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O post de Cristina Ferreira de Almeida, no Corta-Fitas.
Com a expulsão dos activistas da Human Rights Watch em Caracas, ordenada directamente por Hugo Chávez, e da forma insultuosa como foi anunciada, espero a esclarecida opinião do dr. Soares sobre o assunto. Não tem que ter opinião, evidentemente; mas ajudava-nos a sermos mais compreensivos.
Vinte e oito anos depois da primeira surpresa, releio O Delfim e tenho pena que «a literatura» não tenha aprendido essa lição de ironia, observação, sentido da proporção.
Que haja políticos que viveram da «política da emigração», não me espanta. Espanta-me que agora falem em chapeladas, depois de terem passado vinte ou trinta anos a organizar chapeladas, a participar em jantares e «festas da emigração», a angariar fundos entre emigrantes – para o partido, para as campanhas –, a promover nomenklaturas locais e estudar colocações políticas escandalosas. Basta viajar um pouco pelas comunidades de emigrantes para ficar surpreendido com o que está em jogo: pequenos interesses, falta de ligação às próprias comunidades, desprezo pela condição de emigrante, desprezo pela ideia de participação democrática. Sim, parece que a opinião da emigração é um pouco «reaccionária». É gente que teve de sair de Portugal para poder viver com dignidade – dizem-lhe agora que, afinal, não tem dignidade bastante para votar e meter o seu voto num envelope. É uma democracia controlada, manejada consoante a feição dos interesses? É, provavelmente, sim. Mas é sobretudo uma vergonha. Uma vergonha que dá vergonha.
Eu, se fosse emigrante – e da próxima vez que fossem visitar-me em romagem, à cata de votos e fundos para as campanhas, a falar de diáspora e das «remessas» – mandava-os à merda.
[Na imagem, Caracas.]
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