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Providence, Rhode Island, ainda o esplendor de Outono nas margens da Nova Inglaterra. Fotografia de Onésimo Teotónio de Almeida, esta semana.
O José Medeiros Ferreira propõe, com ironia, uma Liga dos Amigos da Irlanda. É bem preciso. Portugal tem um salário mínimo de €475 enquanto a Irlanda anda pelos €1,460 (o da Grécia é mais alto que o nosso em €200) e mesmo que desça 12%, enfim. O dumping fiscal na UE já não é novo na Irlanda; nos anos oitenta a Irlanda era conhecida por acolher escritores de todo o mundo e de os isentar de muitas taxas, desde que utilizassem bancos irlandeses. O turismo literário (uma espécie de indústria de eventos...) foi então muito lucrativo, até chegar ao ponto de o Dublin Writers Museum ter registado, caso único no mundo, um superavit nas suas receitas em 1990. Em 1991, quando Dublin foi a capital europeia da cultura, os investimentos na cidade não atingiram os níveis felizardos e mãos largas de Lisboa, Porto e Guimarães, e a sua capacidade de atracção foi bem mais superior; nessa altura, ironia das ironias, o programa de «Um dia com o Ulysses de James Joyce» esteve esgotado durante dois meses nas agências de viagem.
Se nas escolas portuguesas se estudasse música, seriam amanhã assinalados os 360 anos que nos separam da morte de Frei Manuel Cardoso (1566-1650), um talento extraordinário na história da nossa cultura. A sua missa de Requiem (há duas versões a reter, a da Schola Cantorum de Oxford, e a dos Tallis Scholars – alem de um conjunto de obras polifónicas pelo Ars Nova Ensemble) é um relâmpago que ilumina todo o século XVII, na companhia, por exemplo, das obras de Duarte Lobo, outro mestre da época. Manuel Cardoso é o derradeiro profeta de uma melancolia conservadora e anti-europeia que depois conheceria o brilho do barroco e do maneirismo posteriores (que marcariam Carlos Seixas); mas é sobretudo um altíssimo nome português que a ignorância atual maltrata. Ouçamo-lo um pouco.
Muitos dos que agora choramingam «que a Europa não funciona», «que há um défice democrático na Europa», «que os países periféricos não têm poder nenhum», «que é o próprio sistema que está mal construído» — são os mesmos que, há menos de um ano, ainda achavam uma inutilidade que os povos europeus aprovassem os tratados, vigiassem «as instituições», votassem referendos e tivessem opinião.
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