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Nemésio, sempre e sempre.

por FJV, em 20.02.13

 

 

Passam hoje 35 anos sobre a morte de Vitorino Nemésio (1901-1978). A data devia servir para, nas escolas portuguesas (por exemplo), relembrar o homem de letras, o notável poeta, o escritor, o mestre – e o autor do mais belo, completo e marcante romance português do século passado, Mau Tempo no Canal, um prodígio de beleza, paisagem, humanidade e gente desenhada com o talento inimitável de um grande autor. Se houvesse juízo e decência, a televisão pública já tinha produzido uma telenovela de primeira ordem a partir de Mau Tempo no Canal, com o cenário belíssimo do Faial (com a Horta de outrora, de sempre) e do canal do Pico e São Jorge, além dessa galeria de personagens inesquecíveis (a deslumbrante Margarida, os Clarks, os Dulmos, os Garcia, os Bana, os Peters, os baleeiros) desenhados com a perfeição de Nemésio. A grande arte de Nemésio e a sua obra mereciam gente com mais memória. 

 

Mais isto, muito a propósito: vá à última página de Mau Tempo no Canal. Amanhã, às 19h25, completam-se 69 anos (21 de fevereiro de 1944) sobre o momento em que o escritor escreveu a última frase do livro. Está lá, anotado.

 

[Da coluna do Correio da Manhã]


 


 


A Concha

 

A minha casa é concha. Como os bichos


Segreguei-a de mim com paciência:


Fechada de marés, a sonhos e a lixos,


O horto e os muros só areia e ausência.



 

Minha casa sou eu e os meus caprichos.


O orgulho carregado de inocência


Se às vezes dá uma varanda, vence-a


O sal que os santos esboroou nos nichos.



 

E telhados de vidro, e escadarias


Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!


Lareira aberta pelo vento, as salas frias.



 

A minha casa... Mas é outra a história:


Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,


Sentado numa pedra de memória.

 

 O Bicho Harmonioso (1938)



 


 

Noite, Matéria da Morte

 

Noite, matéria da morte,

Acostuma-me a ti;


Dispõe de sul a norte


A Barra que eu perdi.



 

O vaso de mistério


Que o dia apaga – põe-o


A mim cheio e evidente:


Coisas que são do sonho,


Que não as veja gente.


 

Meu sono cava, ó casta e sossegada,


Como se fosse a tua horta.


Na terra humana tudo pega,


Até silêncio!


Planta sossego à minha porta.



 

E cresça do sossego


Então minha alma nova,


Como a rosa, que é só decência e apego


A uma modesta cova.

 

Eu, Comovido a Oeste (1940)


 


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Hannah Arendt, o mal e a banalidade do mal.

por FJV, em 20.02.13

 

Texto fundamental para reler: «Arendt em Jerusalém», de António de Araújo e Miguel Nogueira de Brito, no Malomil.

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Friedan: «the problem that has no name».

por FJV, em 20.02.13

De entre os livros que contribuíram para mudar o século que passou está The Feminine Mystique (A Mística Feminina), de Betty Friedan – foi publicado há exatamente cinquenta anos (a 19 de fevereiro de 1963). Ele permitiu que o mundo das mulheres não fosse apenas o de donas de casa desesperadas, sitiadas entre o casamento e a educação dos filhos, bem ao gosto do retrato da família americana tradicional desses anos de crescimento económico. O recato do lar deixou de ser um lugar agradável. Com uma clareza que hoje nos parece desnecessária, Friedan garante que a felicidade das mulheres dependia do fim desse modelo (identificando  «the problem that has no name») – e, como boa judia, lê Freud à letra para desmantelar a ideia de que o problema do papel e do estatuto das mulheres é apenas sexual; pelo contrário, é da ordem do código civil. Cinquenta anos depois, Friedan faz parte da galeria das pessoas que ajudaram a mudar o mundo.

[Da coluna do Correio da Manhã]

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