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Anjos Caídos, de Harold Bloom (Editora Objetiva): «Alteridade é a essência dos anjos; mas também é nossa essência. Isso não significa que os anjos sejam nossa alteridade ou que nós sejamos a deles. Antes, eles manifestam uma alteridade ou uma possível semelhança com a nossa, nem melhor nem pior, mas apenas graduada em escala diferente. O Museu do Vaticano coleciona anjos; nisso, estão juntos devoção e interesse próprio. O que o Vaticano e também a Religião Americana não aceitariam é minha crescente convicção de que todos os anjos, agora, são necessariamente anjos caídos, da perspectiva do humano, que é a perspectiva shakespeariana.
Todo anjo é aterrorizante, escreveu Rilke, que não tinha enfrentado uma tela de cinema na qual John Travolta brincava como um anjo. O que pode significar afirmar que, ainda assim, não é possível uma distinção entre anjos não-caídos e caídos? Nós somos Adão (ou Adão e Eva, se preferem) caído, mas já não somos caídos no sentido agostiniano ou cristão tradicional. Como Kafka profetizou, nosso único pecado autêntico é a impaciência: é por isso que nos estamos a esquecer de ler. A impaciência é cada vez mais uma obsessão visual; queremos ver uma coisa instantaneamente e depois esquecê-la. Leitura profunda não é assim; leitura exige paciência e memória. Uma cultura visual não consegue distinguir entre anjos caídos e não-caídos, uma vez que não podemos ver nenhum dos dois e estamos a esquecer de como nos ler a nós mesmos, o que significa que podemos ver imagens de outros, mas não podemos realmente enxergar os outros nem a nós mesmos.»
Tira a camisola, Lucho, tira. A azelhice continua, mas ganhámos a Batalha de Kiev depois de perdermos a batalha Naval. Podes tirar a camisola, Lucho.
Vou dizer-vos uma coisa: eu gostava das histórias de Crichton, que morreu hoje.
Ah, queriam que eu comentasse a eleição de Obama. Sei. É bom, foi bom. Mas a história não acaba aqui; começa aqui, e Obama não é apenas um símbolo. É um presidente concreto; provavelmente, uma das coisas mais concretas que teve nos últimos tempos. Repito o que escrevi há um ano: «Estão a terminar anos de suplício para a consciência liberal; o fim desse período concluir-se-á com o adeus ao consulado de George W. Bush nos EUA.»
A capa da Playboy deste mês (chegou ontem às bancas) é Claudia Ohana. O mesmo Joaquim Ferreira dos Santos esclarece, e reparem se isto não é literatura, a propósito do ensaio fotográfico que há 23 anos imortalizou a actriz como «uma versão púbica da Mata Atlântica»: «Nas laterais ela traz estilo pouco mais desbastado pelas queimadas, essa praga brasileira, mas ainda assim o arvoredo cresce pujante ao centro, subindo farto até quase a linha do umbigo, num equilíbrio ecológico que o Ministério do Meio Ambiente aprovaria.»
Chego ao Rio (com chuvinha e garoa, descansem, invejosos...) e descubro pela coluna do Joaquim Ferreira dos Santos (que acaba de publicar uma biografia de Leila Diniz!), no O Globo, que Maria de Medeiros está a fazer furor como cantora. Seja. Agora reparem: «Maria disse que as novelas brasileiras influenciaram até as relações entre os casais de Lisboa: "Agora, quando a portuguesa briga com o namorado, ela coloca a mão na cabeça e diz 'ah, estou muito confusa'."» Sabiam que isto era das novelas?
Aos domingos, na Antena 2, às 10h00, estou com Luísa Schmidt, Carla Hilário Quevedo e Luís Caetano. Os temas da semana. Este domingo, as eleições americanas, a campanha «ateísta» em Londres, os negros em Portugal, a sátira «religiosa» dos Gato Fedorento ao computador Magalhães. E por aí.
Estamos contigo, Jesualdo, estamos contigo. Agora podes ir embora.
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