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Eu escrevo «O Cantinho do Hooligan» mas acabo de ser batido aos pontos por este amigo sportinguista.
Grande parte da «crise actual do capitalismo» ainda não está a ser sentida pelo cidadão comum, para quem as designações de Merrill Lynch ou Lehman Brothers ou Freddie Mac vêm de um universo que apenas se conhece através da imprensa económica. Mas é esse 'cidadão comum' (eu, o leitor, o seu vizinho) que há-de pagar as favas depois de perceber como se devolve a 'teoria do dominó'. Por um lado, os acontecimentos minam a confiança no sistema financeiro; por outro, mostram que não é possível prolongar artificialmente a existência das corporações (como Merrill Lynch ou Lehman) que se portaram mal ou arriscaram em demasia; não há como evitar-lhes a falência. As leis da vida são cruéis, e convém um mínimo de sensatez na gestão das nossas economias. É essa a lição a retirar, como sempre.
Da coluna do Correio da Manhã.]
Inteiramente de acordo com o Filipe.
Tzipi Livni ganhou o primeiro combate. E vai em frente.
Hoje à tarde, José Eduardo Agualusa e José Luís Peixoto, na Brown University, em Providence, depois da passagem pelo Brooklyn Book Festival.
Não sou economista e não ponho em causa as relações económicas entre Portugal e o país dessa figura exótica que é Hugo Chávez (a classificação é do nosso Ministro dos Estrangeiros). Mas, como cidadão, gostava de saber quando começa a chegar a mandioca, e estranho — sobre essa matéria — o silêncio da blogosfera lusitana. De resto, já estamos preparados.
Ninguém se tem queixado tanto da direita como a própria direita, a avaliar pelo relativo desconcerto que varre o PSD e o CDS. Em cada um dos partidos há demasiada gente a querer coisas demasiado diferentes e, em alguns casos, contraditórias – o que nos lembra que nada é eterno, tanto na vida como nos partidos políticos. Ao fim de trinta e cinco anos de existência, nada obriga (salvo a lealdade aos “interesses” e à lista de militantes) pessoas adultas e alegadamente responsáveis a estar num partido que gostariam que fosse totalmente diferente. Para evitar que esses dois grupos continuem a devorar líderes insatisfeitos e a produzir militantes ressentidos ou apenas zangados, não é absurdo que se pense, finalmente, em criar outros partidos. Ficava tudo esclarecido. Ou então não.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Bons reparos do Rui Bebiano sobre os guias de viagem — e a malandrice dos Lonely Planet. Apenas li os da Guatemala, Central America e Argentina, e todos eles me pareceram escritos à secretária, sobretudo porque os li quando preparava viagens até esses lugares. Não é por acaso que a editora Actes Sud, nos anos oitenta, apenas seleccionou romances para a sua colecção de livros & guias de viagem
Hoje à tarde (hora de NY, 16h00), José Eduardo Agualusa e José Luís Peixoto vão estar juntos, com moderação de Andy Tepper, para discutir o tema The New Wave of Portuguese Literature from Luanda to Lisbon, no Brooklyn Book Festival.
[Nas fotos, JEA e JLP no Fórum das Letras de Ouro Preto em 2007.]
«That was the best political speech I have ever seen delivered by an American woman politician. Palin is as tough as nails.» [Camile Paglia]
As Mulheres do Meu Pai, de José Eduardo Agualusa, em edição inglesa (My Father's Wives, Arcadia): «Agualusa handles this with a lightness of touch that adds hallucinatory beauty to a story that gracefully encompasses extraordinary characters, wild anecdotes and the pressing issues of modern African identity.»
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My Father's Wives is a novel about women, music and magic.
