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Surripiar, locupletar-se.

por FJV, em 06.05.10

O deputado Ricardo Rodrigues, muito popular ultimamente (até pelo tom de voz), não quis responder às perguntas dos jornalistas da Sábado; estava no seu direito. Já aqui defendi o direito ao silêncio e a não ser entrevistado. A novidade é que, à socapa, surripiou (nas suas palavras, "tomou posse") ou locupletou-se com os gravadores dos jornalistas, que apresentaram queixa por roubo. O deputado justifica-se com a "violência psicológica insuportável" que teria sido exercida sobre ele (umas perguntas). Argumento sério. Deve ter sido por isso que apareceu a invocá-lo numa conferência, acompanhado de dois dirigentes do partido. Pelo sim, pelo não, desta vez os jornalistas agarraram bem nos gravadores. Pudera.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

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Vermelho Estaline

por FJV, em 06.05.10

Pelo blogue de José Milhazes fiquei a saber que as tintas Robbialac propõem no seu catálogo o ‘vermelho Estaline’. Fui ver e lá está, ao lado do ‘vermelho baton’, do ‘vermelho paixão’ e do ‘vermelho fogo’ – o ‘vermelho Estaline’, ao lado do ‘vermelho Rússia’, que está muito próximo do ‘púrpura Vaticano’. É mais do que uma inovação: é alta poesia destinada a famílias esquerdistas, um mercado ideológico que merece atenção. Não sei se a marca de tintas criará o ‘verde Pinochet’, o ‘vermelho Khmer’, o ‘verdete Mao’ ou o ‘castanho Mussolini’ ao lado do ‘vermelho Guevara’, mas a coisa pode pegar. Um dia alguém vai pedir a cor preferida de Hitler, que deve ser o cinzento, a mesma de Kim Il-Sung ou dos generais romenos. Não diremos que vamos pintar uma casa; estaremos a manchá-la.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

 

De Lisete Mata, responsável do departamento de Marketing da Robbialac, recebi o seguinte email:

«No seguimento do seu artigo de opinião sobre a Robbialac, publicado hoje no Correio da Manhã, a Robbialac vem esclarecer que nunca foi sua intenção ofender as vítimas do Estalinismo.

Nessa medida e para que não restem quaisquer dúvidas, a Robbialac decidiu eliminar a designação "vermelho Estaline" e "vermelho Rússia" dos catálogos em que as mesmas vêm mencionadas.

A Robbialac está presente no mercado nacional há 79 anos, tendo sempre mantido uma postura de escrupuloso respeito pelos seus consumidores e colaboradores.»

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A vingança.

por FJV, em 06.05.10

A realidade ultrapassa a ficção, como conta o CM na sua edição de ontem: uma jovem mulher saiu nua, para a via pública, em perseguição de um amigo que se recusara a “praticar sexo” com ela. Ele garantiu à PSP que “eram só amigos” e que “já lhe tinha frisado isso”, mas as coisas são como são. Martin Amis fala do assunto no seu novo romance A Viúva Grávida, mas também Tom Wolfe já o abordara e, em farsa, os livros de Tom Sharpe têm sempre uma dama devoradora que persegue um homem atemorizado. Os antigos caçadores tornaram-se presas – o que é apenas um capítulo da revolução cultural em curso. A ordem do mundo altera-se e não é caso para escândalo nem lamento. Muitos anos de romances, cinema e ícones pop libertaram o sexo e transformaram-no numa compulsão. É a vingança.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

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Cunha Leal.

por FJV, em 06.05.10

Há personagens de romance que entram pela política e a marcam em definitivo. O tempo escolhe as melhores personagens, e uma delas é Francisco da Cunha Leal (1888-1970), este sábado homenageado no Fundão. Figura de destaque da oposição ao salazarismo, o seu trajeto político vem da I República, que viveu intensamente, com entusiasmo, coragem e contradições – como a época exigia, aliás. A meio do século XX, viu antes dos outros a necessidade de antecipar mudanças que, depois foram trágicas (a economia e as colónias, por exemplo). A imprensa vibrava quando se anunciava um discurso de Cunha Leal; como político, distinguir-se-ia dos de hoje – pela voz. E por não ter medo de provocar escândalo entre os dogmas bem comportados da esquerda ou da direita. Coisa rara. Ave rara, ele.

[Na coluna do Correio da Manhã.]

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