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Hoje, pouca gente sabe o que é um marco geodésico, para que serve e como se calcula a sua posição exata. Dizemos “milhares de quilómetros” e admitimos que a medida está certa. No século XVII havia dificuldades e Jean Picard resolveu-as a partir de cálculos que ainda hoje nos fazem inveja. Foi assim que chegou aos 6.328,9 quilómetros, o raio terrestre (valor corrigido hoje em 0,44%). Daí em diante, as nossas medições e cálculos foram mais fáceis, meridiano a meridiano, até conseguir uma fiabilidade assombrosa para a cartografia. Além dos trabalhos como astrónomo (uma cratera lunar tem o seu nome), interessou-se pela luz, pela fosforescência dos materiais ou pela ascensão dos objetos celestes. Nasceu há 390 anos, que se assinalam hoje. Picard era um talento poético.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Manuel Alegre considera que o Presidente «não pode deixar de emitir uma opinião» sobre a proposta de revisão constitucional. Manuel Alegre também não pode deixar de emitir uma opinião sobre a realização de touradas, a flexibilidade laboral, a retroatividade fiscal, o verso livre, o aumento de impostos, os resultados dos exames de Matemática, o aumento de insolvências de empresas, Rui Pedro Soares, os limites à pesca de atum, o financiamento ilegal do BPP ou a absolvição de Valentim Loureiro.
Independentemente de saber se é «eleitoralmente útil», «politicamente oportuna», se aborrece ou não os senhores professores e outros co-proprietários, se aquilo que sabemos do projecto é ou não questionável, a proposta de revisão constitucional do PSD acordou o velho regime em peso e coletivamente, de António Arnaut a Alberto João Jardim. Tem, além disso, o mérito de levar o secretário-geral do PS a convocar uma reunião do partido para discutir artigos publicados em jornais. Os parceiros do ancien régime, de Alberto João Jardim a António Arnaut, atropelam-se para denunciar um golpe de Estado, o que é normal nestas circunstâncias (o dr. Vital Moreira já tinha anunciado há anos que a eleição de Cavaco Silva seria também uma ameaça de golpe de Estado constitucional). É estranho, aliás, que o PS proteste contra a «destruição do Estado socialista» e não proteste, em coerência, com uma boa parte das medidas que tomou nos últimos anos. Mas entende-se: não interessa que a Constituição seja respeitada ou respeitável; interessa é que ela decreta, por escrito, o «Estado socialista», independentemente de ser adequada ou não. É o velho espírito das coisas desejáveis transformadas em lei. De repente, uma plataforma de «exigentes constitucionalistas» a que não conhecíamos nem a habilidade nem a disponibilidade, achou que vinha aí o apocalipse.
E, no entanto, é tudo tão simples e razoável: o secretário-geral do PS não quer saber de Constituição nenhuma, e, intimamente, não quer saber para nada do «Estado socialista» que o texto decreta, porque a Constituição, como está, é uma velharia ideológica que resultou do PREC. Como Tomás Vasques explica, com uma clareza mais do que meridiana, e de forma clarividente, o que está em causa é apenas isto: o confronto «permite ao PS um novo fôlego na próxima campanha eleitoral». Mais nada.
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