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Resumos de ano.

por FJV, em 11.01.11

 

Parece que, “nesta quadra”, os portugueses gastaram tanto dinheiro como no ano passado. A récita desses números (os do consumo natalício) faz parte do retrato de uma família de novos-ricos que não sabem que são novos-pobres. O consumo estapafúrdio é um hábito incivilizado, pouco inteligente, alimentado pelo desejo de ostentação ou – então – pela fuga à penúria. Não é muito contraditório. O novo-riquismo imoderado revela as sombras de uma sociedade em crise, insatisfeita, perdulária e injusta, que desconhece coisas essenciais: contentar-se com pouco, poupar para viagens futuras, contemplar o crepúsculo ou o amanhecer, ler um livro, jantar em casa com amigos, colecionar plantas. Hábitos. Monotonias. Simplicidade. Talvez um dia os portugueses possam ser felizes de novo.

 

Começar de novo. Começar desde o princípio, começar como se não houvesse nada antes e houvesse tudo depois. A fantasia de um “ano totalmente novo” ameaça-nos todos os anos mas faz pouco por nós. Como será o ano de 2011? A ameaça da economia pode ser dilacerante, mas merecemo-la; é um ano de grandes escolhas, mas também na cultura, na política, na vida das pessoas reais. São dores de crescimento. As grandes mudanças que a Europa fez durante décadas, no pós-guerra, foram aceleradas em Portugal – sem treino nem recuo. A fatura é cruel mas pode ser decisiva, porque nos obrigará a confrontar as nossas possibilidades com os nossos desejos. Irá obrigar-nos a voltar para dentro, para uma vida mais modesta, onde o preço das ilusões terá de ser pago. É cruel? É. Mas é a vida.

[Na coluna do Correio da Manhã]

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