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Depois de afastado este equívoco, Tzipi Livni é a minha candidata.
O João Villalobos pede uma opinião sobre a Buchholz. Não era a minha livraria -- mas era uma das livrarias onde me sentia bem, rodeado daquela desordem malévola e amável ao mesmo tempo. Era uma livraria classista. Fui maltratado algumas vezes, mal atendido outras tantas, enxotado da secção de filosofia ou de linguística (as únicas que eu procurava), deixado sem resposta («não sei» ou «deve estar por aí»), vigiado porque não vestia como os clientes da Buchholz se deviam vestir ou não usava os cheques que os bons clientes usavam. Era uma livraria de outro tempo, onde se atendiam os senhores doutores, que tinham direito a preços especiais; e não se prezavam os frequentadores que não entravam na lista dos happy few com cara de unhappy few, geralmente figuras públicas temidas por um estudante universitário com sotaque de Trás-os-Montes que ia à livraria amedrontado. Se não se fazia parte do círculo, não se era bem tratado. Um dia, um professor perguntou-me, a meio das escadas: «Ah, você já vem à Buchholz? Mas olhe que isto é uma casa séria...» Eu não tinha dinheiro para os livros que eu gostaria de ter comprado na Buchholz, e andava pelos alfarrabistas e bancas de segunda mão. A Buchholz é de outro tempo e de outra década e de outros compradores de livros. Lamento o seu fim, se o seu fim acontecer; lamento que as livrarias como a Buchholz terminem para dar lugar apenas a cadeias de livrarias (mas o atendimento da FNAC é muito bom...); e, por isso, acho que as livrarias independentes são fundamentais, mesmo que não tenham a parafernália que seduz os clientes das cadeias de livrarias. Por duas vezes, uma senhora (cujo nome ouvi pronunciado com reverência) tirou-me livros da mão e disse que estavam reservados (não estavam, porque os encontrei lá na semana seguinte). Mais tarde, consegui ter a maravilhosa e cúmplice simpatia de uma das funcionárias da livraria, e passei a ter ajuda para procurar livros ou, até, para falar um pouco dos livros, propriamente ditos. No seu tempo de viragem, a Buchholz devia ter aberto as suas portas até à meia-noite, e devia valer-se do seu fundo, que era enorme. Não percebo nada de gestão, mas parece-me que se tratou de indiferença ou passividade em relação ao mercado e aos novos leitores e seus hábitos.
No fundo, um leitor procura lugares como aquele era ainda, na década de noventa. Não fui muitas vezes lá, depois disso. Tenho alguns velhos marcadores de livros da Buchholz (os primeiros que conheci, quando vim de Trás-os-Montes para Lisboa); guardo-os para me lembrar desse tempo e de como tinha dificuldade em juntar dinheiro para comprar aquele livro que estava na montra. No fundo, a Buchholz lembra-me aquele tempo. Mas aquele tempo passou e não pode ser vivido daquela maneira.
Desgosta-me, no entanto, a indiferença diante de livrarias como esta. À medida que o tempo passa, e vou ficando ligeiramente mais velho, passei a dar valor a coisas como o silêncio fatal da Buchholz e aquela inaptidão para tratar com o mercado. Às vezes encontro livrarias assim nos EUA, em Inglaterra, na Alemanha, em Israel. Pertencem a um mundo em que não havia consignações nem devoluções de livros (qualquer livreiro poderá falar disto com mágoa). Algumas delas são mais simpáticas do que outras; a Buchholz não era muito simpática, não; nessa altura, a ASAE (que não existia) não ia à Ler Devagar (que não existia) procurar prevaricações. O mundo mudou; mas, ao contrário dos que acham que temos de nos adaptar aos novos tempos, eu lamento que ele tenha mudado desta maneira. Não há nada a fazer.
Uma coisa são as profissões de fé; outra, a leitura da América política actual. Recomendo, mais uma vez, os textos de Nuno Mota Pinto no Mar Salgado.
Entrámos num estádio superior da democracia; a propósito de Angola, depois de ter visto debates e lido opiniões, parece-me que os negócios e a vidinha estão a atrapalhar bastante as convicções democráticas do pessoal. Não estranho que Pezarat Correia, por exemplo, tenha sido mais do que compreensivo com a negação de vistos a jornalistas; é uma extensão das suas opiniões políticas. Porém, noutros casos, é a vidinha...
Não é que a insígnia de Comendador das Artes e das Letras valha mais ou menos por ter sido atribuída pelo governo francês a António Lobo Antunes; mas apenas relembro que o meu relapso companheiro de blog, Manuel Alberto Valente, vai ser armado Cavaleiro das Artes e das Letras; ou seja, para mim, muito melhor distinção. Orgulho é assim mesmo. Defendo os da casa; e mais: preferiam ter um comendador ou um Cavaleiro (que, no caso, é também um cavalheiro)?
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