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Tem razão, Joana. Muito, muito, muito, infinitamente muito melhor do que aquele ser chamado Chakall e que não tem grande intimidade com a cozinha. Sophie Dahl, 34 anos flutuantes, não tem, digamos, o que se sabe que tinha Nigella Lawson, fantásticos e suculentos 51, embora ser neta de Roald Dahl ajude. Mas é um bálsamo, confesso — embora a 10 pontos da Lawson. Teria (enfim, teria) muitas dúvidas sobre esta truta recheada ou sobre esta omelette (e sobre muitas outras coisas, basta ver como se desfaz de um dente de alho), mas mesmo assim é (sempre) melhor do que Chakall, mesmo que não olhe a câmara de frente, o que seria uma coisa muito interessante, se me faço entender.
E para quem tem saudades, é ir aqui. Há coisas que são como são.
Só isto dava um romance.
No meio de umas semanas distraídas, nem houve tempo para mostrar a bela capa de um belo livro, o de Luis Naves. O Pedro Mexia disse o que havia a dizer na sessão de lançamento, e o João Villalobos disse o que havia a dizer num post de primeira. Antes disso, no entanto, o Luís Naves escreveu o que havia a escrever — o livro prova-o.
Para que serve uma moção de censura? Para censurar, repreender, vituperar (eu gosto muito do dicionário dos fenianos e do da Tertúlia Edípica), improperar, pelejar, advertir, increpar, mas também condenar, desaprovar, satirizar, prasmar, açoitar, caluniar, admoestar, acusar, abocanhar ou, vá lá, verberar, reverberar e zagunchar. Tudo coisas que cabem na cabeça de um filólogo e que emprestam alguma graça à cabeça de um parlamentar. Por isso, uma semanas depois das presidenciais em que o Bloco apoiava Manuel Alegre, que era apoiado pelo PS, esta moção de censura é uma espécie de despedida ao candidato presidencial, agora que ele ja não serve. Pobre Manuel Alegre que, se já só servia para lançar a Cavaco, agora nem para memória tem utilidade. Também pode ser vista (a moção) como um acto de contrição: apoiámos «o candidato do PS» mas calma lá, aqui está a prova de que não apoiamos «o partido do candidato que apoiámos». Claríssimo; é uma moção para consumo interno, para satisfazer o eleitorado mais duro do Bloco, que teria ficado chocado com este andar de braço dado com o inimigo. Compreende-se. Louçã (com o seu apuradíssimo sentido sobre a utilidade das moções de censura), aliás, advertiu logo do que se tratava — era uma moção contra o governo mas também contra o PSD, a direita, o PCP (necessariamente), a couve roxa, o regresso da filoxera, os pepinos em conserva, os filmes de Zefirelli, Moubarak, a pesca do atum, a política económica, Júlia Pinheiro e Hannah Montana. Era, portanto, uma espécie de expiação pública, como disse José Manuel Pureza, à maneira de um professor de Coimbra: «esta moção em concreto, com aquilo que ela vai ser do ponto de vista da análise que leva a esta censura, tornaremos muito claro, e quero dizê-lo sem qualquer equívoco» (juro que foi isto, estou a citar). Traduzir-se-ia desta forma: nós apresentamos uma moção de censura contra o governo (para ver se ele cai, quem sabe) mas não esperamos nem queremos que seja aprovada (porque não queremos que o governo caia); não liguem: é uma coisa entre nós, para reequilibrar os nossos complexos de culpa — ou seja, censuramos o governo mas ficamos lixados se a direita e o PCP nos apoiarem. No fundo, apresentamos a moção só para vejam que somos de esquerda. É ao de leve, compreendam. Nós íamos lá fazer uma coisas dessas ao governo. Aliás, um dos nossos objectivos é, «em concreto, com aquilo que ela vai ser do ponto de vista da análise que leva a esta censura, tornaremos muito claro, e quero dizê-lo sem qualquer equívoco» (fiquei com esta frase), impedir outras moções de censura que tenham como finalidade, digamos, censurar o governo. Quem é amigo, quem é?
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