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Quem se apresenta a jogo com disposição de ganhar, e num pais em estado de negação, capaz de tudo para evitar olhar-se ao espelho, fazer contas, aceitar a realidade, enfrentar os dias difícieis, não pode oferecer-se o luxo de dar tiros no pé. As tropas em silêncio, seria melhor. Protestar baixinho, fazer queixinhas «do mal que nos faz a imprensa» é má estratégia; já se sabia que cada deslize seria sublinhado, ampliado e transformado em grande notícia da temporada. Todas as crises arrastam um coro de tragédia; os seus intérpretes são os cínicos de serviço, que preferem viver com o inimigo a aceitar a responsabilidade de escolher dignamente. O país vive embalado por esse cinismo. Os tiros no pé são um alimento fatal e incendiário.
1. A ideia de que criticar a tolerância de ponto de quinta-feira é oportunismo leva grinaldas a acompanhar. Não fosse o ministro Silva Pereira a avançar com ela, e haveria dúvidas. Um governo que nunca, nunca se distinguiu por qualquer tipo de oportunismo não merecia esta desconfiança.
2. E, de facto, houve sentido de oportunidade no anúncio de tolerância de ponto na quinta-feira. Um país que enfrenta um dos cenários mais negros da sua história recente, sob observação, decreta o quê? Tolerância de ponto.
Sem piadinhas sobre a crucificação, o desaire do «futebol com nota artística», etc., o essencial é o seguinte: estávamos à espera que apagassem a luz e ligassem o sistema de rega, e foi isto – tivemos de comemorar em grande. Muito obrigado.
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