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Observações, 2.

por FJV, em 05.05.13

Há tantos comentadores televisivos, líderes da oposição e génios com soluções de algibeira, que seria uma pena o país não as aproveitar. O destino do governo, a partir de agora, é ser devorado lentamente, desmantelado até não sobrar senão a obstinação de dois ou três solitários completamente isolados, sem qualquer apoio. Mesmo que Marcelo tenha razão (televisão a preto e branco e a cores), trata-se de puro espectáculo, bom para ir fazendo humor negro. Esse espectáculo, penoso e degradante (para o  governo, para a oposição, para a troika, para o Presidente), só pode ser evitado de uma maneira. 

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Observações, 1.

por FJV, em 05.05.13

Nas atuais circunstâncias, ou a coligação está unida – ou não vale a pena mantê-la só para produzir notícias. A declaração de Paulo Portas equivale a dizer, abertamente, que não concorda com as decisões tomadas pelo governo (e anunciadas pelo primeiro-ministro) e que, não satisfeito em ter esticado a corda no caso da remodelação, prefere também outras soluções para enfrentar a crise. Ou seja, por muitos prejuízos que a decisão possa causar ao país (e são muitos, sobretudo tendo em conta que o país é um protectorado sem dinheiro para pagar salários), é necessária uma clarificação

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Não se aprende.

por FJV, em 05.05.13

Deixem-me regressar a John Le Carré, cujo novo livro (A Delicate Truth) foi publicado em Inglaterra na semana passada – e sairá em Junho em Portugal. Recuemos até O Nosso Jogo publicado em 1995 (Dom Quixote), antes do 11 de Setembro e, sobretudo, antes dos recentes acontecimentos de Boston. É um dos seus mais belos livros, narrados pelo ex-espião Tim Cranmer. Pelo meio, uma história de amor entre a sua mulher, a bela Emma, e Larry Pettifer, especialista em assuntos soviéticos – desaparecidos. Tim sabe que, para encontrar um deles, tem de procurar ambos. É uma aventura perigosa que o leva até à Inguchétia, à Ossétia, às paisagens do Cáucaso e da Abecásia – e à herança histórica que atravessa toda a história da URSS, do estalinismo e das religiões locais. Os autores do atentado de Boston, que são chechenos, contariam histórias semelhantes. Mas, infelizmente, lê-se pouco hoje em dia, muito pouco. E não se aprende nada.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Kavafis.

por FJV, em 05.05.13

 

Quando falamos da poesia grega contemporânea é indispensável referir três nomes centrais, como Giorgos Seferis (prémio Nobel em 1963), Yannis Ritsos ou Odysseus Elitis (Nobel em 1979). Mas, sobre todos eles paira, tutelar, o de Konstantinos Kavafis, cuja obra não ultrapassa os 154 poemas (acrescidos de alguns deixados incompletos), que o leitor português pode ler em tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis (edição da Relógio d’Água). O seu mundo é o do Mediterrâneo, a sua língua é o grego moderno tingido da influência da poesia inglesa, o seu território é o da melancolia, a sua cidade é Alexandria, onde nasceu e morreu. A nostalgia que marca os seus versos vem da tradição clássica (até nos seus temas centrais, como a sexualidade), onde procurou as raízes de uma lírica cheia de penumbras e delicadeza. Completaram-se esta semana 150 anos sobre o seu nascimento e 80 sobre a sua morte. 

 

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Islândia.

por FJV, em 05.05.13

Embora povoada desde o século IX, a Islândia independente apareceu no mapa depois da II Guerra (com o apoio dos EUA). Nos anos oitenta, o país contava cerca de 200 mil habitantes (hoje 320 mil), a venda de álcool estava proibida durante a semana e não havia televisão creio que às quartas-feiras. Teve um prémio Nobel em 1955, Halldór Laxness (autor de O Sino da Islândia, obra-prima). Não é por acaso que produziu bandas como os Sugarcubes ou Sigur Rós, literatura como a de Yrsa Sigurðardóttir, sagas e mitologias, a poesia da Edda e o belo Hávamál. Num país que vivia da pesca e do turismo (com padrões elevados de qualidade de vida, mas também de sobriedade), as tropelias financeiras levaram o país à «falência». Essas tropelias e o endividamento excessivo eram um corpo estranho na ilha tranquila. Os sacerdotes do exemplo islandês não compreenderam que tudo tem a ver com o «modo de vida».

