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Abertura.

por FJV, em 27.05.13

 

 

 

dos trabalhos do mundo corrompida

que servidões carrega a minha vida

 

 


e eis súbito ouço num transporte público:

as luzes todas acesas e ninguém dentro da casa:

sete ou nove metros de labaredas,

e nem um grito, um sussurro, uma palavra:

só a casa ocupada pela grandeza da estrela,

a grandeza primeira

 

 

já não tenho mão com que escreva nem lâmpada,

pois se me fundiu a alma,

já nada em mim sabe quanto não sei

da noite atrás da luz: livros, frutas na mesa, o relógio que mede

minha turva eternidade

e o tempo da terra monstruosa,

já nada tenho com que morrer depressa,

excepto

tanta hora somada a nada:

acautela a tua dor que se não torne académica

 

 

Herberto Helder, Servidões. Assírio & Alvim, 128 págs.

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