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Em nome do Brasil, por causa do «bom relacionamento» de José Sócrates. Eu duvido. Tem tempo.
Adenda: desmentido.
Antonio Palocci apresentou a demissão do governo Lula por suspeitas de corrupção, para salvar a face do presidente e do governo. Foi em 2006 e era ministro da Economia. Em 2011 Palocci, ministro da Presidência de Dilma Rousseff, é obrigado a demitir-se pelos mesmos motivos. Toda a especulação vai dar ao polígono paulista onde se estabeleceu o poder do PT. Lula diz que «foi no momento certo». Ele sabe.
Poucos homens poderiam manter, ao longo da vida, uma tal elegância e uma tal profundidade. Jorge Semprún (1923-2011) teria de ser um deles; o seu A Escrita ou a Vida (1994) é um testemunho raro; os seus A Segunda Morte de Ramón Mercader (1969) e Autobiografia de Federico Sánchez (1977) entram em qualquer panorâmica da literatura e da política espanholas; no cinema, não deve ser esquecida a sua colaboração com Costa-Gravas e Alain Resnais. A polémica perseguiu-o, de Büchenwald às histórias do Partido Comunista espanhol, mas a sua aura sobreviveu. Conheci-o em Madrid quando era ministro da Cultura: um rosto tranquilo, uma voz pausada; era independente numa Espanha que queria alinhados à força, o que lhe custou o lugar. A sua morte deixa o mesmo rasto de turbulência. É o costume.
[Na coluna do Correio da Manhã]
Qual a importância do Polo Norte? Toda. Antigamente, achava-se que havia esferas no interior da Terra e que elas moviam o planeta; a imagem fica bem em sonetos, mas não é verdadeira. A descoberta do Polo Norte magnético é outro dos momentos decisivos para a nossa existência e não tem a ver com um ponto fixo à superfície do planeta – o primeiro a aproximar-se dessa lugar e dessa medição exata foi James Clark Ross, há 180 anos. Era para esse ponto invisível e flutuante que as bússolas apontavam (embora não sejam a mesma coisa); só no século XX a sua localização variou cerca de 1000 quilómetros. Os poetas, os geógrafos, os astrónomos e os viajantes deviam reter esta data e o nome de Ross. O nosso mundo ganhou muito com essa descoberta.
[Na coluna do Correio da Manhã]
O país anda chocado com cenas de violência com honras televisivas mas convém lembrar que as agressões entre “jovens” são comuns e estão na base de filmes fatais e de “histórias de iniciação”. Guerras de gangues não são de hoje – James Dean e Marlon Brando deram corpo a essas histórias. Mesmo violência entre raparigas não é uma novidade. Estes episódios só são novos para quem tem se obstina em desenhar Portugal com as aguarelas da pacificação e tem horror às notícias da “vida real”. O problema é que, agora, os idiotas de todas as idades se juntam na internet com toda a liberdade – antigamente gabavam-se dos seus pequenos crimes apenas em silêncio; agora têm o palco digital. O ‘país real’ fica à distância de um clic e, na verdade, não é bom de se ver a todas as horas do dia.
Gosto muito de ouvir alguns sociólogos e psicopedagogos comentar “casos reais”; a principal razão tem a ver com o fato de não parecerem ser deste mundo, se bem que se esforcem. De repente pintam o cenário como se fosse a catástrofe, uma espécie de fim do mundo organizado em ondas de violência juvenil. A ideia de que os atos de violência são praticados por jovens que imitam a “violência dos adultos” ou por raparigas que imitam a “violência dos rapazes” é uma ideia interessante, mas, como se sabe, despropositada. Nesse mundo, os jovens eram pacíficos como cordeiros, as crianças um modelo de inocência, e as adolescentes um retrato de anjos que vestem de saias. Infelizmente, a realidade também tem partes de cenas filmadas no YouTube com agressões entre jovens. São muitas.
O Prémio Príncipe das Astúrias atribuído a Leonard Cohen é uma belíssima surpresa. Não apenas pelas suas canções que reconstituem a história da nossa vida dos últimos quarenta anos; também pela sua poesia que o prémio elogia e distingue. Cohen é um “desviado”, um poeta que escreve sobre o afastamento da morte e o amor subtil ou infernal. Há um ano, em Montreal (sua terra natal), no Canadá, visitei a sua casa – fica no coração do bairro português, onde alguns o conheciam como “Sr. Leonardo”, mesmo diante da velha sinagoga hoje convertida em centro português. A sua poesia nasce ali: num largo cheio de árvores, de imigrantes e de estranhos. A sua voz acrescenta-lhe densidade e humanidade, como uma sombra que não nos larga nem deixa de nos preencher. Grande Leonard Cohen.
[Na coluna do Correio da Manhã]
Um dos problemas portugueses é a falta de números credíveis. Alguém avança com as estatísticas da economia, da cultura, da educação – e logo uma voz começa por desmentir a possibilidade de esses números estarem, vá lá, certos. A verdade é que nenhum país consegue estudar-se, definir-se, imaginar-se, sem números que possam desenhar as várias realidades do território, das cidades – da ‘sociedade’. A ONU acaba de distinguir, por isso mesmo, o Pordata, o sítio de estatísticas mantido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, dirigida por António Barreto. É por isso notável que, apesar da existência do Pordata, os portugueses continuem a alimentar ilusões sobre a sua história recente. Os números podem não explicar tudo mas, certamente, ajudam a estabelecer a base de tudo.
[Na coluna do Correio da Manhã]
Seria simples explicar nas escolas – agora que elas estão prestes a fechar para férias – a alegria da música, a sua simplicidade e também a sua leveza. Bastava ouvir-se um pouco de Albinoni, de quem se assinalam, hoje, os 340 anos do seu nascimento em Veneza (1671-1751). Muitas vezes, os seus concertos e sonatas parecem divertimentos permanentes, buscando uma intensidade que nunca atinge. Essa é a sua arte e deve ser vista como uma vantagem. Parte da desvalorização de Tomaso Albinoni deve-se ao célebre Adagio que, afinal, ele não compôs mas lhe foi colado como um adesivo – mas é injusto. Como outros compositores do barroco italiano (como Vivaldi, Tartini ou Corelli), a sua simplicidade é uma iniciação perfeita aos mistérios da música e à sua geometria. Só isso bastaria.
[Na coluna do Correio da Manhã]
Durante três semanas este blog esteve «interrompido». Foi a melhor maneira de me dedicar em exclusivo à campanha em que aceitei participar como candidato do PSD pelo círculo de Bragança. Durante três semanas vivi, com entusiasmo, e na companhia de uma equipa notável, uma experiência extraordinária que não vou esquecer. Essa equipa – sem apoios «profissionais», sem uma máquina «profissional» dotada de meios que os eleitores (e os leitores) conhecem da televisão – foi uma revelação no terreno. Percorri um distrito desertificado e quase abandonado à sua sorte; sem querer transformar esta campanha eleitoral numa epopeia, devo dizer que cheguei ao fim cansado, exausto (fiz toda a campanha com problemas «de mobilidade»), mas convencido de que estava a valer a pena. Por outro lado, durante essas semanas, não quis que este blog fosse «contaminado» por matéria exclusivamente política, que me ocupou todos os dias, a maior parte do tempo.
Regressamos.
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