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Pobre homem.

por FJV, em 26.06.10

Pobre homem, Camões. De arauto das glórias do Império a vate do imperialismo e do colonialismo, foi um salto. Já se gostou dele por isso; já se gostou dele (na historiografia de esquerda, por exemplo) por causa do episódio do Velho do Restelo; já se gostou dele por causa do Império e por causa do fim do Império, passando de símbolo das glórias nacionais a sinaleiro da derrota de Alcácer-Quibir. Mas a leitura de Camões é sempre um problema; ele é um dos poetas mais politicamente incorrectos da nossa literatura – glorificava os heróis que matavam com gosto e em nome da pátria, uns matreiros que violavam, ensandeciam, bebiam e procuravam mulheres para se recompensarem a si mesmos depois das viagens atribuladas. Antes da vulgata do islamismo contemporâneo, Camões já imaginava o paraíso como uma reunião de mulheres que aguardavam – numa ilha para lá do mar – os marinheiros portugueses, e à cabeça estavam os que tinham combatido com mais aplicação. Camões na política, então, é uma trapalhada. Escolhem-se uns versos, eliminam-se outros. Com Pessoa é a mesma coisa. Políticos e jornalistas que não sabem distinguir um soneto de uma décima brincam com os que não sabem quantos cantos tem Os Lusíadas e quantas estrofes tem o IX Canto. Pobre homem. Pobres aproveitadores.

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«Eu gosto dos políticos que gostam de Camões.»

por FJV, em 26.06.10

José Sócrates em Arcos de Valdevez: «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões.» Está certo, mas não é uma garantia. Há mesmo alguns problemas. Seria bom, neste caso, relembrar — ao longo da história portuguesa do século XIX — os políticos que não gostavam de Camões (que, em termos «patrióticos», foi uma invenção liberal contra a Regeneração e, depois, repescada na rua pelos republicanos). Mas seria ainda melhor enumerar os políticos que gostavam de Camões ao longo do século XX. A lógica (e nem precisa de ser malévola) é assim: «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Salazar gostava de Camões. Logo, eu gosto de Salazar.» Também significa que: «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Manuel Alegre gosta de Camões. Logo, eu gosto de Manuel Alegre.» Ou «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Vasco Graça Moura gosta de Camões. Logo, eu gosto de Vasco Graça Moura.» Por maioria de razões, Vasco Graça Moura estudou e publicou muito sobre Camões. Claro que a trapalhada vai até ao infinito. «Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Isso não quer dizer que eu goste de Camões. Se eu não gostar de Camões, não gosto de mim. Mas eu quero gostar de mim, logo tenho de gostar de Camões.»

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Autocrítica.

por FJV, em 26.06.10

Soares tem alguma razão; mas é uma autocrítica. Por exemplo, recordando as «presidências abertas» do seu segundo mandato como presidente.

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