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Uma pessoa marca lugar na cervejaria do costume, em Alvalade, e senta-se já com o 1-0 marcado por um coxo chamado Bendtner. Com isto, as chamuças já vêm frias. Imperial atrás de imperial, golo atrás de golo. Imperdível, até eu e o Rui pedirmos a garrafa de Bushmills (minto: as garrafas, cada um a sua). Como o Nuno André Coelho não é trinco mas foi posto a trinco, tem de vir fazer o serviço dos centrais, dois bolbos traumatizados que têm dificuldade em mover-se, cada um deles responsável por seu golo. Ficamos sem trinco e continuamos sem centrais (no jogo com o Sporting, os centrais também estavam com fungos nas chuteiras). Há então um simpático cavalheiro de Torres Vedras que me pergunta, enquanto me relembra o FCPorto-Torreense no carnaval de 1999: «E qual o melhor lugar do Hulk?» Respondo como de costume: «No banco. Pelo menos durante 60 minutos e depois logo se vê.» Ali está ele, Hulk, uma espécie de halterofilista estrábico do Barco do Amor, a arrastar-se no convés, correndo atrás de um cozinheiro anão. O Micael está em baixo, ao nível de uma couve roxa cilindrada. Jesualdo acena que não, move o pescoço (um dia apanhará os tiques do Izmailov, com a desvantagem de não marcar golos). Falcao fez-me levantar duas vezes, menos de metade das vezes que Fucile me fez fechar os olhos, que só abri porque Helton estava entre os postes, e olha lá.
No fim (o fim, mesmo, foi a entrada de Guarín, o barbeiro exilado, e de Mariano, o empregado de mesa do Tortoni — e vocês perguntam «e quem querias tu que entrasse?», e eu digo «queria que entrasse o Cubillas, e talvez o Quaresma, e até o André, ou o Alenichev, ou em desespero o Emerson, com o Drulovic na esquerda, para não ir mais longe»), mas no fim, ia eu a dizer, parece que Jesualdo falou com ar de catedrático em sabática, como se tivesse sido desconsiderado pelo Arsenal. A televisão estava sem som mas deu para perceber que não apresentou a demissão porque um homem é um homem é um homem, nem — como os antigos — se atirou ao chão a rasgar o anoraque. Recebi uma mensagem a dizer «puta que os pariu», era o que me apetecia dizer e percebo, pelos rodapés da SporTV, que o Micael-couve-roxa e o Meireles-alface-Batávia falam de não sei quê e levantar a cabeça, e assim, dar a volta por cima. Mas eu acho que daí até ao fim ainda vamos dar a volta por baixo. Isto lembra-me qualquer coisa. Não estou desanimado, longe disso, mas isto lembra-me qualquer coisa. Razão tinha o outro, «que ganhe o pior», mas nem assim.
Continuam os trabalhos da Comissão Bimby. Não tarda nada, teremos D. Afonso II, o Gordo, a prestar declarações sobre as maldades que fez ao Papa Honório III. Desta vez, está na berlinda um visconde. É bem feito. Cá se fazem, cá se pagam.
Nascido há cem anos (cumprem-se hoje, 9), Samuel Barber é um nome pouco conhecido, mas, mesmo assim, merece que recordemos a efeméride. Um nome a mais não destrói o cérebro. Recordo a sua música em dias de chuva – em tempos comecei um livro com uma das suas composições, o notável e popular adágio do seu Quarteto n.º 1 para orquestra de cordas (1938). Se é verdade que Barber é considerado um dos grandes representantes da música e da ópera americanas, o facto não deve afastar-nos do essencial: a sua obra é de uma melancolia absorvente e definitiva, na contramão dos “fabulosos anos trinta e quarenta” – uma profecia sobre o abismo, uma melodia incessante e impossível de esquecer. Vantagens dos tempos modernos: podem ir ao You Tube e escutar o Adágio de Samuel Barber.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Eu não acredito no PEC. Mas acho graça aos que tanto defendiam o contrário deste PEC antes das eleições e que agora aplaudem, de quatro, a redução do investimento público, o corte nos benefícios sociais, a diminuição nas deduções, o programa de privatizações, tudo. Assim é fácil ganhar eleições e apresentar orçamentos.
Trabalhos dos últimos tempos: Susan Sontag, A Doença como Metáfora / A Sida e as Suas Metáforas; Tom Hodkinson & Dan Kieran, O Livro dos Prazeres Inúteis; José Luís Peixoto, Nenhum Olhar (nova edição); Lourenço Mutarelli, A Arte de Produzir Efeito sem Causa. Sem desprimor para nenhum dos outros, os interessados em literatura brasileira que não percam Mutarelli.
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