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O Acampamento de Jovens do Bloco de Esquerda começou ontem em São Gião, na Serra da Estrela, mas só hoje se iniciam os ‘workshops’, debates e animação restante. Das 17 às 19 há dois ‘workshops’ – um subordinado ao tema ‘Stencil/Subvertize’ e um outro com a designação de ‘Brinquedos Sexuais’ (amanhã é ‘Massagens’). Longe da pátria real, festejo a escolha e assinalo o horário, muito relaxante, quase crepuscular, diante do horizonte das montanhas, convidando à lassidão ou à contemplação. A rapaziada sabe o que é bom. Se há quem critique os programas da ‘jotas’ por tratarem de instrumentalizar e banalizar o pessoal que um dia gostaria de ser director-geral ou amanuense de nível superior, pois aqui está um exemplo de labor político original. Oxalá não se magoem. Nunca se sabe.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O desaparecimento de Alexandre Soljenitsine não significa hoje grande coisa para a maior parte das pessoas, mas a verdade é que o escritor que denunciou tão abertamente os campos de morte soviéticos poderia ter outro destino se não fosse o Gulag. Soljenitsine foi odiado pela esquerda que continuou a proteger, mesmo depois da ‘perestroika’, o direito de o socialismo matar e condenar milhões à fome e ao terror. Tal como Tolstoi, foi um moralista e um homem religioso; como muitos outros, nunca conseguiu sobreviver longe da ‘mãe Rússia’, ocupada pelo comunismo primeiro e pelos gangsters do capitalismo depois. A velha Rússia de Tolstoi, de Gogol, de Akhmatova ou de Brodsky, foi para si uma lenda amável e dolorosa. Mas os que o condenaram ao Gulag e ao silêncio não lhe sobreviveram.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O país anda metido com o Verão à beira dos Jogos Olímpicos e entrou em Agosto com uma comunicação que lhe fez o Presidente da República – mas, algures numa estrada algarvia (a notícia vinha no Correio da Manhã), longe das primeiras páginas, que também mencionam o ataque que o fisco vai lançar por toda a Pátria, um pai abandona os seus dois filhos gémeos de 11 anos. Repare-se: não os entrega a alguém. Não. Deixa-os numa estrada do Algarve, de noite, entregues a si mesmos e à mais severa das solidões. Casos assim multiplicam-se, parece. O gérmen da maldade manifesta-se de muitas formas, mas imagino a solidão e a dor dos dois miúdos de onze anos que o pai acaba de expulsar do carro, a meio da noite – e acho que uma onda de pânico devia tomar conta de nós e mostrar-nos como perdemos a vergonha. Morremos aos poucos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O Verão não nos liga ao vazio mas à reflexão. Como estão as auto-estradas, os aeroportos e os hotéis? Como está a lotação dos restaurantes? Como está a ocupação do metro quadrado de praia? Para os “economistas comuns”, boas taxas de “cumprimento de férias” significam que a crise ainda não chegou, à semelhança do que pensava António Guterres com a sua observação pouco criteriosa sobre o número de telemóveis e a ida de portugueses para o Algarve. Isso significaria que andava dinheiro a circular. No entanto, há outra fórmula de cálculo, mais perversa e subtil, que parte do princípio de que as sociedades em vésperas da grande crise gastam o que não têm e esperam o que nunca há-de vir. É tremendo, mas tem sentido – mesmo que não agrade nas secretarias e à propaganda.
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