Graças à Agência Lusa, fiquei a saber que Vila Nova de Foz Côa vai este ano aderir ao Dia Europeu sem Carros, no sentido de “uma política mais sustentável de transportes”. O leitor não sabe, mas a notícia comove-me – nasci lá e sofri, como todos os seus naturais, para ter uma rede de transportes, sustentável ou não. Ainda há menos de 30 anos, familiares meus deslocavam-se dezenas de quilómetros a pé para tratarem das suas vidas e não havia “transportes sustentáveis”. A minha aldeia (o Pocinho) tinha comboio, que era “sustentável”; agora, o comboio vai desaparecer. Muita gente naquelas paragens, antes de se falar de “mobilidade sustentável”, sabia muito do assunto – simplesmente, há vinte anos, não tinha transporte. Eis como Portugal se transforma – pelo topo. Pelas palavras.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O ministro Rui Pereira é uma figura simpática mas, ao que parece, ligeiramente desastrada. Falando sobre o caso do homem baleado anteontem, na esquadra de Portimão, o ministro comparou-o com o da execução de Lee Harvey Oswald (o assassino de J.F.K.) nas barbas do FBI e da polícia, numa esquadra de Dallas. O ministro merece que alguém o esclareça sobre o episódio – ou lhe explique que não são coisas comparáveis. Evidentemente que ninguém previa os tiros de Portimão, e ninguém culpa a polícia. Mas a evocação de J.F.K. e dos tiros que Jack Ruby disparou sobre Oswald pode transformar a tragédia, perigosa, num folhetim do anedotário nacional. Ou o ministro anda a ver filmes de mais ou, então, é um caso de stress pós-traumático, resultado da onda de crimes de Agosto. É do calor.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O primeiro-ministro assegura que a melhoria de resultados nas pautas do ensino básico e do ensino secundário se devem às políticas educativas e aos investimentos realizados pelo seu governo. Lamento desmentir esse contentamento e tão largo optimismo mas a verdade é que tanto eu como o primeiro-ministro sabemos que as políticas educativas não produzem resultados de um ano para o outro; tal como ambos sabemos que os investimentos em educação levam anos a ter algum resultado e que isso não significa mais dinheiro. Portanto, é preciso outra explicação. Eu dou-a de graça: a melhoria de resultados existe porque os dados foram propositada e antecipadamente falsificados por provas demasiado fáceis, realizadas com o propósito de conseguir estas belas estatísticas. Ambos o sabemos. Todos o sabemos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
José Medeiros Ferreira faz bem em alertar contra «esses excessos». Infelizmente, não se trata apenas de excessos da imprensa, ou da televisão.
É extraordinário que pouca imprensa, e nenhuma televisão, se tenha verdadeiramente interrogado sobre a natureza festiva das estatísticas apresentadas pelo Ministério da Educação, sobre tão bons resultados obtidos no básico e secundário. Basta perguntar aos nossos filhos: «Como foi a prova de matemática?»
«Os resultados são assustadores e preocupantes. É um regresso ao partido único, só que através do voto. Não há democracia sem oposição. Não há correntes de pensamento no Parlamento, por excelência, a casa da discussão democrática. [...] O resultado das eleições é um revés para a democracia e um pouco assustador. A grandeza da democracia está na diversidade de opinião e não na pobreza de pensamento.» José Eduardo Agualusa (via Lusa)
João Moutinho não tem culpa; mas naquela altura, com um resultado periclitante, devia ter entrado Bruno Alves, mesmo com o argumento de que Moutinho seria o ideal para fazer «circular a bola». Quatro bolas falhadas na segunda parte também são argumento para ter entrado Bruno Alves, só que Queirós ainda não sabia que depois das «tentativas» de Simão, Danny, Nani e Nuno Gomes só o penalti nos aproximaria do resultado ideal.
Discordo, por isso, de Tomás Vasques; a Dinamarca não foi a «classe operária» na arena da luta de classes — foi, antes, a divisão luterana; pelo contrário, fascinados com a «beleza do jogo» (nem por isso), a rapaziada descurou o essencial, que não era preciso ter sido ensinado por Scolari: perde a equipa que deixa entrar mais golos. Foi a nossa; estava na cara desde o minuto 62.
Fotografias de Pedro Ornelas.
