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Luís Filipe Cristóvão inaugurou uma série de crónicas sobre «futebolistas imaginários»; nesta, trata da vida e feitos de Hwang Po, que nasceu em Wonsan, na República Popular da Coreia do Norte, em 1945 — e se fixou em Halifax (jogou no famoso Halifax Town), onde ficou conhecido como Mr. Poe, um grande cronista desportivo.
O PS, afinal já não vai avançar com esta proposta legislativa.
Mas ficam os textos, mesmo assim.
1. Sinceramente, não compreendo a admiração de muitos comentadores, surpreendidos porque o PS quer publicar na internet os rendimentos brutos de todos os contribuintes. Segundo o DN, trata-se de uma informação realmente bruta, «sem o imposto final pago, sem as despesas reembolsáveis (despesas de saúde, educação, etc.), mas com o rendimento bruto anual declarado». E, «evidentemente, a identificação do contribuinte».Trata-se de uma iniciativa coerente com o que o PS tem defendido. É, digamos, mais um problema que fica solucionado. Por lei, como de costume. Em Portugal, a patetice e as leis são baratinhas.
2. Como se dizia aqui, isto não devia surpreender-nos. O cartão único é uma maravilha da informática do Estado, uma vez que quem não deve não teme; os chips nas matrículas dos automóveis ajudam a colocar o país na senda do progresso, já que quem não deve não teme; a inversão do ónus da prova é um princípio jurídico a incentivar porque não deve não teme; que o Estado disponha dos nossos dados fiscais, médicos, literários, políticos, genéticos, etc., e os use no interesse do próprio Estado, é um avanço notável na galáxia do progresso, dado que quem não deve não teme.
3. Não temam, não. Um dia seremos problemas a serem solucionados. Com acesso aos dados em bruto, que maravilha para vizinhos com gosto pela calhandrice, para padrecas e estalinezinhos, para processos de divórcio e famílias «transparentes», para a chantagem política e a canalhice, para a malandragem e para os invejosos — está aqui a sua pátria. Legislem, mesmo contra a Constituição, a vida dos cidadãos e o bom-senso. Avante.
Adenda: só agora tive acesso às declarações do deputado Strecht Ribeiro («Jorge Strecht Ribeiro, Afonso Candal e Mota Andrade, defendem que sejam tornados públicos os rendimentos, mas não o imposto final pago nem as despesas reembolsáveis.»), para quem a medida tem um efeito pedagógico (a lei «levanta [o sigilo fiscal] o suficiente para que cada um de nós possa ter consciência que a comunidade nos olha»). Afinal, a ideia é mesmo a de que cada um saiba que está a ser vigiado pelo vizinho, que procederá as denúncias da ordem. Tudo segundo o manual. Esta mania de nos ensinar boas maneiras a toda a hora tem consequências dramáticas no estilo e na gramática: «Parece-nos razoável que, sendo nós um imenso condomínio de 10 milhões, cada um de nós saiba a permilagem de cada um dos outros para sabermos se há um efectivo contributo que corresponda àquilo que é o bocado que temos neste imenso latifúndio.» Esta ideia de que somos um condomínio de dez milhões é, senão verdadeiramente peregrina, pelo menos desenhada à imagem da classe parvenue na política; um condomínio, estão a ver?
«Cálculos efectuados pelo JN estimam que uma subida de um ponto percentual resultaria num encaixe adicional de 400 milhões de euros ou 200 milhões se a medida for tomada a meio do ano.»
Por exemplo: os custos totais dos pareceres jurídicos externos são, ou não, superiores a esse «encaixe»?
Desde quando é que um jornal se coloca do lado do governo contra os cidadãos, falando de «encaixe» em vez de «cobrança»?
Extractos de uma entrevista à Sábado.
Muito diferente. […] Quando as minhas filhas namoravam, dizia-lhes: «Façam o favor de ir para a cama com os namorados, ninguém deve casar-se sem ir para a cama com um homem. Porque se as coisas correm mal na cama, é meio caminho andado para o casamento ficar estragado.»
Gostava muito da Rosa Lobato de Faria (1932-2010). Entrevistei-a algumas vezes (numa delas quase chorando em estúdio, com a evocação de J. Figueiredo de Magalhães, o seu marido e editor que fundou a Ulisseia), como escritora (a de O Prenúncio das Águas ou O Pranto de Lúcifer), e admirava o esforço profissional e a inocência que marcavam os seus livros. Eram também características dela: inocência, profissionalismo, dedicação às coisas. Um bom-humor invejável e, certamente, invejado. Gostava da Rosa – e do seu riso, da sua inaptidão para a seriedade absoluta, convencional e postiça. Esse rosto perfeito que passou pelo cinema, pela televisão e pela literatura sempre me comoveu. Aparentemente ingénua, aparentemente «superficial», Rosa conhecia a sabedoria das mulheres de família e tentou escrever sobre esse mundo. À sua maneira, fê-lo com raríssimo entusiasmo. Aos 77 anos, por isso, este é um adeus inconformado.
[Na coluna do Correio da Manhã]
1. Ontem (que foi o Dia Mundial das Zonas Húmidas) foram cinco. No domingo foram quatro. Tenho pena que tivessem sido o Sporting e o Nacional. Mesmo assim, aguardo explicações: Mariano González, o empregado de mesa do Tortoni, era aquele, ou puseram um clone saído de um túnel de aceleração de partículas?
