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50 anos.

por FJV, em 14.02.13


Vasco Graça Moura é um dos nossos grandes poetas europeus. Na verdade, é um clássico que ultrapassou a fragilidade e as maldições do tempo – e os seus cinquenta anos de vida literária, que agora se assinalam, deviam ser motivo suficiente para relermos a beleza terrível (a expressão é de Yeats) de A Sombra das Figuras, ou de Sonetos Familiares e Uma Carta no Inverno, ou de tudo o que está presente nos dois volumes da Poesia Reunida. Poucos conseguiram, como Vasco Graça Moura, recriar o cânone da nossa grande poesia e comover-nos tão profundamente, entre a ironia e a melancolia, num equilíbrio de grande autor e de respeito pela tradição da melhor poesia do ocidente. O lugar de poeta não esconde, além disso, a sua figura de tradutor (o de Dante, Racine ou Shakespeare), de romancista, de ensaísta culto e exigente. Cinquenta anos não bastam.

[Da coluna do Correio da Manhã]

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No Estado, o absurdo não paga imposto?

por FJV, em 14.02.13

 

Caro Paulo Núncio: queria apenas avisar que, se por acaso, algum senhor da Autoridade Tributária e Aduaneira tentar «fiscalizar-me» à saída de uma loja, um café, um restaurante ou um bordel (quando forem legalizados) com o simpático objectivo de ver se eu pedi factura das despesas realizadas, lhe responderei que, com pena minha pela evidente má criação, terei de lhe pedir para ir tomar no cu, ou, em alternativa, que peça a minha detenção por desobediência. Ele, pobre funcionário, não tem culpa nenhuma; mas se a Autoridade Tributária e Aduaneira quiser cruzar informações sobre a vida dos cidadãos, primeiro que verifique se a C. N. de Proteção de Dados já deu o aval, depois que pague pela informação a quem quiser dá-la.

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Um monumental manguito para o Estado.

por FJV, em 14.02.13



Uma vez por outra, o Estado podia meter-se na sua vida e dar algum exemplo de sensatez – mas, toda a gente sabe, isso é superior às suas forças. Agora, é a questão das faturas, um tema simples que podia ser resolvido de maneira simples; não, o Estado não o permitiria e determinou que os “consumidores finais” que não exigirem fatura nas suas aquisições, de lingerie a sabão azul e branco, arriscam uma multa a ser aplicada pelas autoridades. Ou seja: o Estado serve-se dos cidadãos para vigiar as transações comerciais na mais longínqua aldeia de Trás-os-Montes ou da ilha das Flores, mesmo nos lugares de onde se ausentou voluntariamente. Que as grandes empresas, mancomunadas com o Estado, encontrem formas de escapar ao aperto fiscal – é um facto da vida; mas que um Estado falido e especialista em extorsão decida sitiar os cidadãos com leis absurdas, é coisa digna de um monumental manguito.

[Da coluna do Correio da Manhã]

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Ratzinger.

por FJV, em 14.02.13

É provável que Bento XVI não tivesse conseguido fazer esquecer Joseph Ratzinger – o homem que, dez anos antes de ser papa, já comandava os verdadeiros destinos da igreja católica. Para o Vaticano, Ratzinger (um dos únicos cardeais que não tinha sido nomeado por João Paulo II) transportou o brilho intelectual, as preocupações de rigor doutrinário, a exigência teológica, a pureza da forma, a diversidade dos ritos, aquilo que acreditava ser a quase perdida beleza da fé. Aos que pretendiam uma igreja pop, Bento XVI lembrou aquilo que sempre defendera: a necessidade de ortodoxia para preservar o sentido e a forma da igreja, o que nunca significou – no seu papado e correndo o risco de se encontrar «em minoria» – a ausência de debate, de estudo e de profundidade. A Europa perde, com a resignação de Bento XVI, um intelectual brilhante e atento, que recolocou a religião na trajectória das pessoas reais.

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Sylvia.

por FJV, em 14.02.13

  

 

Cinquenta anos depois da sua morte, aquela beleza continua a ferir. As fotografias de Sylvia Plath (1932-1963) evocam-na como um espelho da dor profundíssima que transita pelos seus poemas – e a sensação é de injustiça. Talvez por isso o seu suicídio tenha merecido todas as especulações, mesmo as mais disparatadas, que até à morte perseguiram também Ted Hughes, o seu marido, notável poeta inglês; ou talvez a marca da tragédia tenha perseguido Hughes (o filho de ambos suicidou-se também, bem como a segunda mulher de Hughes) através de Sylvia Plath. Hoje, além das fotografias, as traduções portuguesas de Plath (A Campânula de Vidro ou Ariel) devolvem-nos uma literatura cujo tom confessional foi um emblema de combate e uma terapia diante da melancolia do mundo. Vivido em papel, através de Plath (que se suicidou a 11 de Fevereiro), esse sofrimento é grande poesia. Mas uma vida terrível. 

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