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Jay Jay Johanson, «So Tell The Girls I Am Back In Town»
Gostei daquele esbracejar do Dr. Costa, na SIC-Noticias. Aprendeu bem. É um verdadeiro steward, ou lá o que é. Ou um sindicalista dos stewards. Dos stuardes.
Hoje confinados ao extremo ocidental, é natural que recordemos as “partes do Império”. Há autores que vão escrevendo sobre as suas (ou dos outros) memórias de Angola e Moçambique, por exemplo. O timorense Luís Cardoso trouxe-nos a sua ‘visão ultramarina’. Cabo Verde tem a sua literatura há muito, e os portugueses não têm memórias coloniais do arquipélago. Raquel Ochoa, em A Casa-Comboio (Gradiva), recria a presença dos portugueses na Índia (Nagar-Aveli, Diu, Damão, Goa) durante 450 anos, através de uma história familiar e comovente. Para primeiro romance é muito bom – e convinha que os seus leitores se dessem conta de que têm nas mãos um documento excepcional que recupera para a nossa literatura um mapa que, desde o salazarismo, tem sido ignorado e maltratado.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Bruno Vieira do Amaral, Rui Passos Rocha e Tiago Moreira Ramalho estão unidos pelo emblema («douta ignorância»). A ver se a raiz vem de Sócrates ou de Nicolau de Cusa.
Várias almas se têm dedicado a tratar o tema ‘a violência no desporto’. Algumas delas estão no paraíso das chamadas ‘instituições do desporto’, o que é um erro clamoroso – devia ser caso para chamar juristas e polícias, além de professores de boas maneiras. Os juristas enumerariam as leis que já existem, os polícias tratariam de fazer aplicá-las e de reter os prevaricadores – e os professores de boas maneiras (que não abundam) exerceriam o seu mister junto dos, assim chamados, jogadores cujo comportamento merece reparo. Os estádios, que são um espaço público, deviam ser lugares onde as pessoas não corressem o risco de serem assaltadas por esses energúmenos. Uma coisa é jogar e ver jogar à bola, o que se aceita; outra, totalmente diferente, é estar à mercê da bandidagem.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Volta a falar-se da privatização da RTP. Periodicamente, o assunto regressa e toda a gente sabe que não se avançará muito na discussão porque, tal como estão as coisas, interessa a todos os partidos manter um módico de controle sobre a informação da televisão pública. O problema não é esse. A questão está em ver se a RTP (supõe-se que seja a RTP1) oferece alguma coisa substancialmente diferente do que oferecem os outros canais – e se a sua (eventual) qualidade for uma marca distintiva. Não me parece, se bem que haja arremedos. Nesse sentido, a privatização da RTP faz sentido. O que o ministro das Finanças diz é outra coisa: primeiro põe-se a RTP com as contas em dia à conta do orçamento do Estado; depois, sim, vende-se. Exatamente ao contrário do que é preciso fazer.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Neste domingo serão assinalados os 200 anos do nascimento de Alexandre Herculano. Para uma ou duas gerações de portugueses, o nome de Herculano estará sempre ligado a Eurico, o Presbítero, lido nas escolas e escondido nas estantes. É pena. Alexandre Herculano foi um dos mais importantes pensadores portugueses, um cético em matéria política, um talento extraordinário como historiador. A sua obra e a sua mensagem nunca foram muito populares – e o retiro de Vale de Lobos, onde se recolheu, acaba por ser uma imagem recorrente dos desiludidos da política e dos homens. A vida portuguesa repete os falhanços e as falsas esperanças de há dois séculos e, por isso, convém estudar o século XIX e a obra de Herculano. Mudámos muito desde então, mas a sensação de catástrofe mantém-se.
[Na coluna do Correio da Manhã.]
Daqui a um ano convinha sabermos o que se ganhou, na escola propriamente dita, com o programa Magalhães e os e-escola e e-escolinha, nomes que, pronunciados numa comissão parlamentar de inquérito, devem soar bem, devem.
