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Deserto do Negev, Midreshet Ben-Gurion
«O mundo árabe irá cerrar fileiras em torno das imagens atrozes que a Al-Jazira irá emitir de Gaza e o tribunal da opinião pública mundial apressar-se-á a acusar Israel de crimes de guerra. Este é o mesmo tribunal da opinião pública que se mantém insensível perante o bombardeamento sistemático das povoações de Israel.»
«Vai haver muita pressão sobre Israel pedindo-lhe contenção. Mas não vai haver nenhuma pressão semelhante sobre o Hamas, porque não existe ninguém para os pressionar e porque já não há praticamente nada que possa ser usado para os pressionar. Israel é um país; o Hamas é um gang.»
«Os cálculos do Hamas são simples, cínicos e pérfidos: se morrerem israelitas inocentes, isso é bom; se morrerem palestinianos inocentes, é ainda melhor. Israel deve agir sabiamente contra esta posição e não responder irreflectidamente, no calor da acção.»
Amos Oz
Acabou o Estado Civil.
Os meus blogs pessoais do ano: A Terceira Noite, Albergue dos Danados, Alexandre Soares Silva, Ana de Amsterdam, Complexidade e Contradição, Estado Civil, Irmão Lúcia, Life and Opinions of Offely, Gentleman, Mar Salgado, Ouriquense, Pastoral Portuguesa, Sinusite Crónica, Teatro Anatómico, Vida Breve, Vontade Indómita, Voz do Deserto.
Os meus blogs políticos do ano: Atlântico, Bicho-Carpinteiro, Blasfémias, Corta-Fitas, Da Literatura, Hoje Há Conquilhas, Jugular, Mar Salgado, O Cachimbo de Magritte, O Insurgente, Portugal dos Pequeninos, Vox Populi.
Livros: A Terceira Noite, Almocreve das Petas, Bibliotecário de Babel, Blogtailors, Cadeirão Voltaire, Ciberescritas, Da Literatura, Manchas, Os Livros Ardem Mal, Pastoral Portuguesa, Pó dos Livros, Rua da Castela.
Pedro Mexia responde a Pacheco Pereira acerca do estado geral da blogosfera.
Juntamente com este, do Rogério Casanova, um dos melhores posts do ano, de João Bonifácio.
Por vários motivos estou a reler O Peregrino Secreto, de John Le Carré. Não é o melhor Le Carré (na minha lista estão Um Espião Perfeito, O Espião que Veio do Frio, Gente de Smiley, A Casa da Rússia, O Alfaiate do Panamá e, sem dúvida, O Fiel Jardineiro -- tal como o pior de todos é Um Homem Muito Procurado), mas reenvia a um dos personagens mais admiráveis que conheço, George Smiley. É o regresso de Smiley, no auge da sua reforma, para enfrentar os seus fantasmas e os nossos desesperos.
Quase nada a dizer: Cavaco esteve à altura, denunciando uma lei mal feita, e explicando-o com clareza aos portugueses. Consequências? Temos um ano pela frente. Talvez agora se perceba (sobretudo os brincalhões do costume, de piada fácil sobre Cavaco) o que significa «cumprir a Constituição». Todos saem mal do retrato: o PS, que tomou por guerra uma birra para «meter o presidente na ordem», lutou por uma lei inconstitucional; José Sócrates, que o permitiu deslealmente, apoiou o comportamento irresponsável de um grupo de arrivistas que julga que a maioria absoluta permite fazer aprovar leis iníquas; o PSD, que inclusive proibiu deputados de votar contra a lei, foi desleal com o Presidente e comportou-se, no Parlamento, como uma múmia sem dignidade. Contra tudo isto, o Presidente foi mais do que claro: está aberto o jogo. Temos quem nos defenda e quem defenda a democracia.
PS - Caro Eduardo: não podes alterar a qualidade dos eleitores de Cavaco conforme as circunstâncias, nem interpretar a sua opinião de acordo com as perguntas de Mário Crespo, essas sim, dignas da Somália.
P.S.2 - Ler o texto de João Gonçalves.
