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Há uns dias, o responsável pelo Gabinete Coordenador de Segurança e Criminalidade dizia que a criminalidade não tinha aumentado; o que aumentou, segundo Leonel de Carvalho, foi a «cultura da violência». Hoje, o problema já não é a cultura da violência mas o relevo mediático. É muito estranho que o coordenador de um gabinete dessa natureza diga que não sabe se há mais ou menos ocorrências (até do «ponto de vista matemático»). Mesmo partindo do princípio de que não há aumento dos «níveis de criminalidade» e que sejam «coisas residuais», de Verão, é estranho que se limite a empurrar a culpa, agora para os jornais.
As consciências ocidentais tremeram de indignação com o reconhecimento, pela Rússia, da independência da Abkházia e da Ossétia do Sul – e, além da indignação, vivem agora a euforia da denúncia. Denunciam o poderio e o descaramento russos. Fazem bem, mas deviam olhar-se ao espelho. A Rússia não esqueceu – nem podia – o reconhecimento da independência do Kosovo pelo Ocidente, como não podia aceitar que a sua “zona de influência” se transformasse numa espécie de tapete estendido para “o Ocidente”, que ainda se julga o centro do mundo. A Rússia sabe que os EUA não estão disponíveis para uma nova crise dos mísseis. Medvedev é claro: «Durante as eleições nos Estados Unidos, os eleitores olham de forma indiferente para os acontecimentos no estrangeiro. Se algum dos candidatos conseguir utilizar esta questão, como se costuma dizer, Deus o ajude.»
Vem aí muito trabalho sério pela frente; como reconhece José Milhazes, «se o reconhecimento da independência do Kosovo foi uma machada no sistema de relações internacionais na Europa e no mundo, a decisão do Kremlin de reconher a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia enterrou-o definitivamente».
Marco Fortes (com quem fiquei a simpatizar) foi recambiado para Lisboa, como bode expiatório, e a honra do comandante Vicente de Moura estava salva porque ia retirar-se e o campeonato de futebol estava aí. Mas Nelson Évora ganhou a medalha e estragou tudo: o comandante já admite que pode ficar e a pátria está salva com Vanessa Fernandes a segurar a bandeira. Está mal. Já estávamos todos contentes com a pulhice que tinham feito a Marco Fortes (que não é tão bonito como Naide Gomes) e agora é isto: vamos ter de aguentar esta gente no Comité Olímpico, a brincar à batalha naval. Bons tempos em que gostávamos das nossas derrotas. Agora contentamo-nos com uma medalhinha para salvar a pátria. A propósito: viram a paraguaia lançadora de dardo? Quantas medalhas não valia?
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O Presidente vetou a lei do divórcio e meio país saltou a bradar contra “o conservador”. Toda a gente sabe que Cavaco é “conservador”, coisa que não faz mal ao mundo. O problema, isso sim, é a facilidade com que se fazem leis que partem do princípio de que as pessoas são generosas, boas e andam carregadas de amor. Não andam, mas isso é assunto delas. O Estado não tem nada de legislar sobre afectos & amor – tem de limitar-se a salvaguardar contratos. Como o do casamento. O amor, a afectividade e o ódio não são assuntos do Estado nem do parlamento. Que duas pessoas deixem de se amar – acontece a cada hora; que uma delas decida deitar fora um contrato que exige responsabilidade civil, já deve ser ponderado. Os legisladores não têm nada que pregar sermões ou fazer terapia de casal.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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