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«Mesmo sob a pressão chavista, o povo venezuelano voltou a fazer-lhe [a Chávez] um manguito. A oposição ganhou nos dois estados mais populosos: Zulia e Miranda (6,6 milhões de habitantes num total de 28 milhões). A oposição ganhou, também, em parte considerável, as grandes cidades, a começar pela quase totalidade dos municípios da capital, Caracas. A cereja em cima do bolo desta vitória eleitoral chavista foi a derrota estrondosa de dois dos mais importantes e leais «homens do presidente», no estado de Miranda, Diosdado Cabello, ex-vice-presidente e ex-ministro do Interior do Governo de Chávez, e em Caracas, de Aristobulo Izturiz, ex-vice-presidente e ex-ministro da educação e ex-presidente do município de Caracas. Chávez perdeu o apoio da grande área metropolitana de Caracas, onde habitam milhões de pobres. Estes resultados eleitorais significam uma vitória da democracia na Venezuela.» Tomás Vasques, no Hoje Há Conquilhas.
A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género promove uma “festa/acção de Sensibilização Contra a Violência no Namoro”. É bom e previdente. Namoro e violência, por princípio, não andam de mãos dadas. Os jornais andam cheios de notícias sobre casais de namorados adolescentes envolvidos em cenas de pancadaria. O problema é o do costume: primeiro, fecha-se os olhos ao papel disciplinador da escola porque, coitadas, as crianças não suportam caretices; depois, o afecto foi transformado em puro sexo, porque aos 12, 13 anos, as crianças andam de camisinhas no bolso e vêm aos gritos exigir educação sexual nas escolas como um direito sindical; finalmente, ninguém lhes dá dois estalos ao segundo sinal de má-criação. E é isto: temos o Estado a disciplinar o namoro, de cócoras.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
De cada vez que a selecção perde há em mim dois sentimentos contraditórios: um, manda-me aceitar o resultado e marchar, triste e solidário, no caminho dos derrotados; o outro ordena-me que sorria e fique ligeiramente satisfeito com o comportamento da canalha em campo, um bando de paquidermes mimados e tratados a pão-de-ló – por terem confirmado que isto é tudo uma choldra. Seja como for, levar seis golos de uma selecção treinada por Dunga é mais do que triste; é deprimente. Uma pessoa vê aqueles jogadores na televisão, de crista levantada, e o pessoal da selecção, com o Prof. Pardal à frente, carregando a mala das vaidades, e não sei, não sei. Há dois sentimentos contraditórios: um, é vir para o jornal dizer que eles jogam um futebol de merda; outro, é acrescentar-lhe que são uns paquidermes mimados.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
As coisas devem ser feitas em grande. E nós, portugueses, que não poupemos nisso. Dias Loureiro contou na televisão que conheceu El-Assir, que o apresentou ao rei de Espanha para jogar golfe e, depois, a Bill Clinton. Os banqueiros e a finança têm os seus contactos, como se sabe. Um traficante de armas, um presidente, um rei – fazer negócios é ter influência para abrir portas aqui e ali, tanto no Banco de Portugal como nos corredores da política. É assim o mundo. Mas, ao que parece, também imitamos outros velhos hábitos. Por exemplo, veja-se o caso de um juiz cuja casa foi assaltada – os meliantes deixaram uma arma junto a foto do filho, como ameaça. A sua mulher também foi alvo de uma tentativa de atropelamento. Como em outros casos, a realidade tenta sempre imitar a ficção. Mesmo que seja na Bolívia.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
«Están llegando los barcos rusos. Nos estamos preparando para recibir al presidente (Dimitri) Medvedev», declaró Chávez, tras votar en las elecciones.
Pois, estando na oposição é sempre mais fácil; a passagem de José Sá Fernandes para o «bloco do poder» só gera problemas. Não é possível, de facto, manter a autoridade de quem nunca se engana. A menos que o «sistema de avaliação» de vereadores mereça contestação.
Agora já disponível nas nossas livrarias (Relógio d'Água), este livro a reter. Há 3 anos escrevi: «Os que se irritaram com a torrente devastadora de Genius (e que se tinham sentido naturalmente excluídos de O Cânone Ocidental), não compreenderão o apelo presente neste Onde Encontrar a Sabedoria: o de uma busca do esplendor que não significa conforto nem tranquilidade, explicando que a sabedoria (ou a literatura sapiencial, termo mais de acordo com Bloom) não vive sem esse laço a prendê-lo ao esforço intelectual e à contenção que nos mostra os limites.»
Não esqueçam: correi para o lançamento do livro de Manuel Jorge Marmelo, As Sereias do Mindelo (edição Quetzal), hoje às 17h00, na Bertrand da R. Júlio Dinis, do Porto. Falará o autor, falará Valter Hugo Mãe.
«Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.»
José Gomes Ferreira, extracto do poema «Viver sempre também cansa»
[Contribuição do meu amigo J.S., com sublinhados meus]
Dennis McShade evocado pelo Pedro Vieira em baixa resolução.