O governo termina o ano em baixa. Primeiro, com a suspeita de que o presidente da República não vai deixar passar o Orçamento sem uma palavra; depois, com uma mensagem de Natal muito dispensável, em que José Sócrates vestiu a pele de um propagandista em vez de se apresentar como um estadista em que os portugueses confiassem – falando da crise no plural. A questão do Orçamento não é inocente. O governo e o PS quiseram a guerra com o presidente, “pondo-o no sítio”. Cavaco, que é discreto e não gosta de cometer o mesmo erro duas vezes, não deixará o pobre orçamento à solta e à mercê de operações de propaganda ou de “contabilidade política”. Os eleitores, na verdade, podem não confiar na oposição – mas começam a descrer de um governo que os trata como ignorantes ou patetas.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Cinco graus abaixo de zero, frio, humidade, as montanhas à volta à espera da neve. E as árvores da minha infância: castanheiros, carvalhos, faias, choupos. E o silêncio no meio do frio. Um dia ou dois bastam para recuperar.
Não se pode pedir disciplina, porque é uma palavra de imbecis, segundo ouvi hoje na rádio. O caso da Escola do Cerco do Porto, não vale a pena exagerá-lo ou ceder à tentação da disciplina. Que uma professora seja ameaçada, isso é um pormenor nas estatísticas anuais. Também não se pode dizer que os miúdos andam mais mal criados, porque isso é desconfiar das novas gerações. A fabulosa responsável da DREN pergunta se nós nunca fomos adolescentes ou tivemos uma brincadeira na sala de aula; apetecia-me responder que já fui adolescente e que tive brincadeiras na sala de aula, mas incomoda-me que as brincadeiras de hoje sejam assim. Estamos definitivamente ultrapassados pelo andar dos tempos, pelas novas pedagogias, pelos interesses das Associações de Pais e pela necessidade de arranjar culpados que não apontaram uma arma de plástico à professora. Bom, a professora é culpada, não há dúvida, porque não conseguiu motivar os alunos de forma criativa e «inclusiva». De facto, a culpa também é dos telemóveis, porque permitem pôr estas imagens no You Tube. Como diz a fabulosa responsável da DREN, «no Norte acontecem sempre coisas no último dia de aulas», é Natal, ninguém leva a mal. Entendam-se.
De há uns tempos para cá, a pátria está mais frágil. Chove um pouco mais e os noticiários da rádio abrem com a informação, escaldante, de que não sei quantos distritos «estão em alerta amarelo». Também é verdade que, graças aos maravilhosos urbanistas que tomaram o poder nas autarquias (ou não o tomaram, é outra questão), um pouco mais de chuva significa inundações. Alerta amarelo. A nossa Protecção Civil trata-nos bem.
Neva um pouco e entramos em alerta amarelo no Marão (queriam que nevasse onde?), na Serra da Estrela e na Serra da Nogueira, vá lá. E se há vento? Acima dos 70km/h, as rádios andam à procura de meteorologistas para obterem uma declaração que seja sobre o vendaval que vem aí para varrer o lixo das ruas.
Andamos mariquinhas com o clima. Chove na época das chuvas? Neva no Inverno? Faz calor no Verão? Caiu granizo? Há geadas em Novembro? Alerta amarelo. Há um vírus de gripe por aí? As urgências entupidas e alerta amarelo.
O Eduardo Pitta lista os livros que o Ipsílon considerou o seu best of de 2008. Nada contra, evidentemente, mas isto assusta-me um pouco. Sei que se trata de literatura, mas custa-me a crer que, ao longo de um ano, nenhum destes meus amigos tivesse seleccionado um título de ciência ou de filosofia.
