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As obras de Niemeyer devem ser vistas ao entardecer para não sermos feridos pela sua brancura ou pelas enormes dimensões desses projetos sempre tão caros e monumentais, aspirando à epopeia e dando de si mesmos uma escala desumana, impositiva, de grandiosidade, fora do mundo. Os seus trabalhos de Brasília são o exemplo maior dessas linhas em branco, curvas, planos que flutuam, pilares que assentam sobre águas invisíveis, corredores onde ficamos minúsculos – e espaços tão vastos que só cabem em grandes panorâmicas, como a cidade administrativa de Minas Gerais (o seu derradeiro trabalho, de 2010), o centro cultural de Avilés, nas Astúrias, ou a catedral metropolitana de Brasília, onde a religião é homenageada por um ateu. O talento de Niemeyer (evidente desde que desenhou o complexo da Pampulha, em Belo Horizonte, nos anos 40) e esse rasto de invenção são o mais importante; o resto passa, é só destino e circunstância.
[Da coluna do Correio da Manhã]
Fim de sábado, «Kedushah», de John Zorn.
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