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Frankfurt continua a ser o que gostaria de ser – uma reunião de gente que trabalha com livros. Continuo, passado 25 anos de ter vindo pela primeira vez, a avisar, «Frankfurt não tem nada a ver com literatura»; passados 25 anos, as mesmas pessoas a que se acrescentam muitas outras, continuam a perguntar o que há aqui de novo em literatura. Nada. Frankfurt não tem nada a ver com literatura embora, durante algum tempo, alguns autores achassem que «deviam vir à feira». Para fazer o quê? Passearem-se entre 12 quilómetros de livros? Algumas estrelas, sim, vêm — e falam, e têm a ideia de que são ouvidos na abertura das cerimónias oficiais, porque são transcritos no Frankfurter Allgemeine, no Rundschau, no Herald Tribune ou no El Pais. Mas o resto é uma conspiração que é estranha à literatura, à sua solenidade ou «marginalidade». Eu gosto dessa conspiração. Conheço conspiradores desses há 25 anos — agentes de autores latino-americanos, editores de livros sobre chocolate ou linhas de caminhos-de-ferro, especialistas em literaturas do Báltico, negociantes de papel escandinavo, os últimos crentes e adoradores da literatura policial que te contam uma história passada entre duas cidades indianas e uma passagem estreita para o Paquistão, os russos que vêm e se embebedam a partir das onze da manhã, os turcos, os abkhazes que vêm às escondidas, os islandeses (eu gosto dos islandeses), os brasileiros que gastam todo o dinheiro que têm e que não têm e ficam nos melhores hotéis e se apresentam como milionários, os espanhóis que violam todas as leis (comem presunto, bebem vinho, fumam às escondidas, riem alto), os ingleses que gaguejam, os americanos que se dividem em vinte ou trinta grupos (os pálidos, os republicanos, os que escapam, os que olham para um livro e dizem quantos exemplares vai vender e sabem que se enganam frequentemente, os que encolhem os ombros a toda e qualquer novidade, os que gostavam de «ser europeus», os que gostavam de «ser espanhóis», os que são americanos, os democratas, os enjoados, os super-enjoados, os que «não parecem» americanos, etc.). São os conspiradores de Frankfurt, os que ainda vêm e acreditam nesta coisa, um livro. Um livro, qualquer que ele seja. [cont]
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