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Manuel Alegre anunciou ao país, com discutível sinceridade, que a reeleição de Cavaco «pode abrir caminho não apenas para uma mudança de Governo ou da maioria, mas também para uma mudança da democracia»: Ou seja, «a democracia deixará de ser a mesma». Esta ameaça (tenham medo, tenham muito medo) foi repetida até à exaustão durante a última campanha presidencial, agitada sobretudo no campo soarista, com o resultado que se conhece. Algumas almas entediadas com a coisa chegaram a falar no «regresso ao fascismo» e Augusto Santos Silva, num acesso de astenia cerebral, mencionou que essa eleição configuraria «um golpe de estado constitucional», «uma tragédia». A cantilena repete-se, mas nunca se esperava que o intérprete desse guião medíocre e entediante fosse Manuel Alegre.
Cumpriram-se ontem 50 anos sobre a morte de Dashiell Hammett. Para quem leu O Falcão de Malta (adaptado ao cinema por John Huston, Relíquia Macabra, com Humphrey Bogart e Mary Astor), A Chave de Vidro ou Estranha Maldição, todos publicados na histórica coleção Vampiro, é evidente que Hammett está no pódio da «literatura policial». Sam Spade, o seu herói, é um personagem que não nos larga daí em diante; as suas descrições secas, melancólicas, revelam o coração de um grande escritor e de um temperamento solitário. Depois de Hammett, como depois de Chandler, o policial nunca mais foi inocente ou «divertido». Wim Wenders realizou um Hammett inspirado na sua vida (a partir de um romance de Joe Gores), belíssimo. Reler Dashiell Hammett é uma homenagem inspirada.
[Na coluna do Correio da Manhã]
Em Espanha há uma ministra imbecil que pretende, à semelhança do boneco de plástico que chefia o governo, “mudar o país”. Leire Pajín, a jovem ministra da Saúde, Política Social e Igualdade, acha que o Estado pode e deve meter-se em todos os domínios da vida civil – proibindo as pessoas da fumar, mas também punindo-as se elas ‘insultam’ (chamar ‘feio’ a outra pessoa pode valer uma multa de 500 mil euros), ou se ‘discriminam’ alguém – por exemplo, perguntar a uma rapariga ‘se tem namorado’ é punível; deve perguntar-se-lhe se tem ‘uma pessoa’. Para isso, vigiará escolas (para que as crianças não tenham brincadeiras ‘sexualmente discriminatórias’), imprensa, ruas e instituições, de látego na mão, mostrando às pessoas como se devem comportar. Os palermas estão no poder.
[Na coluna do Correio da Manhã]
Aqui, ali, respirando, vendo árvores, fazendo balanços;
resistindo, olhando para lá da janela, arrumando gavetas;
felizmente há médicos que ajudam com poesia.
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