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Um Promontório em Moledo, 2.

por FJV, em 02.03.11

 

Já nas livrarias, o novo livro

de crónicas do Dr. António Sousa Homem

 

«Descobri sem surpresa, mas rendido às evidências, que a minha sobrinha Maria Luísa já não espreme a pasta dentífrica pelo meio mas pela base, enrolando-a metodicamente. Nunca tendo acreditado em ‘equivalências morais’ mas confiando no rumo da História, isto corresponderia a acreditar que o dr. Afonso Costa ia – às escondidas – beijar o lausperene da Sé de Braga sob olhar embevecido de D. Rodrigo de Moura Teles, que tinha sido arcebispo da arquidiocese duzentos anos antes.
Os Homem de antigamente eram poupados e minuciosos; amparava-os nisto a certeza de que a vida tem um fim e de que o dinheiro de algum lado vem. Desiludindo a Doutora Filomena Mónica, que me julgava um remanescente temporão da fidalguia minhota, os Homem foram sempre muito ciosos das suas economias – não porque passassem por sovinas, mas porque acreditavam na finitude das coisas e nos princípios da economia doméstica mais básica. Por um breve período, a Tia Benedita achou o dr. Salazar uma espécie de vidente quando anunciou que pretendia aplicar esses princípios às contas da Pátria para lhes acabar com o saldo negativo. O velho Doutor Homem, meu pai, tentou explicar-lhe que uma coisa eram os orçamentos do Estado e que outra eram os modos como as famílias educavam os seus filhos, ensinando-os a poupar os lápis e a barrar de manteiga apenas um dos lados do pão. Nesta matéria, o causídico achava que o antigo lente coimbrão não devia entrar na casa dos portugueses para lhes vigiar os defeitos.»

 
Lançamento dia 17 em Moledo; dia 18 em Viana do Castelo.

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África, quem sabe.

por FJV, em 02.03.11

Parece que em Angola estão nervosos por causa da manifestação convocada para dia 7. Comecem a recolher as notícias dos jornais e acompanhem; aqui sim, vai ser um festival — e um bom debate entre economia útil e regime tolerado, entre corrupção a nosso favor e alianças com ditadores corruptos e militares que percebem do negócio. Vai tremer a banca, vão tremer as construtoras, etc. Há o factor China, claro. Mas ainda vamos assistir a um  espectáculo interessante: marechais da banca luso-angolana a pedirem menos democracia e mais desenvolvimento, menos parlapié e mais negócios. Além do mais, eles são africanos, não é? Democracia, direitos humanos, luta contra a pobreza — para quê?

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Ah, já cá faltavam.

por FJV, em 02.03.11

Mario Vargas Llosa é um «reaccionário, inimigo das indústrias culturais e útil a um sistema de dependência cultural na América Latina». Por isso, o convite para participar na Feira do Livro de Buenos Aires, é «uma ofensa à cultura argentina». Leiam e aprendam.

Ver o desenvolvimento aqui.

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Gitanes.

por FJV, em 02.03.11

Lembram-se de Serge Gainsbourg? Morreu há exatamente vinte anos, depois de uma vida cheia de canções, escândalos, álcool, duetos inesquecíveis. A nossa memória está cheia desses encontros. Cantou com Brigitte Bardot, com Deneuve (‘Dieu est un fumeur d’Havanes’) e, naturalmente, com Jane Birkin (ah, ‘Je t’Aime, Moi Non Plus’) – e escreveu para gente tão diferente como France Gall, Gréco, Françoise Hardy ou Petula Clark. Discípulo de Boris Vian para o bem e para o mal, a imagem de Gainsbourg, o notívago decadente, talvez não sobrevivesse aos dias de hoje, mais puritanos e vigiados. Vinte anos depois, o seu rosto vincado e mal barbeado é ainda a lembrança de uma beleza triste, apaixonada, provocadora e adolescente. Esquecê-lo seria um pecado e uma cedência desgraçada.

[Na coluna do Correio da Manhã]

 

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