Morrem mais de mágoa, na tradução portuguesa do livro de Bellow — só para dizer que isto não fica assim. Só agora soube (pelo Ivan) que morreu o Pedro Ornelas, autor de um dos meus blogs preferidos.
Depois de afastado este equívoco, Tzipi Livni é a minha candidata.
O João Villalobos pede uma opinião sobre a Buchholz. Não era a minha livraria -- mas era uma das livrarias onde me sentia bem, rodeado daquela desordem malévola e amável ao mesmo tempo. Era uma livraria classista. Fui maltratado algumas vezes, mal atendido outras tantas, enxotado da secção de filosofia ou de linguística (as únicas que eu procurava), deixado sem resposta («não sei» ou «deve estar por aí»), vigiado porque não vestia como os clientes da Buchholz se deviam vestir ou não usava os cheques que os bons clientes usavam. Era uma livraria de outro tempo, onde se atendiam os senhores doutores, que tinham direito a preços especiais; e não se prezavam os frequentadores que não entravam na lista dos happy few com cara de unhappy few, geralmente figuras públicas temidas por um estudante universitário com sotaque de Trás-os-Montes que ia à livraria amedrontado. Se não se fazia parte do círculo, não se era bem tratado. Um dia, um professor perguntou-me, a meio das escadas: «Ah, você já vem à Buchholz? Mas olhe que isto é uma casa séria...» Eu não tinha dinheiro para os livros que eu gostaria de ter comprado na Buchholz, e andava pelos alfarrabistas e bancas de segunda mão. A Buchholz é de outro tempo e de outra década e de outros compradores de livros. Lamento o seu fim, se o seu fim acontecer; lamento que as livrarias como a Buchholz terminem para dar lugar apenas a cadeias de livrarias (mas o atendimento da FNAC é muito bom...); e, por isso, acho que as livrarias independentes são fundamentais, mesmo que não tenham a parafernália que seduz os clientes das cadeias de livrarias. Por duas vezes, uma senhora (cujo nome ouvi pronunciado com reverência) tirou-me livros da mão e disse que estavam reservados (não estavam, porque os encontrei lá na semana seguinte). Mais tarde, consegui ter a maravilhosa e cúmplice simpatia de uma das funcionárias da livraria, e passei a ter ajuda para procurar livros ou, até, para falar um pouco dos livros, propriamente ditos. No seu tempo de viragem, a Buchholz devia ter aberto as suas portas até à meia-noite, e devia valer-se do seu fundo, que era enorme. Não percebo nada de gestão, mas parece-me que se tratou de indiferença ou passividade em relação ao mercado e aos novos leitores e seus hábitos.
No fundo, um leitor procura lugares como aquele era ainda, na década de noventa. Não fui muitas vezes lá, depois disso. Tenho alguns velhos marcadores de livros da Buchholz (os primeiros que conheci, quando vim de Trás-os-Montes para Lisboa); guardo-os para me lembrar desse tempo e de como tinha dificuldade em juntar dinheiro para comprar aquele livro que estava na montra. No fundo, a Buchholz lembra-me aquele tempo. Mas aquele tempo passou e não pode ser vivido daquela maneira.
Desgosta-me, no entanto, a indiferença diante de livrarias como esta. À medida que o tempo passa, e vou ficando ligeiramente mais velho, passei a dar valor a coisas como o silêncio fatal da Buchholz e aquela inaptidão para tratar com o mercado. Às vezes encontro livrarias assim nos EUA, em Inglaterra, na Alemanha, em Israel. Pertencem a um mundo em que não havia consignações nem devoluções de livros (qualquer livreiro poderá falar disto com mágoa). Algumas delas são mais simpáticas do que outras; a Buchholz não era muito simpática, não; nessa altura, a ASAE (que não existia) não ia à Ler Devagar (que não existia) procurar prevaricações. O mundo mudou; mas, ao contrário dos que acham que temos de nos adaptar aos novos tempos, eu lamento que ele tenha mudado desta maneira. Não há nada a fazer.
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