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Pois. Há aí alguns problemas de comunicação, como diz o Dr. Vitalino Canas. É o costume; tudo se resolve com «comunicação». Dá gosto.
Entretanto, sem problemas de comunicação, Medeiros Ferreira, atento aos sinais, dá outros sinais para quem tem medo de encarar as coisas de frente.
Eu sofria bastante de sono ao volante. Depois, com a idade (é o meu argumento preferido), passei a tomar medicamentos contra isto e aquilo e outros para dormir. Das quatro ou cinco horas diárias de sono passei para as oito — e o sono ao volante desapareceu. Deixei de tomar medicamentos e continuei a dormir muito mais. Mas às vezes tenho sono ao volante. Se me encontrarem a dormir numa «área de serviço», completamente indiferente, é porque, dez minutos antes, mais ou menos, senti sono ao volante. Já dormi quinze minutos. Já dormi duas horas. Uma vez dormi seis horas numa «área de serviço» do Oeste (o bucolismo agrícola do Oeste sempre me acalmou os nervos), o meu recorde pessoal numa viagem Porto-Lisboa a meio da noite. Ultimamente, com a idade (é o meu argumento preferido), fico contente quando sinto sono ao volante: é sinal de que vou dormir na próxima área de serviço. Isto é uma coisa, e é pessoal, e é anedótico. Outra, razoavelmente diferente, é o sr. secretário de Estado da Protecção Civil pensar em multar-me por ter sono ao volante. Como fará? Manda-me parar o carro e pergunta-me? Faz um teste de apneia em plena A17 ou A8 (as minhas preferidas)? Apanha-me a dormir e aplica-me a coima? Monta postos de vigilância nas estradas e, se vê uma pálpebra descerrar, preguiçosa, lança um alerta vermelho? Se eu me despisto no meio de uma soneca, manda recolher os pedaços e apresenta uma multa à família? Manda instalar um chip nos volantes portugueses? Tenta alterar as playlists das rádios e substituir o fado pelos hits dos AC/DC («Highway to Hell» à cabeça, mas pode vir «Thunderstruck») e por guitarradas dos Deep Purple? Distribui suplementos de cafeína nas portagens que ainda existem? Instala dispositivos de vigilância do sono nas maravilhosas portagens das antigas Scut? Expliquem-me como isso se fará.
Eu sei que o assunto é de magna importância e não estou a brincar. Simplesmente, eu durmo. Aconselho os sonolentos a ressonar pelas estradas fora, parados na berma, abrigados nos pinhais, encostados nas «áreas de serviço», mesmo sem colete reflector. Mas, caramba, detectar o sono parece-me uma coisa que Orwell era capaz de incluir em 1984. Só tenho elogios para o Estado, só elogios. Um Estado assim é uma coisa boa, a cuidar de nós e a punir malfeitores.
O lugar do Dr. António Sousa Homem, ao centro, vazio.
Lançamento nacional de Um Promontório em Moledo, na noite de ontem,
no bar Pra Lá Caminha, junto da praia de Moledo.
Hoje, em Viana do Castelo, às 21h30, na Biblioteca Municipal.
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