Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Graças à Agência Lusa, fiquei a saber que Vila Nova de Foz Côa vai este ano aderir ao Dia Europeu sem Carros, no sentido de “uma política mais sustentável de transportes”. O leitor não sabe, mas a notícia comove-me – nasci lá e sofri, como todos os seus naturais, para ter uma rede de transportes, sustentável ou não. Ainda há menos de 30 anos, familiares meus deslocavam-se dezenas de quilómetros a pé para tratarem das suas vidas e não havia “transportes sustentáveis”. A minha aldeia (o Pocinho) tinha comboio, que era “sustentável”; agora, o comboio vai desaparecer. Muita gente naquelas paragens, antes de se falar de “mobilidade sustentável”, sabia muito do assunto – simplesmente, há vinte anos, não tinha transporte. Eis como Portugal se transforma – pelo topo. Pelas palavras.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O ministro Rui Pereira é uma figura simpática mas, ao que parece, ligeiramente desastrada. Falando sobre o caso do homem baleado anteontem, na esquadra de Portimão, o ministro comparou-o com o da execução de Lee Harvey Oswald (o assassino de J.F.K.) nas barbas do FBI e da polícia, numa esquadra de Dallas. O ministro merece que alguém o esclareça sobre o episódio – ou lhe explique que não são coisas comparáveis. Evidentemente que ninguém previa os tiros de Portimão, e ninguém culpa a polícia. Mas a evocação de J.F.K. e dos tiros que Jack Ruby disparou sobre Oswald pode transformar a tragédia, perigosa, num folhetim do anedotário nacional. Ou o ministro anda a ver filmes de mais ou, então, é um caso de stress pós-traumático, resultado da onda de crimes de Agosto. É do calor.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O primeiro-ministro assegura que a melhoria de resultados nas pautas do ensino básico e do ensino secundário se devem às políticas educativas e aos investimentos realizados pelo seu governo. Lamento desmentir esse contentamento e tão largo optimismo mas a verdade é que tanto eu como o primeiro-ministro sabemos que as políticas educativas não produzem resultados de um ano para o outro; tal como ambos sabemos que os investimentos em educação levam anos a ter algum resultado e que isso não significa mais dinheiro. Portanto, é preciso outra explicação. Eu dou-a de graça: a melhoria de resultados existe porque os dados foram propositada e antecipadamente falsificados por provas demasiado fáceis, realizadas com o propósito de conseguir estas belas estatísticas. Ambos o sabemos. Todos o sabemos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
José Medeiros Ferreira faz bem em alertar contra «esses excessos». Infelizmente, não se trata apenas de excessos da imprensa, ou da televisão.
É extraordinário que pouca imprensa, e nenhuma televisão, se tenha verdadeiramente interrogado sobre a natureza festiva das estatísticas apresentadas pelo Ministério da Educação, sobre tão bons resultados obtidos no básico e secundário. Basta perguntar aos nossos filhos: «Como foi a prova de matemática?»
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.