Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Luís Naves é uma das pessoas que melhor conhece a Mittleuropa. Leiam o texto que começa por aí mesmo.
Ao Miguel e ao Afonso (ena, Afonso, e logo a Ínsua, logo um dos vértices do meu polígono estratégico).
Eu, por acaso, tenho dúvidas. Há, evidentemente, um aspecto importante: o da intromissão do Estado na esfera da vida familiar, retirando as crianças à «tutela» dos pais, uma medida extrema que os pedagogos do Estado gostam sempre de exibir para anunciar o seu poder e o seu alto discernimento. Acontece que essa «tutela» é exercida sobre crianças, que não são parte igual numa relação familar. Ao verificar-se uma situação de maus tratos, as autoridades têm o dever de intervir; o fomento da obesidade pode ser considerado mau trato. Os modernos pedagogos do Estado apreciam muito matérias como educação alimentar ou sexual – mas gostava de vê-los actuar em situações de fome real, violência e abandono. Basta, para isso, ir às escolas nos arredores de Lisboa e Porto, onde é fácil fazer o recenseamento de crianças sem pequeno-almoço e almoço, ou com pais que não existem, pura e simplesmente (vestem a mesma roupa ao longo da semana, não fazem os trabalhos de casa, estão doentes sem saber, ou estão doentes mas não são tratados, por ignorância ou desleixo familiar). A obesidade assusta; é feia; é uma doença social; esteticamente pode ser repulsiva. Parte do trabalho podia, em muitos casos, ser feito na escola (mais uma tarefa dos professores — alguns já a cumprem sem serem «enquadrados» pelas autoridades). Mas há aqui outro problema, o da licença de uso e porte de criança e o da adolescentização progressiva de alguns pais. Tenho dúvidas sobre isso.
O jornalista do Público, Hugo Daniel Sousa, conclui e bem: «Falta agora saber se, com o técnico suspenso por este período, a direcção da Federação Portuguesa de Futebol avançará para uma rescisão do contrato de prestação de serviços do técnico, alegando que ele não tem condições para se manter no cargo.» Uma pessoa dá por si a apoiar Queiroz, só pela forma como este processo decorre.
Ou seja: o homem é castigado com um mês de suspensão; a Adop (Autoridade Antidopagem de Portugal, um organismo governamental) não concorda com o castigo; por isso, avoca o processo; julga-o à porta fechada; e castiga o réu como entende. As coisas têm de funcionar assim? Quem julga a Adop?
Sobre o novo disco dos Arcade Fire. Isso mesmo.
Escrevi aqui, ontem, sobre umas declarações de André Villas-Boas acerca da saída de Raul Meireles para o Liverpool. Acusei Villas-Boas de cometer um erro de paralaxe (um eufemismo) por ter afirmado que «o FC Porto tem melhores soluções para o meio-campo do que Raul Meireles». Estas coisas devem analisar-se à lupa, evidentemente, mas há aqui uma maltrapilhice ou do Público ou da Agência Lusa. A primeira reacção foi achar estranhas as declarações de Villas-Boas; a passagem de Meireles para o Liverpool, muito embora «equilibre as contas do Fc Porto», não devia ser tratada com essa ligeireza e desprendimento — trata-se de uma grande memória do clube, tal como Domingos, ou Jorge Costa, Deco, Bruno Alves, Lucho, Lisandro, etc.
Hoje, um amigo (benfiquista) alerta-me para o erro de composição (do Público ou da Lusa, resta saber) dessa frase que Villas-Boas, afinal, nunca pronunciou nem deu a sugerir. Villas-Boas afirmou que o FC Porto tem «soluções tão importantes e tão decisivas como o Raul», mas não «tanto ou mais decisivas que o Raul» como vem escrito no despacho. Estão aqui as declarações, com som (também aqui).
P.S. - Curiosamente, o site da Rádio Renascença transcreve um texto semelhante ao da Lusa, embora publique o vídeo onde Villas-Boas não diz o que o texto diz que ele disse.
Não era apenas jazz. Charlie Parker, ‘Bird’, não era apenas jazz – e teria festejado ontem 90 anos (se não fosse a morte prematura aos 34, em Nova Iorque). Apesar da vida breve, desregrada e trágica, Charlie é, ainda, o mestre sobre todos os mestres – o som do saxofone nunca mais foi o mesmo depois de tocar ‘Ornithology’ ou de reunir Max Roach, Miles Davis e Dizzy Gillespie para tocar ‘Billie’s Bounce’, em 1945. Há quem mencione Parker como a viragem do jazz, a fronteira entre o jazz como elemento decorativo e maior intensidade na interpretação e composição. Talvez seja injusto para os músicos anteriores, mas sem ‘Bird’ o jazz não seria o que hoje é ou o que foi até hoje. Ninguém sabe o que ele tocaria com 80 anos, mas seria decerto muito bom.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Há uma semana. E hoje
Andei uma semana a defender Roberto (aqui e n’ A Bola); escolhê-lo como bode expiatório foi uma boa estratégia, conveniente para distraídos e optimistas históricos que nunca aceitariam beliscar a honra perdida do «maior do mundo». Em 22 minutos, Roberto transformou-se em herói e já não é candidato a herói de um novo 1.º de Dezembro. Calma, rapazes, calma. Uma coisa é proceder ao fuzilamento sumário do rapaz (para fazer esquecer o trambolho operado por Jesus); outra, é exumar os seus restos mortais para o transformar em bentinho. Salvo seja.
André Villas-Boas cometeu o chamado erro de paralaxe. Desvalorizar Raul Meireles não é a mesma coisa que valorizar o actual plantel do FC Porto. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O problema é a distância do observador; Villas-Boas não devia menosprezar os que acham Raul Meireles um jogador que faz parte do seu FC Porto. Gostava que mantivesse essa distância.
Agnósticos, ou indiferentes, que eu conheço e que escrevem nos jornais — refiro-me a pessoas que se podem citar numa discussão, num debate —, têm cuidado com o que dizem. Alguns com tom de respeito. Não é coisa tão criticável, esse respeito, porque se trata de religião, uma nuvem que paira sobre os dicionários, o léxico, a gramática, os usos de linguagem. Não criticar a religião, criticar o que se faz em seu nome — é o mandamento número um. Assim, «ninguém» pode criticar o Islão, mas «o que se faz em seu nome», como se «o que se faz em seu nome» não tivesse a ver com o Islão. Admito que há um certo bom-senso na escolha, porque o problema, mesmo, é a confusão entre religião e política. O Islão e a política dão-se mal. Também se dão mal o cristianismo e o judaísmo, apesar de tudo, não fosse a possibilidade do laicismo. Um regime comandado pelos ortodoxos de Mea-Shearim, mesmo que tenha os Neturei Karta como um agrupamento folclórico, só se recomendava a certas pessoas e, mesmo essas, nem as que dançam em êxtase em nome de Baal Shem Tov. O messianismo republicano dos EUA não faz bem à saúde e o catolicismo irlandês tanto serve A Filha de Ryan e os bandoleiros do noroeste, como os loucos que encontraram a redenção depois do pecado (os piores). Quanto mais longe da urna de voto, melhor. A religião devia ser uma diáspora permanente (tefutzah). Talvez assim se tratassem fenómenos aparentemente religiosos como homicídio, tortura, violação, crueldade — e não houvesse desculpas. Por exemplo, a lapidação é a lapidação — não tem a ver com nenhuma tradição (religiosa) aceitável.
O Origem das Espécies assinala hoje o seu 5.º aniversário. Nada mau.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.