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O governo cedeu aos camionistas e ao ‘sector dos transportes’. Também está lá para isso, mas convém que os cidadãos (eu, o leitor) façam contas e se detenham na análise do tratado de acordo. Em primeiro lugar, o governo negociou em nome das concessionárias de auto-estradas, o que significa que vamos pagar-lhes. Nós. Depois, o governo indicou um benefício fiscal de 20% para as despesas de combustível. Significa que vamos pagar. Nós. O que é estranho porque os preços dos transportes estarão indexados aos combustíveis. Finalmente, coroa de glória, os clientes dos transportes vão passar a ter que pagar num máximo de 30 dias – coisa que o governo e o Estado não fazem. Vamos pagar. Nós. Assim, também eu negociava e não me importava de ceder – com o dinheiro dos outros. Nosso.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
E voltamos à história das portagens.
«O Supremo Tribunal dos EUA decidiu hoje que os suspeitos de terrorismo detidos na base militar de Guantánamo, em Cuba, têm o direito de recorrer aos tribunais federais para contestar a sua detenção.» (Notícia aqui) Um sinal do que está a mudar, finalmente, e do que deve mudar.
Assim, de repente, sinto que me falta qualquer coisa.
Derrapagem financeira superior a 31 milhões de euros. Financeira, note-se bem. Quanto à derrapagem política, enfim.
Os protestos dos camionistas ou do ‘movimento paralisação’ são coisa branda e melíflua. Se quisessem paralisar o país, vinham para a porta das cidades e impunham um cerco decisivo às classes médias – assim, basta-lhes reeditar a ideia dos ‘piquetes’ e penalizar o abastecimento a quem tem de ir ao supermercado ou à bomba de gasolina, gente remediada. É uma hipocrisia, um protesto quase invisível e em lume brando. Eles sabem que, desta maneira, Sócrates não lhes manda a polícia – mas reconhecem que estão "a causar problemas ao país". A questão é que muitos dos socialistas que hoje frequentam as salas do poder estiveram na Ponte 25 de Abril a apoiar o bloqueio de 1995, colaborando com a revolta dos camiões e o cerco a Lisboa. Se lhes apetece usar a lei, o passado impede-os.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Parece que os utentes de auto-estradas com troços em obras superiores a 10 kms vão poder ter o seu dinheiro de volta. É uma excelente notícia, não por causa dos cêntimos, mas por causa do princípio. O que se paga por uma portagem justifica que o ‘utente’ tenha um determinado serviço; se o serviço não é prestado, não se paga. A medida foi defendida há anos por Manuela Ferreira Leite, que não a executou quando chegou ao governo; e foi também afastada pelo governo socialista, que achava que os automobilistas iam entupir as auto-estradas se houvesse borla. Claro que aqui há marosca: para devolver um euro que seja, a Brisa há-de inventar uns trâmites tão aborrecidos e desmobilizadores que ninguém há-de querer ir para a fila. Mas é um sinal de que começa a haver respeito.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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