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Ouço «Serenity», do álbum Smokin’ with the Chet Baker Quintet, e passo depois para The Touch of Your Lips, que marcou a minha década de oitenta, na companhia de My Foolish Heart e de Misty. Chet Baker morreu há 25 anos (assinalaram-se no passado dia 13), em Amesterdão, crê-se que depois de mais uma sessão de drogas duras. A relação da sua vida com as drogas é permanente, mas prefiro esquecê-la em nome da música de Chet Baker e, sobretudo, do tom que o seu trompete transportava, num crescendo de melancolia e depressão, perto da tragédia. «Early Morning Mood» e «Anticipated Blues» são dois temas fatais, mesmo para quem não navega nas águas do jazz, e tenho pena que não entrem, como pano de fundo, no documentário que Bruce Weber dedicou a Chet Baker, Let’s Get Lost. Mas o título rende-lhe homenagem: ouvir o seu trompete, grave e triste, continua a ser o primeiro passo para a perdição.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O Filipe resume o essencial sobre a co-adopção e a adopção e o que interessa dizer sobre o assunto.
Se a realidade não está conforme ao que pensas que é melhor para a realidade, acusa-a de reaccionária. Geralmente resulta durante uns tempos. Ou então diz a verdade sobre como as coisas são. Os tempos da peste são assim.
Como de costume, o bom senso e um pouco de serenidade nos posts de Luís Naves.
Alguns dos seus acordes aparecem nos filmes de Woody Allen – são um misto de melancolia e humor, coisa que evoca diretamente a figura do guitarrista Django Reinhardt (1910-1943), o homem que poderia ter alterado o som do jazz se não tivesse morrido aos 43 anos, a 16 de Maio, há 60 anos – e se não fosse belga com origens ciganas, mas isso é outra história. Para quem ouve «Nuages», um dos seus grandes temas, «Stardust», a sua versão de «All the Things You Are» ou «Blues for Ike» (dedicado a Duke Ellington, com quem tocou nos anos 40 em Nova Iorque), Django só pode estar no grande palco do jazz, que muitas vezes dividiu com Stéphane Grappelli, mas onde lhe está reservado um lugar de primeira linha. É aí que o encontro, o cigarro dependurado da boca, a guitarra entre as mãos – a guitarra que, no jazz, esteve sempre em plano secundário, salvo quando Django Reinhardt é evocado.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Na semana passada «recomendei» um artigo da jornalista Josefina Licitra sobre o «escândalo» de corrupção montado pelos Kirchner na Argentina. As notícias continua, apesar de o Dr. Soares ter dito que gosta muito desse governo e de D. Cristina. É uma história policial e rocambolesca, como de costume. Aguardo o capítulo em que os guarda-costas de Hugo Chávez entrega a D. Cristina as malas com dólares. Há-de chegar. Mas já chegou a La Angostura, uma espécie de Suíça nos Andes.
O partido Os Verdes (e creio que toda a esquerda) acha que os estudantes do 3.º Ciclo devem estudar a Constituição. Não me parece desajustado nem cruel; há coisas bem piores, como ler alguns textos de certos manuais de Português. De resto, compreende-se o interesse da esquerda em obrigar os adolescentes a ler a Constituição – porque o atual regime, agonizante, desenhado nos anos 70, assenta naquele texto cuja revisão parece ser um tabu. Já a direita diz que é melhor as escolas ensinarem minudências de direito constitucional em vez de mostrar aos alunos que o povo português tomou a decisão de “abrir caminho para uma sociedade socialista”, como se lê logo a abrir. Justo receio. Mas por que não se pode rever a Constituição e retirar os seus simpáticos anacronismos? Porque seria um escândalo. E nisto estamos: metade do país não deixa que os seus filhos leiam um texto que já devia ter sido revisto.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Passados quase 40 anos sobre a independência dos países africanos de língua portuguesa, começa a ser desclassificada uma quantidade generosa de fontes históricas, o que permite fazer luz quer sobre episódios fundamentais desse período, quer sobre o cenário geral em que decorrem. Segredos da Descolonização de Angola, da jornalista Alexandra Marques (Dom Quixote, 544 págs.), que chegará às livrarias por estes dias, é um documento notável que nos ajudará a reconstituir a retirada portuguesa de Angola. Não se tratou de descolonização, de facto – mas de uma simples transferência de poderes num palco dominado pelas grandes potências da época. Quanto mais documentos deste género forem publicados mais depressa terminarão o tabu, os traumas e a versão oficial e desculpabilizadora que dominam a explicação desses anos de fogo. O tempo passa e cura as feridas; mas, para isso, tem de ser conhecido.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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