O excesso de zelo do Eduardo levou-o a cometer uma injustiça. Acontece. Foi reparada aqui, com frontalidade, o que é raro na blogosfera, mas habitual no Eduardo. É claro que Aristides de Sousa Mendes teve estados de alma e fez o que fez. A questão em que Carrilho esteve envolvido não se lhe compara; mas serve para definir o que são o carácter e a dignidade intelectual do ex-ministro diante de uma decisão tão errada como a do governo português. Concordo com o Eduardo nisto: se Carrilho tivesse votado contra a orientação do governo português não lhe restaria outra solução se não apresentar a demissão, ou ser demitido, expondo a grave perversão da decisão portuguesa.
Um pequeno reparo ao post de Eduardo: o cavalheiro egípcio não se fez notar apenas por «posições anti-semitas»: ameaçou queimar livros da biblioteca de Alexandria, desempenhou o papel de censor, mandou prender e foi cúmplice em detenções arbitrárias; enfim, mais do que distinguir-se por «posições anti-semitas». Não se sabe que compromissos teria o governo português com o Egipto ou a «linha da frente», mas um currículo destes para um cargo da Unesco parece excessivo. Mesmo sem estados de alma. E, sim, Eduardo, é legítimo que festejemos a derrota da posição defendida pelo governo português.
Recuso-me a justificar os maus resultados do FC Porto nesta fase do campeonato com as decisões e as manigâncias do CD da Liga de Futebol. São coisas independentes – mas com «canais de comunicação». Toda a gente percebe que o CD da Liga está onde está para cumprir o serviço e servir de palco a um cavalheiro que gosta de aparecer nos telejornais para mostrar que é ele que manda. Infelizmente, é ele quem manda. Verificou-se que é uma péssima escolha para um orgão com essa responsabilidade e essa relevância. É um fundibulário de pacotilha e um ironista de terceira ordem; e se isso não bastar, fica dito que, com aqueles gestos de pantomineiro, as suas decisões se assemelham a uma palhaçada.
Hermínio Loureiro demitiu-se da presidência da Liga. Fez bem. No entanto, ao justificar-se com o acórdão do Conselho de Justiça da FPF, acaba por reconhecer que um dos objectivos da sua presidência era a aplicação dos castigos ao FC Porto e aos seus jogadores. Acreditávamos que havia um princípio de «independência de poderes» e que as decisões do Conselho de Disciplina e Ricardo Costa não estavam incluídas no plano de trabalho da presidência da Liga; puro engano. Loureiro confirma por este meio que uma desautorização a Ricardo Costa e ao CD é uma desautorização à sua presidência. Sendo assim, estamos para lá do bem e do mal.
O hooligan está a dar voltas à cabeça, preparando o plantel do próximo ano. Primeira lista de dispensas: Tomás Costa, Valeri (não sei que te diga, Diego Hernán), Guarín (Ruben Micael já fez mais assistências do que o colombiano e só entrou a meio da época), Ernesto Farías (uma incógnita, vou esperar pelo jogo de logo à noite), Jorge Fucile, Mariano González (18 jogos, 1 golo, 13 remates, creio que 93 passes falhados), Bruno Alves (a vida é assim mesmo ou vais ter de ir ao tratamento) – e Hulk (eis um avançado que em 12 jogos, antes de ser suspenso, rematou 27 vezes e marcou 2 golos, um de penálti; o nome verdadeiro, Givanildo, também não ajuda), em podendo. Rolando marcou dois golos e dois auto-golos, é uma incógnita — mas, para um defesa de origem caboverdiana ter sofrido maior número de faltas do que as que cometeu, é um marco. Está em aberto, está em aberto.
Tenho a impressão que, durante o jogo, a jogada de maior perigo contra o Benfica foi aquele remate de Kardec contra a própria baliza.
A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —
Manuel António Pina
Parece que alguém anda a exigir a demissão de Manuel Maria Carrilho de embaixador de Portugal junto da Unesco por se ter recusado a votar — conforme as altíssimas indicações do governo — num cretino anti-semita e pirómano que queimava livros, para um alto cargo dessa instituição. Estejam atentos.
Vampire Weekend, «Cape Cod Kwassa Kwassa»
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