 

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Universidades.

por FJV, em 05.05.13

Houve um tempo em que a universidade era considerada uma espécie de muralha contra a vulgaridade, a ignorância, o lugar comum – e o lugar onde o conhecimento, o rigor e o estudo estavam em primeiro lugar. Este seria o retrato ideal, que nunca foi pacífico ou consensual, sobretudo na área das chamadas ciências sociais e humanidades, mais permeáveis à falsificação, à preguiça, à banalidade e às modas do momento. Nos últimos tempos, porém, algumas universidades defrontam-se com um problema acrescido: a credibilidade dos seus diplomas e do seu ensino. Uma classe política sem qualificações e sem vergonha (e sem pudor, sem vigilância, deixada à solta) apoderou-se de universidades privadas, fundou simulacros delas, ou comprou diplomas nos seus balcões. O resultado é uma devastação que devia ser investigada e revelada com urgência. Enquanto isso não acontecer, a suspeita, insinuante, continua de pé.

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Doutor Spock

por FJV, em 05.05.13

O seu livro Meu Filho, Meu Tesouro, que acompanhou a educação de crianças de duas gerações, foi o livro mais vendido nos EUA depois da Bíblia – e o nome do seu autor, Benjamin Spock (nascido há 110 anos, cumpridos na sexta-feira passada), foi sem dúvida uma das personalidades mais influentes do século XX. O título original era The Common Sense Book of Baby and Child Care e descomplexava questões essenciais de puericultura, o que muito facilitou a vida dos pais nos anos sessenta e setenta, atrapalhados com os horários dos biberões, a frequência dos choros ou as febres ocasionais. Sem dúvida, foi uma revolução. Algumas das propostas de Spock, no entanto, tiveram consequências menos luminosas no comportamento das “gerações mimadas”, autorizando alguma permissividade e excesso de auto-estima. Seja como for, a ideia moderna de criança passa por esse livro que os pais de todo o mundo tiveram como guia.

 

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Há uma vingança do tempo.

por FJV, em 05.05.13

O papa mostrou-se chocado com o acidente que, no Bangladesh, vitimou mais de 400 pessoas que trabalhavam em improvisadas “fábricas têxteis”. Escravos na sua própria terra, as vítimas mereciam este e outros avisos, mais do que a lengalenga sobre norte-sul e ocidente-oriente. Nesses países, o trabalho escravo é a rendição de milhões de famílias. Explica-se. Na década de oitenta, o ocidente descobriu a “terceira vaga”, as novas tecnologias, o trabalho limpo, a indústria dos serviços. Para dar de comer ao mundo civilizado e cheio de iPhones, haveria sempre continentes pobres e escravizados e gente modesta a produzir alimentos e vestuário. Só isso explica, por exemplo, que uma vaca francesa obtenha, num ano, mais apoios da UE do que, em toda a sua vida, um agricultor da América Latina. Esta barbárie é pública e pouco estudada. Estão a ver por que é que a Europa perde em todos os tabuleiros?

 

[Da coluna do Correio da Manhã.]

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Jayne, Jayne.

por FJV, em 05.05.13

Fala-se demasiado de «beleza pura» – ora, Jayne Mansfield representa um dos maravilhosos vértices da «beleza impura». Não tinha, evidentemente, a «aura social» nem o talento dramático de Marilyn Monroe (ah, de quem todos os homens dependem um pouco), nem a sua melancolia – para o bem e para o mal. Convenhamos, também, que não há competição possível entre o rosto de Marilyn e as mamas de Jayne Mansfield: pertencem a mundos muito diferentes. Geralmente menciona-se Promises! Promises!, devido à sua nudez provocante (e por isso na altura censurado), mas eu gosto de a ver em Aconteceu em Atenas (de 1962, eu tinha acabado de nascer), um péssimo filme feito à medida dos fãs de Mansfield, onde a sua voz está melhor do que nunca e o corpo é uma poderosa linha de pecado. Morreu de forma dramática quando a sua vida entrava em declínio e em total série B, aos 34 anos. Se estivesse viva teria completado 80 anos.

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