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Santiago. Torrente Ballester.

por FJV, em 16.11.10

1. Em Fragmentos do Apocalipse, os anarquistas querem dinamitar a catedral. São generosos, como de costume — e, como homens decentes e honestos, avisam o arcebispo, com quem jogam mus todas as noites e que lhes serve chá de camomila. Gonzalo Torrente Ballester imagina o diálogo: «Ah, senhor arcebispo, o senhor compreenda, somos anarquistas...» «Com certeza, é o vosso trabalho...» «Claro. Temos de dinamitar a catedral.» Cada um no seu mister. Cada vez que se falava nos Fragmentos, D. Gonzalo, temeroso, explicava que «isso não era nada», tudo «o que quis dizer» estava em Saga/Fuga de JB. Mas eu gosto da leveza paródica dos Fragmentos. Imagino o quadro, o daquela reunião de homens locais (o historiador, o padre, o advogado, o professor, o jornalista...) que recebe Pierre Mathieu, um francês que quer estudar a planta da catedral; um dia Mathieu desaparece com a planta, os desenhos, as notas, tudo — deixando uma carta: o seu nome é Matteo, o nome do arquitecto a quem Fernando II (de Leão) encarregara de terminar a azarada construção da catedral. Incapaz de dar com a tarefa, Matteo viaja no tempo (até ao século XX) para ver como ficara construída, e regressa a 1168 a fim de concluir o trabalho e representar-se a si mesmo no portal — e fugir de uma história em que entram o Prof. Moriartry, os vikings que invadem a Galiza, os cavaleiros templários, uma dama sensual, uma estátua de Filipe II que caminhava pelas ruas de Santiago (chamada Villasanta de la Estrella no romance) mendigando cigarros e contando anedotas impróprias. Só em Santiago, como em Berlim, poderia aparecer o «Maestro Cuyas Huellas se Pierden en la Niebla», o seu personagem de Quizá nos lleve el viento al infinito.

 

2. Poderia falar de outros livros, inclusive de Saga/Fuga, uma espécie de Ulysses pessoal de Ballester, ou de Tristram Shandy. Mas de cada vez que visito a Galiza lembro as páginas de Filomeno (Filomeno a mí pesar). Hoje, pela estrada de Santiago, torturei abundantemente o Samuel Rego, que procurava desviar-se dos bancos de nevoeiro enquanto eu recitava as aventuras de Filomeno Freijomil, o cavalheiro galego que passa por Madrid, Paris ou Londres para regressar sempre a Villavieja del Oro e envelhecer no velho solar português, contemplando o litoral, a copa dos pinheiros e as vidas que tinha falhado ou, apenas, deixado passar.

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Vilagarcia, Villagarcia.

por FJV, em 16.11.10

Conversa sobre literatura em Vilagarcía de Arousa, agora que ainda se fala da festa dos cogomelos. Aprende-se muito sobre Portugal, «o país das Scuts». Os meus interlocutores sabem tanto de Pascoaes e Pessoa (bastante) como dos regulamentos sobre as Scuts. Já não vão apanhar o avião ao Porto, nem ao restaurante de Fão.

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