2. O SLB é a equipa dos túneis. É onde mais gosta de ganhar.
3. Jesualdo tem razão: «Os jogadores do Sp. Braga que foram agora castigados, estiveram a jogar durante dois meses. Os do F.C. Porto não podem dar o seu contributo à equipa.» O túnel dos lampiões merece atenção especial.
4. Mas o ritmo do CD da Liga (a conhecida justiça do Costa) é muito desigual e depende do combustível. Por exemplo: esta semana, o FC Porto foi multado por um comunicado emitido em 2008. Tivesse alguém lido o comunicado no túnel, e outro galo cantaria.
5. Vi o filme do túnel da Luz, finalmente. Tenho a dizer o seguinte: 1) o túnel é feio e desagradável, muito pouco condigno; 2) não se vê a ponta de um corno nem «frame a frame» nem «em contínuo»; 3) é incompreensível como um clube que joga na Liga Europa tem câmaras de videovigilância tão miseráveis e de tão má qualidade; 4) está lá um sujeito muito parecido com Rui Costa (pelo penteado parece, embora me tenham dito que, pela pose, é um rabujador do Grupo de Forcados do Aposento da Moita) a perguntar se já podem desligar o vídeo porque precisam de devolver os aparelhos à loja; 5) não sei se a Comissão de Protecção de Dados autorizou as filmagens; 6) um clube com tantos cineastas afectos às suas cores só conseguiu aquelas imagens da treta?; 7) inexplicavelmente, não se vê o Cardozo a apanhar uma estalada; 8) não se vêem golos; 9) o cinema português, posso garanti-lo, não sai prestigiado.
Tolera-se a um primeiro-ministro que seja humano e se ofenda com o que a imprensa diz sobre ele. Pedir a Sócrates que ignore a opinião dos outros seria talvez de mais. Não é fácil resistir; compreende-se. Porém, exige-se de um primeiro-ministro que mostre a distância, a superioridade e a largueza de espírito que convém aos homens de Estado, que não se deixam abalar por causa de uma página de jornal nem se deixam governar a si próprios pela ideia de uma popularidade flutuante e arriscada. Sucede, pois, que “o caso Mário Crespo” é uma desnecessária amostra de fragilidade. A “vida pública” depende, em primeiro lugar, da qualidade das atitudes das “figuras públicas”; procurar “uma solução” para jornalistas desafectos não será uma forma de melhorar a qualidade da democracia.
Governo discorda de Constâncio sobre o aumento dos impostos indirectos.
Tomas Eloy Martínez – que morreu ontem – era um cavalheiro sul-americano, autor de dois livros admiráveis: ‘Santa Evita’ e ‘Cantor de Tango’, entre outros. Conheci-o quando já estava minado pela doença, mas sem ter perdido o extraordinário talento de contador de histórias. Mais do que isso: inventor, efabulador, narrador. São coisas diferentes – as histórias de Tomas encontravam sempre uma ligação à história amarga ou aventurosa do seu país e aos delírios que produziu. A Argentina tem autores desses, como Juan José Saer ou Belgrano Rawson (para não mencionar Bioy Casares, Borges, etc.) que encaram a dimensão do seu território como um cenário para todas as fantasias, por mais dura que seja a realidade. É isso que os torna sedutores: não serem evangelizadores mas escritores.
[Na coluna do Correio da Manhã]
Silver Jews, «I‘m Getting Back Into Getting Back Into You».
José Manuel Fernandes é a contratação de Inverno do Blasfémias.
Não sei como epxlicar. É um momento único. Meses e meses a tratar do assunto, temendo a caixa do correio, as repartições, os telefonemas, pagando, pagando, pagando, pagando sempre. E, finalmente, quando menos se espera, vem um cheque do Tesouro — regalado com os meus pagamentos — fazendo-me sorrir pela primeira vez.
Alguma coisa isto deve querer dizer. Em primeiro lugar, quer dizer que os pedagogos teóricos profissionais do Ministério da Educação — há quanto tempo não dão aulas?, há quanto tempo não vão às escolas? — estão a entrar na mó de baixo. Era bom que ouvissem os professores.
Acho que só tinha vertido uma lágrima por causa de uma série de televisão, mesmo assim muito anterior ao Verão Azul, claro, creio que Les Galapiats (Pequenos Vagabundos). Mas Invictus devia ser vedado por esse motivo. Uma pessoa desfaz-se, comove-se, esquece. Um direito como qualquer outro.
Durante uma legislatura e uma campanha eleitoral defendem-se obras públicas, «avaliação dos professores», leis, iniciativas, até ideias. Não um ano depois, não um semestre depois — mas umas poucas semanas depois, tudo vai sendo abandonado. Ricas convicções. Não servem para avaliar o trabalho do governo mas as convicções e as promessas anteriores. Afinal, era tudo mais ou menos flutuante. Dependia.
Ah, fantástico e avisado ditado este: «Quem não deve, não teme.» Isso. Entretanto, a «violação de dados pessoais deu 745 processos durante 2009». Nada mau para um país de suspeitos.Um país livre, sem dúvida, onde há poucos liberais à moda antiga.
Ah, e os que duvidaram do TGV, da nova rede de estradas e de auto-estradas (já o aeroporto é outra história) e, portanto, foram catalogados na secção dos descrentes, dos pessimistas e infiéis, também têm direito a uma palavra do ministro Teixeira dos Santos.
«Eu engano-me mas não engano», disse hoje o ministro Teixeira dos Santos. Sejamos generosos, compreensivos e tolerantes com o falhanço de previsões do governo. Gostava era de recordar os adjectivos com que foram atacados todos os que não acreditaram nessas previsões — e nas do Banco de Portugal, por arrasto.
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