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O Eurobarómetro é uma fonte de surpresas para os distraídos. Desta vez, as estatísticas europeias dizem que 64 por cento dos portugueses nunca pratica desporto algum. Os gregos são mais preguiçosos do que nós: 67 por cento recusa mexer-se. Os italianos e os búlgaros, também mediterrânicos, está quieto. Pelo contrário, os países do norte da Europa (Suécia, Finlândia e Dinamarca) são os mais ativos – atribuo a coisa ao frio, que exige movimento e, ao mesmo tempo, fortalece as carnes. No sul, somos indecentes, preguiçosos, contemplativos, bebedores, contamos mais anedotas, temos barriguinha e inventamos desculpas por causa do clima. Os burocratas da UE chamam a isto “falta de atividade física” e devem ter alguma razão. Devíamos mudar um nadinha. Só para não os desiludir.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Carlos Gardel, «El día que me quieras»
Carlos Gardel, «Volver»
Carlos Gardel, «Mí Buenos Aires querido»
Gotan Project, «Una musica brutal»
Gotan, «Santa María (del Buen Ayre)»
Anuncia-se que os Gotan Project vêm a Portugal em Maio, o que não é grande novidade exceto para mim. Esquecendo a mania de a banda cair na tentação de fazer propaganda & interpretação política (uma coisa que estava na moda, para imitar o betinho maltrapilho Manu Chao), é preciso dizer que os Gotan reinventaram a saúde do tango – em versão eletrónica. Em Buenos Aires são muito pouco conhecidos, mas na Europa conseguiram pôr meio mundo a dançar ao som do bandoneon e de uma voz feminina rouca, tremenda, preguiçosa, o que já é meritório. Entre outros, Tomás Eloy Martínez escreveu um romance sobre o tango; Vázquez Montalbán lançou, provavelmente, o mais romântico dos olhares sobre Buenos Aires por um amante europeu dessa música que desperta a poeira do céu de Buenos Aires. O tango é uma canção dramática, de taberna, de beco, entre homem e mulher, entre amor e morte – de navalha e sangue, como escrevia Borges, que detestava o tom demasiado chorão; convertido à eletrónica, é pura música de dança, pura tentação. Perde um pouco da sua nobreza e do caráter chulo e tradicional, mas ganha uma força bruta («una musica brutal», como se diz num dos temas dos Gotan) que não se pode desprezar.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Ontem, quinta-feira, iniciou-se o «êxodo» do fim de semana da Páscoa, traduzido numas ligeiras «férias de Primavera». No entanto, poucos relacionarão a palavra «Páscoa» com o Êxodo bíblico, onde tem origem, correspondendo à libertação do povo judeu do Egito e à sua peregrinação pelo deserto. Cristo celebrava esta Páscoa («Pessach», do hebraico – passagem); o cristianismo encontrou na sua morte outro significado, sacrificial e penitente, mas concluído com a alegoria da ressurreição. Seja como for, nem uma nem outra narrativa são festejadas pela maioria dos que gozam as «férias de Primavera», a que ainda acrescentam a dimensão comercial dos ovos de chocolate. Infelizmente, ao libertar-se da religião, a sociedade «libertou-se» também da sua dimensão histórica. Ficou mais pobre.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Este ano, a Páscoa (Pessach) decorre de 26 de Março a 6 de Abril (15 a 22 de Nissan, ano 5770).
Sinceramente, a perder sem espinhas e, depois, dar a volta e ganhar — que desilusão. Bah. Acabei de rasgar o cartão de sócio do Liv'pool.
P.S. - Parabéns, ó lampiões de estimação.
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