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O cantinho do hooligan. El comandante.

por FJV, em 30.11.12

 

O melhor do FC Porto neste jogo (com uma contabilidade de 8 faltas contra 26, a justificar o carácter predestinado de Benquerença) foram as declarações finais de Lucho González, el comandante. Um cavalheiro. Era favor apresentarem Lucho diante dos microfones no fim de todos os jogos; para explicar seja o que for, o seu porteño é melhor do que o português de serviço. Quem joga assim, explica-se melhor. 

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Diários de Al Berto.

por FJV, em 30.11.12

«Voltar a Milfontes este verão. Fascínio pelo rio, pelo mar, por esse momento em que não há rio nem mar, mas sim turbilhão, fusão. O rio diluindo-se no mar. A imensidão do mar guardando todos os rios.»

 

[…]

 

«Hoje devia estar aqui na Festa do Livro, mas faz calor e eu não me equilibro lá muito bem. Vou andando. Estou à espera dos exames. Vamos ver amanhã 2ª feira. Faço um grande esforço para escrever. Mas se não o faço não sei. Não posso. É tudo o que me resta é escrever, sobretudo à noite. Durante o dia tenho visitas e durmo, durmo sem fim — e tenho alucinações. Vejo tudo ao contrário.»

 

Al Berto, Diários. [edição de Golgona Anghel] Assírio & Alvim, 592 págs. Lançamento na próxima semana.

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Editoriais.

por FJV, em 30.11.12

Dos nossos jornais desapareceu já o velho «editorialismo» de outros tempos que, além das matérias de primeira página, centradas na política, na «economia» ou em assuntos internacionais, se dedicava também à cultura, às «ideias» ou aos sinais recolhidos em pequenas histórias remetidas para as colunas menos visitadas. O The Daily Telegraph mantém o espírito, tanto quanto as suas páginas de obituários ou de jardinagem: um destes dias reservava um terço do seu espaço para um dos prazeres da «cinefilia popular» — e interrogava-se sobre como era possível James Bond, em Skyfall, começar a luta em cima do comboio calçando sapatos de atacadores e terminá-la com botins (elastic-sided boots), ou como podia o autocarro 38 (que pára em Picadilly) passar em Whitehall. Assuntos sérios.

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Homenagem, claro.

por FJV, em 29.11.12

  

 

Ontem, em Castelo Branco, J. Rentes de Carvalho recebeu o Grande Prémio APE de Literatura Biográfica, pelo seu livro Tempo Contado (Quetzal). E leu este texto, «Procissão». Está lá tudo.

 

Os tolinhos. Os bufos. Os convencidos. Os pategos. Os membros e as suas esposas. Os amigos dum gajo que conhecemos há muito e  não é sério. Os fanáticos. Os sinceros. Os que foram maoístas. As bruxas. Os inimigos do povo. As irmãs do Salazar. Os compadres. Os hesitantes. O senhor Pacheco do táxi, do aviário e da bomba da gasolina. Os que comem peixe à sexta-feira. Os sócios benfeitores da Associação dos Bombeiros Voluntários de Oliveira de Azeméis. O médico dos Raios-X. A ex-telefonista da ex-PIDE do antigo regime. O clarim de Caçadores 9. Os filhos do falecido Prof. Dr. Joaquim do Amaral Thorensen Perestrelo Owen Ricciotti Matoso Guedes de Crespo e Bombarral (Marquês de Leça, Irmão da Ordem Terceira, Diplomé des Palmes du Mérite Agricole). O maquinista do ‘Foguete’ que levou o Papa a Braga. Os heróis do mar. Os gloriosos combatentes anti-fascistas. Os gaseados de 1914-1918 (Flandres). A tia da D. Amália Rodrigues. O cauteleiro de Cinfães. Os moradores do terceiro andar do prédio nº 42 do Beco dos Capachinhos 1300-444  Lisboa. Os que só gostam de cerveja. O que comprou as calças do Gungunhana e as ofereceu depois ao Museu de Bragança, donde parece que foram roubadas na noite de 7 de Fevereiro de 1952. A mulher do filho do vizinho do Marcelo. As figuras prestigiosas da nossa política acompanhados (acompanhadas? era o que faltava!) das respectivas esposas. O emigrante que construiu aquela casa. Os visitantes do Jardim da Estrela. Os dez mais elegantes. Os calvos, os obesos, os deficientes motores, os invisuais, os diminuídos mentais – que é como quem diz: os carecas, os buchas, os aleijadinhos, os cegos, os tarados. Os manetas e os gagos. O locutor da Rádio Renascença. O bissexual que casou com a Maria João e na intimidade lhe chama Zé Maria. O senhor doutor que está quase a chegar, não falta nada. Os três da panelinha. Os três. Os que dizem trinta e três. A Trindade. O senhor Pimpim. Os que leram Marx. O reformado que pinta aguarelas e imita muito bem o barulho da água a ferver. O eléctrico dos Anjos. Os senhores guardas. As senhoras guardas. As gentes da autoridade. Os defensores da ordem. A mulher que fugiu ao marido alcoólico e se foi juntar com um cego que tem uma barraca em Chelas. Os tocadores de violoncelo. Os fascinados pelo destino do proletariado. Os holandeses anticolonialistas, vegetarianos, com casa no Algarve. O ex-ministro. A Rosa que gosta muito de crianças. Os enfermeiros. As calistas a domicílio. A menina do quiosque. O bispo de Aveiro. Você e eu.

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