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A capa chegou agora e junta-se à das outras traduções italianas. Gosto bastante, gosto – mesmo – muito. Obrigado, Lorenzo; obrigado, Giorgio; obrigado Serena; obrigado Paola.
(E obrigado a Mirella Appiotti, que no La Stampa me chamou «il Montalban portoghese» – acho um elogio tremendo.)
«[…] pergunta a televisão a gerontes surdos se lhes agradaria a vida fora daqui; aparecem uns jipes de mirones citadinos a fotografar isto aquilo e acham "muito típicos" os casebres arruinados, a fonte velha, as pedras do lagar, aquele castanheiro.
«Estes são os melhores anos de Portugal. Não temos ilusões e está tudo por fazer. Nada esperamos da Europa, das obras públicas ou da canalha que nos prometeu o céu.»
Luís M. Jorge, no Vida Breve
«Somos todos iguais – eis o que se descobre nos autocarros – um igualitarismo rodoviário, co-financiado pelo Estado, não vale a pena simular enjoos perante o que se ouve, a pornografia da alma é uma grande conquista das nossas sociedades, todos nus e de mãos dadas num reality-show ininterrupto.»
Bruno Vieira do Amaral, no A Douta Ignorância
«Os departamentos criativos encheram-se de quadros médios e de filisteus pomposos (o que há na pompa para estar sempre associada à pobreza?). De um dia para o outro substituimos as campanhas por uma bosta inerme e esverdeada a que chamamos acções, ou conteúdos. De maneira que não consigo afastar esta sensação de falhanço. Hoje em dia trabalharia nas obras, se trabalhar nas obras rendesse, vamos lá, dois mil limpos por mês. Ou, melhor ainda, ia para a marinha mercante. Imagino-me com uma cana de pesca na popa de um petroleiro, a cofiar a barba e a morder o cachimbo, a caminho de Singapura ou da Malásia.
Nas profissões manuais, a percentagem de imbecis é muito inferior à média dos serviços. O bulshit é ontológico, libertador — dizem-se coisas estapafúrdias sobre a vida e as mulheres, mas leva-se o trabalho a sério. Nos serviços, não. Qualquer labrego imprestável nos dá secas sobre a performance, o ROI e a excelência.»
Luís M. Jorge, no Vida Breve
Este governo multiplicou o número de institutos públicos, transformando grande parte deles em albergues para ‘boys’ de estimação. Aproveitando o Orçamento de 2011, tratou agora de acabar com alguns, misturando tudo para que não se entendesse a aldrabice. A Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas, herdeira do Instituto Português do Livro dos tempos de Teresa Gouveia (foi então o motor da rede de leitura pública e da única política do livro consistente que até agora tivemos), é uma delas – integrada na Biblioteca Nacional. Primeiro, os políticos retiraram poder, dinheiro e funções à DGLB; depois, tornaram-na inútil – o livro não tem a ver com a política do espetáculo ou com o parlapié dos burocratas, de efeito mais fácil, que é o que lhes interessa verdadeiramente.
[Na coluna do Correio da Manhã]
Um dos grandes prodígios da política é o uso que se faz de certas palavras ou expressões. Por exemplo, ‘Estado Social’. O governo gosta muito dela e o primeiro-ministro usa-a sempre que pode, porque é uma bela síntese e serve para vários fins. Ora, se há coisa que põe em causa o ‘Estado Social’, é o novo orçamento – é estranho que o primeiro-ministro tenha ontem defendido exatamente o contrário: que é o garante do ‘Estado Social’. Aí está outro grande prodígio. Por exemplo: o primeiro-ministro diz que esta ou aquela medida “são de esquerda” porque ele decide que é assim, não porque haja alguma correspondência com o real. A realidade, aliás, é um limite aos desejos de José Sócrates, e um empecilho diante dos seus projetos. Por isso usa as palavras como lhe apetece.
[Na coluna do Correio da Manhã]
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