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Anjos Caídos, de Harold Bloom (Editora Objetiva): «Alteridade é a essência dos anjos; mas também é nossa essência. Isso não significa que os anjos sejam nossa alteridade ou que nós sejamos a deles. Antes, eles manifestam uma alteridade ou uma possível semelhança com a nossa, nem melhor nem pior, mas apenas graduada em escala diferente. O Museu do Vaticano coleciona anjos; nisso, estão juntos devoção e interesse próprio. O que o Vaticano e também a Religião Americana não aceitariam é minha crescente convicção de que todos os anjos, agora, são necessariamente anjos caídos, da perspectiva do humano, que é a perspectiva shakespeariana.
Todo anjo é aterrorizante, escreveu Rilke, que não tinha enfrentado uma tela de cinema na qual John Travolta brincava como um anjo. O que pode significar afirmar que, ainda assim, não é possível uma distinção entre anjos não-caídos e caídos? Nós somos Adão (ou Adão e Eva, se preferem) caído, mas já não somos caídos no sentido agostiniano ou cristão tradicional. Como Kafka profetizou, nosso único pecado autêntico é a impaciência: é por isso que nos estamos a esquecer de ler. A impaciência é cada vez mais uma obsessão visual; queremos ver uma coisa instantaneamente e depois esquecê-la. Leitura profunda não é assim; leitura exige paciência e memória. Uma cultura visual não consegue distinguir entre anjos caídos e não-caídos, uma vez que não podemos ver nenhum dos dois e estamos a esquecer de como nos ler a nós mesmos, o que significa que podemos ver imagens de outros, mas não podemos realmente enxergar os outros nem a nós mesmos.»
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