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Jorge Jesus diz que o Benfica foi superior ao Schalke-04 até aos 73 minutos. Azar: só os 17 minutos finais é que contavam.
Evidentemente que estas medidas se tornaram necessárias, mas não são as melhores, nem são as mais indicadas. Politicamente, este primeiro-ministro, este ministro das Finanças e este governo são os mesmos que sempre negaram a sua necessidade e que adoptaram outras em sentido contrário (das SCUTS à subida de impostos, do aumento dos salários da função pública à manipulação dos números do desemprego e do crescimento). Encostada à parede desde os idos de Maio (quando o primeiro-ministro foi pessoalmente – e duramente, na fronteira da humilhação – confrontado em Bruxelas com o descalabro das contas e com a necessidade de mudar o rumo), esta gente trabalhou apenas no sentido de manter o poder, de preparar a temporada política e de verificar a inevitabilidade deste pacote, mas negando-o sempre, mentindo sempre que pôde a propósito do défice e do orçamento, balbuciando sobre o Estado social, as obras (pois que todas seriam lucrativas, como asseguravam as suas trombetas) e o investimento públicos. Quem não os conheça que os compre.
«O povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre.»
António de Almeida Santos
Presidente do Partido Socialista.
Na sequência da comunicação do Sporting sobre o dress code de Alvalade, eis como seria descrita uma tarde de domingo naquele sumptuoso estádio:
Sua Excelência, adornado nas vestes presidenciais, voltou-se então para o Duque, que ostentava na lapela a Comenda da Conceição: «Reparou, senhor duque, naquela bela passagem que o Sr. Carriço efectuou na direcção do Sr. Saleiro?» «Brilhante, Sr. Presidente, lembrou-me uma jogada idêntica do Sr. Hilário, em Junho de 1972. Não houve outra igual.» Só então repararam, ao mesmo tempo, que o Sr. Visconde da Graça estava sentado atrás deles, brilhando como uma camélia escarlate na tribuna, de casaca e crachat, grã-cruz sobre o colete branco, de binóculo a tiracolo, tremeluzindo de casimiras e tules. Toda a tribuna, aliás, resplandecia. Sua Excelência, que tinha recebido no telefone móvel (que logo escondera, envergonhado) uma chamada do Sr. Costinha, notara, mais abaixo, a presença da Sra. Viscondessa de Melo, nédia e branca, com o corpete negro reluzente de vidrilhos, de costas voltadas para o relvado, esperando que a primeira parte do jogo terminasse naquele empate de sportsmen educados, contra a equipa da Figueira da Foz, a Naval. O presidente da Naval aceitara as normas de vestuário do Sporting, e estava sentado, recostado na poltrona, de grande chapéu panamá, calça listrada de cheviote, o mantelete da filha no braço, o guarda-sol entre os joelhos, embora revelasse o jaquetão de veludo coçado nas entretelas. O Dr. Rogério Alves, de casaca e colete branco, limpando um resto de espuma do bock, bateu com a mão na coxa, queixando-se de um fora-de-jogo mal assinalado pelo Sr. Olegário Benquerença: «Irra!» E até o Dr. Dias Ferreira, de de grande colarinho à francesa, sobre uma jaqueta de botões amarelos, ameaçava requerimentos, contra-ordenações, queixas, o diabo, contra «esta terra de vagabundos». O Sr. Olegário Benquerença, no relvado, luzidio de suor e enfiado na sua fardeta azul de botões da regra, apitava enfim para o intervalo. O Sr. Conde de Tomar, arfando, protestava, mostrando um botão de rosa no peito da sobrecasaca muito justa e batendo no chão atapetado de Arraiolos com os seus sapatos de verniz que resplandeciam sobre as polainas de linho. O Sporting prometia. Foi quando um criado, de libré e calça listrada de vermelhos, enfiado num enorme colete branco, reteso de goma, anunciou que estavam servidos os canapés. Ouviu-se então um rumor de saias amarrotadas, senhoras que se levantavam para beber o seu capilé, as suas groselhas, enquanto – de olhar lânguido, mas severo, preocupado – Sua Excelência, com o paletó todo abotoado, com a gola engomada, quase escondendo a gravata verde, murmurava ao telefone para o Sr. Costinha: «Ah, meu preclaro director, imagine que eu vi por aqui um cavalheiro de paletó sem jaqueta por baixo, com a calça repuxada a deixar ver as peúgas. Que vergonha, que vergonha. Queira proceder. Mande a guarda, mande a guarda!»
O reaccionário está de volta. Eu. Associo-me ao redesenho da pátria apresentado pelo Filipe N.V., e em breve evocarei o embarque do Principe, em Sines, a caminho de Génova e do exílio. Mas notícias como esta são «interessantes»: a CP já não encomenda mais comboios novos e arranjou maneira de avariar o concurso internacional. O PEC e o Ministério das Finanças encarragaram-se do assunto. A aquisição de «novo material circulante» é uma inevitabilidade, mas recomendo aos senhores leitores que apreciem o modo como parte dele é deixado ao abandono, de portas e (alguns) janelas escancaradas nos arrabaldes das grandes estações. Carruagens que não são lavadas, nem por dentro nem por fora; casas de banho que não são desinfectadas nos prazos regulamentares; pó, lixo e óleo acumulados e nunca removidos das composições — o que fazer senão comprar «novo material circulante»? Volto aos países nórdicos (não me venham com estatísticas...): carruagens de outrora continuam com o aquecimento a funcionar ao fim de dezenas de anos, assentos cómodos continuam a oferecer os seus préstimos, carruagens são vistas a receber mangueiradas estrepitosas nos terminais, viajantes pouco cientes são repreendidos em tempo, etc. O que se passa connosco? O país suja os nossos comboios, ou os nossos comboios estão sujos porque não são limpos e a pátria acrescenta-lhes mais lixo em função do desleixo? Às vezes penso que não me importava de oferecer um limpa-vidros, uma esponja, coisas práticas.
Bilhetes falsos para o concerto de uma banda que outrora foi conhecida como U2. Confere.
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