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Sinceramente, acho bem. Se as relações entre Sócrates e Louçã o permitem, por que não um «manso é a tua tia»? As pessoas lá sabem.
(A ilha de Vestmannæyjar e o Vatnajökull)
Em 1984 estive diante de Vestmannæyjar, a pequena ilha do sul da Islândia; há poucos anos toda a população tinha sido transferida para a ilha-mãe, para os arredores de Vík e numa zona não muito distante de Eyjafjallajokull, o glaciar onde agora se deu a erupção. A estrada segue, depois, para Kirkjubaeklaustur, que eu relembro especialmente por causa das árvores, as poucas que havia na Islândia, tirando um pequeno bosque desirmanado que há para os lado de Husavík. Espantou-me a naturalidade com que os habitantes de Vestmannæyjar encaravam a retirada a que tinham sido obrigados, de uma hora para a outra, deixando uma parte da sua vida atrás. Mesmo os passeios que os islandeses faziam em redor do lago Myvatn (uma concentração absurda de pseudo-crateras) me pareciam também corajosos — com isso defrontavam o Vatna, o maior dos glaciares, mas sobretudo o Krafla, em «erupção controlada», e onde se podia subir de bicicleta. Depois, li O Sino da Islândia, de Halldór Laxness, provavelmente a saga europeia que mais me impressionou, a história de um bibliotecário islandês, «clandestino» na Dinamarca — que era a proprietária da ilha — e que parte pela Islândia para encontrar os fragmentos desaparecidos da Edda em verso, os poemas fixados no século XIII. Depois de ter traduzido (com Ana Cristina Lourenço) o Hávamál, uma espécie de «poemas ou quadros da sabedoria islandesa» (que fazem parte da Edda poética) compreendi também o tom daquela tranquilidade diante do perigo, um certo gosto pela mediocridade aprendido depois das derrotas dos heróis antigos. O conformismo diante dos acidentes da natureza, se quiserem; a contemplação da grandeza, a visão da luz.
(Kirkjubaeklaustur, a costa de Höfn e a estrada em redor do lago Myvatn)
O João Caetano Dias ficou estupefacto com isto. Não precisas. As tiradas do italiano e do argentino são notáveis. Ditosa pátria que tais inteligências abriga.
O meu primeiro trabalho no estrangeiro, como jornalista, foi na Alemanha, em 1983 – para acompanhar o julgamento de Konrad Kujau, acusado de forjar uns falsos diários de Hitler. Esforço notável: mesmo condenado em tribunal, é preciso dizer que os 61 cadernos volumosos e totalmente escritos por Kujau reconstituíam a história do nazismo e a biografia do facínora, um monumento historiográfico. A National Gallery de Londres vai agora organizar uma exposição dedicada às grandes falsificações na pintura europeia; há verdadeiras obras-primas no catálogo, e algumas sem dúvida mereciam melhor sorte. O estudo da falsificação é útil para percebermos a política. Por exemplo: o futebol de Figo era verdadeiro e genial. Já o seu apoio a Sócrates deve ser avaliado por um especialista.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Entre as horas de trabalho, eis um preâmbulo ao Literatura em Viagem, que decorre de hoje a terça-feira — um passeio de almoço. Estarão cá autores como Hubert Haddad (Palestina), J. Rentes de Carvalho (Ernestina e Com os Holandeses) Mohamed Berrada, Lourenço Mutarelli (A Arte de Produzir Efeito sem Causa) Arthur Dapieve (De Cada Amor Tu Herdarás só o Cinismo e Black Music) Mónica Marques (Transa Atlântica), Élmer Mendoza (Balas de Prata), Mempo Girardinelli (Final de Romance na Patagónia), Javier Reverte (Deus, o Diabo e a Aventura) e outros.
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