escritor muçulmano (autor de O Estado do Egito e Chicago), esforçou-se por provar que havia uma ponte entre um regime de inspiração religiosa e uma forma qualquer de democracia – ele apoiou a Irmandade Muçulmana e proibiu que os seus livros fossem traduzidos para o hebraico; não sei o que Naguib Mahfouz (1911-2006), prémio Nobel da literatura em 1988, pensaria sobre o assunto, ele que foi perseguido pelos Irmãos Muçulmanos e vítima de vários atentados por motivos religiosos, mas acho que ficaria mais tranquilo depois do golpe militar. Coisas não tão estranhas que acontecem no mundo.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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