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Descubro, ao fim do dia, que as «redes sociais» andaram ocupadas durante as últimas doze horas a derrotar a Samsung por causa de uma Pepa Xavier que queria uma mala Chanel. Não é assustador: há quinze dias, ou assim, ela recomendava o uso de «barroco, cabedal, metalizados, burgundy, matchingprints, western, looks monocromáticos, casacos oversized, ankle boots e sapatos masculinos». Quem recomenda ankle boots só pode querer bem ao próximo. Recordo-lhes também que em Outubro de 2011, quando interrogada sobre o seu blogue, Pepa declarou «Uii, é o meu baby! Lol Começou como um hobby, uma plataforma onde podia partilhar as minhas opiniões, influências e imagens. Hoje, é algo que faz parte de mim e que quero investir para o futuro.» (três coisas ao mesmo tempo nas mãos de Pepa: «Lol», «influências» e «investir para o futuro» — uma espécie de tridente ideológico). Outra das participantes da campanha da Samsung, entretanto, definiu-se como «burra, estúpida, ignorante, tiazoca, fútil, consumista, um lixo tonto que ainda por cima enfia um U dentro dum treze», de onde retiramos que não quer a mala Chanel. Por que razão as «redes sociais» cantam vitória? Porque a Pepa falou, ou seja, ronronou numa língua estranha, quase sem abrir a boca, o que — incompreensível! — foi declarado perigoso e anti-social, além de revelar problemas nos maxilares.
Quanto ao essencial, é como se segue: uma Chanel Classic 2.55, o modelo original desenhado por Coco Chanel, lançado em Fevereiro de 1955 (e com o clássico fecho conhecido por «Mademoiselle Lock» — o fecho CC foi introduzido por Lagerfeld), custa entre 1,785 e 2,095 dólares.
Tudo terminou em bem, segundo me informaram: 1) as «redes sociais» levaram a Samsung a retirar uma série de vídeos do seu site; 2) a Pepa levou uma tareia do namorado por ter dito, numa entrevista, que as marcas que mais usa são Zara e H&M — e, finalmente, 3) quem não gosta da Chanel Classic 2.55 Reissue pode comprar uns sapatos Lady Peep Strass de Christian Louboutin, que custam 4,985 dólares.
Adenda: acabam de informar-me que Pepa Xavier, aliás Filipa Xavier, é, afinal, Pépa Xavier, o que é aborrecido para Xavier, que é — vejamos — um nome sem mácula.
Depois de almoçar peixe cozido e legumes, continuo a minha cruzada pela comida saudável, pela alimentação responsável e pela gastronomia sustentável, de acordo com os padrões que o governo um dia há-de decretar — e vejo duas vezes a repetição de Unique Eats, no Food Network, para imaginar como se preparam as «bolinhas de massa de arroz misturada com lamelas de presunto e recheadas com um cubo de queijo Thomasville Thome» antes de serem passadas por uma mistura de cereais e alho e fritas em óleo de amendoim, jóia da cozinha sulista americana. De seguida vejo dois programas grotescos de Guy Fieri (Diners, Drive-ins & Dives), um dos quais me ensina a temperar frango para fritar e outro me leva ao Ziegger Deli para recordar kreplach fritos ou knish (cerca de 80% destes restaurantes seriam fechados pelas autoridades sanitárias...).
«Berardo diz que nunca mais fará denúncias na vida.» Não é preciso; José Berardo nem é o pior. Em Portugal toda a gente denuncia sem provas mas com aplicação e alarme; uns tempos depois prova-se que não havia razão para tanta denúncia ofendida – mas a coisa está feita. Entretanto, os denunciantes já lucraram com a denúncia.
Por causa de um caso de dislexia tratado aqui, recordo outro caso: «Os interesses de todos os credores – dois deles a CGD e o BCP fortemente apoiados por dinheiros públicos – estão a ser plenamente defendidos com toda a transparência?», pergunta-se no Malomil. A questão ultrapassa em muito a CGD e o o BCP (que estão implicados no negócio); há outros «credores» muito mais importantes, que talvez fiquem sem retorno.
Aprendam.
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