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Vai uma grande orgia pelas praias algarvias. Famílias inteiras, entregues ao prazer do sol e do mar, abandonam-se também – em pleno ‘espaço público’ – a massagens que podem ser perniciosas para o pudor da Pátria. Não sou eu quem o diz: é o comandante da Zona Marítima do Sul, que eu ouvi numa reportagem da TSF. Segundo o comandante sabe-se como uma massagem começa mas nunca se sabe como acaba – o leitor que imagine o despautério e a desvergonha. Uma coisa leva à outra e o comando marítimo tem de zelar pela nossa integridade física, pelo pudor das quinas e da esfera armilar. O Allgarve pode ser cosmopolita mas há massagens e massagens e nunca se sabe como reage esta gente que se estende ao sol para ser friccionada com bálsamo e arnica. Vai uma grande orgia nestas cabecinhas.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
O presidente do júri do Prémio Camões disse que o grupo de jurados que distinguiu João Ubaldo Ribeiro “decidiu que centraria a sua discussão em escritores brasileiros”. Salvo erro, isto é sacanagem. Em primeiro lugar, contra João Ubaldo, que não merecia ser escolhido só entre 50% dos candidatos; em segundo lugar, contra o Prémio Camões, que mostra a rotatividade luso-brasileira (com migalhas para África) decidida nos gabinetes políticos. Entre nós, já se sabia que um ano tocava a uns, no ano seguinte a outros. Mas admiti-lo assim, se não é hipócrita, constitui uma idiotice que não devia ser permitida. Um prémio como o Camões deveria ser defendido de oscilações temperamentais e ser poupado a jogadas que não o enobrecem. Ou então que passe a ser escolhido nas chancelarias.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Ilustração de Pedro Vieira. O João Ubaldo não tem culpa nenhuma desta trapalhada.
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