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Obrigado, Twingly. 14º lugar nos blogs de língua portuguesa.
Esta ideia supimpa de que é agora mais fácil vender o Património parece-me exagerada. Infelizmente, as autoridades ainda não exploraram convenientemente a vantagem de transformar os Jerónimos em centro de lazer, com esplanadas, lojas de artesanato e cybercafés, além de entregarem o andar superior dos claustros a uma empresa de hotelaria. Falta de visão. A vetusta e vazia sala de refeitório podia ser alugada aos fins-de-semana para banquetes de empresas. O mesmo se pode dizer da Batalha, que podia ser, com vantagem, transformada em hotel de charme com um call-center acoplado, gerando emprego e fundos. A lei não contempla outros casos, a meu ver com prejuízo das contas públicas, como a Torre de Belém que podia ser destinada a um complexo multi-restaurantes. Que queiram conservar o Património, está bem, mas porquê ir mais além da fachada? Veja-se Roma. O Coliseu está transformado num shopping e a Coluna de Trajano alugada a uma empresa de telecomunicações. O nosso património é menos chinfrim do que o deles?
B., ao telefone, contou-me que a psicóloga tinha «explicado» ao seu filho, na escola, que a sua recusa em ler se devia ao facto de tanto a mãe como o pai trabalharem «no mundo dos livros». Tratava-se de «uma revolta», não tão violenta como a dos gregos, mas enfim, uma revolta contra a família, o totem & o tabu. Sugeri que mãe e pai deviam ir fumar charros para o quarto do filho, encher-lhe os ouvidos com death-metal e acid, queimar os clássicos gregos na varanda em cerimónias rituais ou projectarem filmes da Bücherverbrennung nazi, e por aí adiante.
Uma das tácticas é a de pacificar as massas. Alguns téoricos fantasiam sobre a necessidade de tranquilizar as massas, travando-as com dinheiro ou «condições» para que elas não destruam a Acrópole nem incendeiem Paris. São duas coisas diferentes, é certo, mas tanto a Europa como os EUA optam pelo mais fácil, contentando «os banqueiros» e «as pessoas». Salvo erro, há um mês toda a gente criticava o dinheiro fácil.
O ano editorial promete ser agitado.
Alguns jornais interrogavam-se, ontem, sobre se Muntadar al-Zaidi, o jornalista iraquiano que atirou um sapato a George Bush, era um herói ou um delinquente num país onde heroísmo e delinquência se cruzam várias vezes por dia. Trata-se, portanto, de uma pergunta deslocada, até porque um sapato não é propriamente uma pedra – e tem mais graça. Mas é um sapato. O gesto corre o risco de virar moda, se bem que as pessoas não achassem tanta graça se o sapato atingisse a cabeça de Hugo Chávez ou de Lula da Silva, ideologicamente protegidos contra o arremesso. Cada sapato tem a sua ideologia. E, desculpando-se o gesto hoje, quem sabe se não o justificaremos amanhã. Mesmo que o sapato de Muntadar al-Zaidi sirva apenas para mostrar que o presidente americano não passa de um alvo.
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