Segundo parece, o “jantar de consoada” é cada vez mais encomendado de fora ou servido nos hotéis. Nas sociedades tradicionais, as festas tradicionais são essencialmente domésticas, caseiras, familiares – e Portugal está a mudar de hábitos. Não vem daí grande mal, a não ser a revelação de que as pessoas já não sabem nem gostam de cozinhar. Ou não têm tempo para isso, porque trabalham muito. Também não têm tempo para os seus velhos, e isso é mais grave: por esta altura, há famílias que entregam os seus velhos nos hospitais e dão, em troca, números de telefone falsos para não serem incomodados. Uma sociedade sem generosidade nem compaixão, fria e sem paciência – e com vergonha dos seus velhos, que incomodam e relembram que todos morremos e envelhecemos. É um retrato abjecto.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Depois de quinze anos com o Benfica campeão na pré-época de Agosto, rádio, tv e jornais alteram a meteorologia para festejar condignamente o título mais ambicionado.
Vejamos. Portugal não é diferente dos outros países em matéria de excesso de palavrório. Mas é uma pena que, no meio de tanto discurso, declaração, comissão parlamentar de inquérito, audições e audiências, se percam às vezes coisas que valia a pena reter. António Ribeiro Ferreira fala do assunto na sua crónica de ontem, no CM. Por exemplo, o Procurador-Geral da República afirmou no Parlamento que o senhor Governador do Banco de Portugal foi alertado para uma grande fraude internacional que envolvia o BPN. Quando? Há quatro anos. Devia o BP estar de sobreaviso? Sim. Esteve? Não. O Procurador disse também que não tem meios para investigar crimes de corrupção. Ao ouvir isto, os deputados o que fizeram? Peocuparam-se? Não. Mas devem estar a nomear uma comissão de inquérito.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
A “indústria da crise” está em grande actividade. Em momentos politicamente difíceis – ou ‘complexos’ – a palavra “crise” é ambivalente. Serve para a oposição e serve para o governo. Vacinados contra o queixume, os eleitores já não se deixam embalar pelo discurso mais fácil que brada por soluções evidentes e quer aplicar receitas milagrosas. Pelo contrário, detectam nos outros a sua própria malandrice. Desconfiam – e fazem bem. Assistem, com a ironia disponível, ao festival dos membros do governo que mencionam “a crise” para justificar a maior parte das medidas de carácter político excepcional. A “crise” é real – mas é também uma muleta para quem já não pode cumprir mais promessas. Em 2009 a “crise” vai justificar tudo. A maioria vai aceitar. Mas sabe que está a ser enganada.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Uma pessoa quer estar de boa-fé, mas acaba sempre mal servido. O PSD abstém-se na terceira votação sobre o estatuto dos Açores sabendo que faz mal e que podia ter-se arrependido da asneira inicial, mas tem medinho do anti-ciclone. Mais: proibiu mesmo alguns deputados de votarem contra. Ah, disciplina partidária, tão cumpridor que está o partido. Ainda bem, como diz o Tomás Vasques, que o PSD «não está para concordar com presidentes da República que não conhece de lado nenhum». Que nem uma múmia.
Ouço uns amigos na televisão a dizerem eu não como fritos como vegetais e fruta não fumo não bebo faço ginástica levo uma vida saudável e então esqueço-me das vírgulas trata-se de uma traição e vai assim mesmo fico só sem vírgulas ainda dá para pôr um ponto final mas só isso mesmo.
Houve um tempo de completa indigência nas escolas. Uma parte da “classe” safava-se como podia e fazia o papel do funcionário público previamente cansado, evitando o trabalho, aproveitando o artigo 4.º, subindo com diuturnidades e antiguidades, gozando férias prolongadas, recusando avaliações e formação. Com o tempo, a coisa mudou. A escola era vigiada e, ela própria, exigia mais atenção. Ontem, um estudo mostrava que 75 por cento dos professores escolheria outra profissão. É um bico de obra. Não se pode ter uma escola pública de qualidade com o actual ambiente de desconfiança. Por um lado, tem de haver mais exigência e mais rigor; por outro lado, os professores não podem ser tratados como sentinelas de aula ou funcionários do Ministério. É esse o dilema dos dias de hoje.
Cá vos espero amanhã, amiguinhos. Mas sem rancor.
Como dizia um comentador da TSF, citado por um amigo meu, a equipa «tem dificuldade na retaguarda, sobretudo ao nível das diagonais». É de mestre e explica tudo.
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