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Romance da Praia de Moledo
Canto da hora do banho
ó mar contente, tão frio
que o verde das ondas é neve
fazes meu corpo tão leve,
no ar, vazio!
meus seios, cabelos, tudo é brando!
na mão do mar talhado cerce
vou, como se a um velho comando
desobedecesse!
e raia de leve um sol macio
que ainda não amadurou
frio
de manhã forte e silente
as minhas mãos nem são de gente
são formas de água, de neve
sobre o maillot
Mário Cesariny, Manual de Prestigiditação
Excessiva dependência do Estado, resignação, enganar os cidadãos, consumo ostentatório. Os ingredientes.
Os pedidos de esclarecimento de algumas vozes do PS sobre as contas bancárias do Presidente da República na SLN não esquecem a estratégia que foi usada contra Francisco Sá Carneiro em 1979. Quem andou lá nunca esquece. Mas agora há um problema acrescido: o jogo tem riscos muito elevados. Explicações sobre contas bancárias e negócios são coisa em que o PS pode vir a ter de especializar-se nos tempos mais próximos.
Ontem, à mesa de almoço de Natal aqui em casa, a bem de conversa, contei da entrevista que de manhã lera com um «alálogo» (imagino que não se deva dizer «teólogo» para um muçulmano) em que ele procurava desculpar o tratamento da mulher entre os islâmicos. Que era preciso compreendermos o contexto cultural em que surgiu a religião islâmica pois as mulheres eram tratadas como animais. Tem sido enorme o progresso. e que nós ocidentais não nos armássemos em convencidos porque as diferenças não são assim tão grandes. As mulheres no Ocidente ainda estão bem longe de serem iguais aos homens, de ocupar lugares de relevo ao nível dos que eles ocupam.O Duarte, sempre rápido nos seus comentários irónicos:
— Tem toda a razão! Ainda há dias numa reunião na nossa empresa, uma mulher começou a dizer umas coisas de que discordávamos e foi imediatamente apedrejada. Resultou em cheio, pois calou-se logo.
E, no entanto, há sempre quem agite números, cite estatísticas, fale de como estão animadoras as previsões. É um retrato de fim de época. As derradeiras moedas para uma temporada de ilusão.
Alguma coisa anda a falhar no sistema de comunicação mais profissional, quase perfeito, do país. Perorar desta maneira não estava nos planos. Erro de sujeito, pedicado e complemento directo.
Posts com títulos inteligíveis (IUGUIYFH98664KLJG BVIUY, ou WMNBOPFR098230928PLI:) são sempre um alento. Este último vai direitinho ao coração da hipocrisia.
Ide. Correi, inscrevei-vos — o mundo não acabou e há quem se lembre de que isto faz falta. Ide.
Nestes dias consulto este grupo de fotógrafos. E este blog que, ainda por cima, trata — no seu último post — do goivo duriense.
José Medeiros Ferreira com dois posts imprescindíveis: Os Estados Ciberdependentes e PISA e Pigmaliões.
Espera-se que, desta vez (ao contrário do que aconteceu no Ruanda), a ONU não ceda — e permaneça na Costa do Marfim, pelo menos até à cada vez mais improvável data da tomada de posse de Alassane Dramane Ouattara. Para quem se recorda de outros cenários africanos, o ambiente é semelhante, com gangs preparados para o combate, vindos da Libéria e de Angola para apoiar a formação de um novo Zimbabwe.
Ora aí está uma pergunta importante. Francisco Mendes da Silva, com todas as cautelas (sobretudo no penúltimo parágrafo), num texto muito importante, publicado no Público e agora recuperado pelo Henrique.
Pode ser simbólico (e por isso mesmo), pode não ter importância (cá está), mas a existência – no preâmbulo da Constituição – a obrigatoriedade de irmos para o socialismo é uma das razões que me leva a apoiar a revisão da Constituição. Falar de revisão constitucional e ter medo de rever o que, nela, não tem sentido, é ridículo. Melhor estar quieto.
300 mil pessoas, entre os 15 e os 30 anos, não trabalham – nem estudam. É o que diz um estudo do Instituto Nacional de Estatística. Resposta do Rui Rocha.
Acabo de saber, agora, às dez e pouco da noite. Estivemos juntos na semana passada, num debate que ele próprio organizou — para o programa «Assim Acontece» — sobre as políticas da cultura. Para além da biografia, CPC foi uma época da televisão e uma época da cultura na televisão. Tivemos desencontros, como toda a gente; mas, como já aqui referi um dia, não posso esquecer que, quando fui despedido da televisão, CPC me telefonou no dia seguinte a oferecer-me trabalho. Manda a gratidão que não me esqueça, mesmo não tendo aceite. O Acontece (dez anos de antena) foi o seu emblema durante anos; correspondeu a uma época e a uma forma de noticiar «a cultura», mas existia em bom horário e foi importante. Morreu minutos antes de gravar um programa para a RTP Memória; um ataque cardíaco. O coração que nos falha a todos.
De facto. Gente enjoativa que quer salvar o mundo. Têm soluções para tudo: o consumo excessivo de água e as florestas do Peru, o sistema rodoviário e o sexo em decadência. Já não têm nenhuma marca da generosidade antiga, aquela que vem de desejar uma solução, várias soluções, um caminho diante do abismo. O que importa é apresentarem-se como seres superiores que mostram aos outros que, na verdade, eles sim, são misantropos, misóginos, perfeitos, capazes de tudo. Uns merdas.
Os meus dois cépticos da ordem escrevem sobre o Wikileaks e eu respondo-lhes:
John Le Carré, isso mesmo. Leiam John Le Carré. Em O Venerável Espião, George Smiley vê-se a braços com a destruição de todo o sistema de espionagem britânico, depois de Haydon e Ann terem sucumbido e de, cada um à sua maneira, o terem traído. De um dia para o outro, fontes, circuitos de informação, telegramas secretos, nomes de espiões – tudo é posto a nu pelos soviéticos e, por isso, é necessário “começar de novo”. Na época não existia Wikileaks. Ao longo do tempo, Smiley vai reconstruindo o sistema, recuperando os seus agentes, restabelecendo as suas fronteiras. E, nos outros livros, Le Carré (mesmo no mais recente), conta histórias wikileaks. Isto há-de parecer-vos teoria da conspiração a mais, mas imaginem, por um instante, que nos dias de hoje convinha “começar de novo” todo o sistema de informações. Nada melhor do que destruir a honorabilidade e os segredos que até então estavam aparentemente guardados a sete chaves, mas que eram relativamente pecaminosos (nada de grave acontece realmente nos EUA, mas nos aliados europeus vão caindo pássaros aqui e ali, os árabes vão levando e apanhando, alguns estados-párias são denunciados, brincadeiras de cocktail de fim-de-tarde são denunciados para gozo dos que acham que a grande política é sobretudo a grande blague). Aí está uma forma muito inteligente de “começar de novo” e com a alegria colaborante do “inimigo”. Nada que não se aprenda nos livros de espionagem.
(adaptado da crónica do Correio da Manhã)
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