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Há pessoas com uma vasta, enormíssima, devastadora boa-vontade. O problema é que, num artigo de 1,707 caracteres sobre «inovação cultural», são capazes de debitar coisas tão importantes e arrasadoras como
«inovação cultural como factor central de uma sociedade aberta», «aposta numa sociedade aberta participativa», «participação dos cidadãos», «participação activa da sociedade civil», «nova atitude perante a participação individual em sociedade», «aposta na inovação cultural», «importância estratégica que a temática da inovação cultural assume», «lógica colaborativa em rede», «novos factores estratégicos de desenvolvimento», «nova agenda de desenvolvimento», «perspectiva estratégica de aposta num novo modelo de economia sustentável», «lógica de mudança na sociedade portuguesa», «envolvimento dos “actores operacionais” (Estado, universidades, centros I&D, empresas)», «abordagem estruturada das opções», «desafio complexo e transversal», «capital de compromisso colaborativo», «um país da linha da frente em matéria de infra-estruturas de última geração», «economia sustentável centrada no conhecimento e na criatividade» e, finalmente, hossana nas alturas, a «inovação cultural como “enabler” estratégico».
Do texto de 1,707 caracteres citei (retirei as aspas, as vírgulas e uma piadinha) 916; ficaram 791, onde ainda há complementos que bastem. Servindo-no desses 916 caracteres (com boa vontade podemos reduzi-los a 800) qualquer um é capaz de escrever um texto sobre os caminhos de ferro de Benguela, a bolha especulativa, o Dia Internacional do Carteiro, o novo iPad, as empresas municipais de transporte ou os testes de admissão de pessoal não efectivo num banco a operar em Angola. Temos a coisa resolvida e, ao mesmo tempo, a prova de que a vida não está fácil.
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