Ah, país de moralistas e de vigilantes! Claro que fez jeito «a gaffe de Manuela Ferreira Leite». Na verdade, de outra maneira não poderíamos ouvir de novo Alberto Martins com aquela voz de surda indignação e inequívoca superioridade moral (a mesma que o levou a manter-se surdo e mudo a propósito do caso DREN/Charrua, por exemplo – para provar que democracia é só palavreado), a criticar a falta de cultura cívica? Às 15h40 de ontem, o relato do Jornal de Negócios dizia que toda a sala se tinha rido e que se tratava de ironia. Mas – ah! – não se pode ironizar sobre coisas sérias. As coisas sérias devem deixar-se para as pessoas demasiado sérias.
Sim, dá-lhes jeito, como vigilantes de colégio interno, «a gaffe de Manuela Ferreira Leite». Mas não passa disso mesmo: gente com queda para o pequeno escândalo, levantando a virtuosa batina com a pontinha dos dedos, enquanto dão saltinhos junto dos charcos: «Já te molhaste! Já te molhaste!»
P.S.- Claro que há outra imagem para esta onda de escandalizados, e que vai do toque florentino à divisão Panzer: vamos aproveitar o deslize enquanto não nos apanham nos nossos.
A ler o post de Tomás Vasques.
A vida é como é e nada impede o governo português de negociar com a Venezuela; preferia era que o meu governo não andasse aos abraços com o arrivista de Caracas, o homem que ameaça e chantageia os venezuelanos durante a campanha eleitoral que termina esta semana. Chávez ameaça as regiões “rebeldes” com tanques e cortes de verbas, usando dinheiros públicos para promover os seus candidatos, para não repetir os resultados desfavoráveis do referendo com que pretendia ser nomeado ditador. Uma das novidades, desta vez, foi a promessa de prender pessoalmente os opositores e de incendiar as câmaras da oposição. Se é preciso petróleo venezuelano, pois que se compre – e que Sócrates se reúna com Chávez. Mas, repito, evitem as cenas de abraços amorosos e cúmplices diante das televisões.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
P.S. Já imagino o discurso de Alberto Martins sobre a falta de cultura cívica...
Acho que não se devem atirar ovos à Ministra da Educação. Acho um comportamento impróprio, como também achei que era abjecto andar a mostrar o rabo a Manuela Ferreira Leite quando esta era Ministra da Educação. Grande parte da esquerda, “rebelde à força” ou por profissão, defende que se devem atirar ovos quando os políticos são de direita; mas defende o respeitinho quando se trata de governantes de esquerda. Penso nisso quando me lembro de políticos que defenderam as ofensas (eram “criativas e revolucionárias”...) a Ferreira Leite ou que atravessavam, sem pagar, a ponte sobre o Tejo. Hoje, vejo-os no outro lado, mostrando um imenso tédio diante da chuva de ovos de Fafe. Os tempos mudam, as pessoas também. Eis por que razão se deve ter tento na língua e cuidado nos actos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
«Se há um amor feminino, é um amor adulto, total, absoluto. Se há um amor masculino, ele enrola-se na posse. É um amor igual ao que as mulheres têm por um par de sapatos novos.»
Filipe Nunes Vicente, Amor e Ódio. Quetzal.
É um documento notável e maravilhoso. De acordo com uma directiva da Comissão Europeia, espécies hortícolas e frutícolas, como damascos, espargos, beringelas, feijões, couve-de-bruxelas, cenouras, couve-flor, cerejas, pepinos, alhos, repolhos, melões, cebolas, ou espinafres poderão passar, finalmente, ser vendidos em formatos ‘deformados’. Já outras espécies, malévolas, irregulares e desobedientes, como maçãs, kiwis, alfaces, pêssegos, morangos e tomates terão de se apresentar com os tamanhos que a comissão define no gabinete. Segundo a comissária da agricultura (a sério), é “uma nova era para os pepinos curvos e as cenouras nodosas”. Os nossos quintais rejubilam, eufóricos, ao verem que Bruxelas continua a meter os legumes na ordem. E os cidadãos festejam por não lhes alterarem o calibre dos tomates.
Chamo ainda a atenção para esta notícia: «O Banco Alimentar de Luta contra a Fome esteve impedido este ano de distribuir frutas e legumes a quem recorre aos seus serviços para poder comer porque não está autorizado a distribuir frutas e legumes que não cumpram os parâmetros de tamanho e cor impostos pela União Europeia.»
Em Ouro Preto, o coração do barroco luso-brasileiro (Minas Gerais), acabou ontem o Fórum das Letras, que rivaliza com o mais popular Festival de Paraty. O tema é “a literatura e o mistério” – não há relação mais simples nem mais óbvia. No cenário onde viveram poetas e músicos de eleição que os portugueses desconhecem (como Cláudio Manuel da Costa ou Tomás Gonzaga, mas também Elisabeth Bishop), o tema lembra muito o facto de “a literatura de agora” se limitar a tratar das paixões evidentes – o sexo, o poder e a desilusão. No meio do sofrimento e da busca da felicidade, a literatura serve também para providenciar conforto e perturbação a quem quer ver mais longe do que o mundo imediato promete. A isso chamamos, salvo erro, mistério. E é por isso que a literatura existe.
Só às seis e um quarto da manhã, em pleno aeroporto, soube do resultado. Regressar à pátria e pronto.
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