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Há um debate sobre a responsabilidade directa de José Sá Fernandes ou de Marcos Perestrelo na cedência da Praça das Flores à Skoda. Ora, a responsabilidade é da CML. E é das autarquias, em geral, que julgam deter o título de propriedade das cidades que administram. Este problema gerado pela Praça das Flores adquiriu mais notoriedade porque vive lá mais gente que pode protestar e que tem opinião publicável, o que não impede de ser classificado como escandaloso. Os moradores das cidades são maltratados, e é estranho que os malfeitores sejam, em geral, as autarquias. Mas são.
Retirar 15 dias de vida de jardim à Praça das Flores em nome de um contrato que até pode ser lucrativo para a CML não me parece um bom princípio. Os moradores do Bairro Alto maltratados pelo lixo, seringas no chão e toda a merda deixada pelos frequentadores barulhentos que não deixam dormir ninguém, também me parece um escândalo. Os das Janelas Verdes são continuamente massacrados pela fauna adolescente que vomita nos passeios, à porta de suas casas, com protecção da polícia e da Direcção Geral de Saúde, que não toma posição sobre a venda livre de shots a crianças de 12 anos. E os moradores de zonas permanentemente em obras, com jardins espatifados, valas abertas, árvores destruídas, muros derrubados, máquinas a arrasarem tudo (por dois, três ou quatro anos), também me parece que mereçam a nossa atenção. Quando se organiza um «evento», mesmo que seja «a merda de um evento» com o apoio das autarquias, os direitos dos munícipes são sempre esquecidos. Há sempre uma corrida de amadores que espalham centenas de garrafas de água mineral pelo chão. O trânsito alterado por causa de uma agremiação que vai fazer gincanas na rua, é abusivo. Os moradores de Chelas sofrem o Rock in Rio durante um mês. Os foguetórios privados que arruinam a paciência e o sono dos moradores também me incomodam. E os festivais de rua em que os decibeis sobem dentro de casa (mas os organizadores e frequentadores moram noutro lado). O espaço público é uma treta.
O Verão vai ser de primeira categoria. Depois do Portugal-Turquia sentei-me no sofá e ouvi as buzinadelas na rua. Julguei que, afinal, o Benfica tinha ganho o campeonato e olhei a medo pela janela – mas apenas vi uma fila de portugueses a festejar ruidosamente o primeiro resultado da selecção na Suíça. Festa brava. Se Portugal ganhar na quarta-feira, vai ser o delírio, porque passaremos à “fase seguinte”. Bem podem os camionistas prometer parar o país. Ele pára por si mesmo. Esta semana começam oficialmente as férias e há jogos às cinco da tarde. Depois vem a “fase seguinte” e, quando chegarem os Jogos Olímpicos, haverá televisão noite e dia (e vale a pena). Entretanto sairá a decisão definitiva da UEFA sobre o FC Porto e haverá mais festejos, de algum dos lados. Assim vamos.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
Filomena Marona Beja, publicada pela Sextante, é a surpresa deste ano para o Grande Prémio de Romance e Novela da APE. O livro é livro A Cova do Lagarto. Entrevistei a autora uma vez, por causa de A Duração dos Crepúsculos, um romance de que eu tinha gostado muito: uma história de amor entre Virgínia Castro Rodrigues e uma amiga inglesa, Pamela, uma intromissão de Pedro Nunes, uma certa fiabilidade naquela melancolia. Gostei muito. Parabéns à Maria Filomena, a autora, e também a João Rodrigues, o editor da Sextante, que também recebeu um prémio (Prémio de Criação Literária Casa da América Latina) pelo livro de Senel Paz, o autor de No Céu com Diamantes. Isso deve ser editar.
Periodicamente, quando há falta de assunto, revistas e jornais perguntam a escritores «escreve porquê?» (há aquela edição histórica do Liberation). Tenho as minhas razões. Mas, hoje, a melhor das razões só poderia invocar aquela senhora que veio ter comigo à banca de autógrafos, na Feira, e sorriu: «Vou muitas vezes ao seu blog ver se há um novo livro com aventuras do inspector Jaime Ramos.» Na verdade, é a mais séria das razões. O resto é vaidade.
O título deste post é Cabeça a Prémio porque esse é o título do livro que está à minha frente, um livro de Marçal Aquino. Podia ser Televisão. Normalmente uso a televisão como um electrodoméstico vulgar, bom para ver algumas coisas de informação, séries no Cabo, alguns filmes e desporto. Graças ao Euro, passei duas noites a vaguear entre «canais generalistas», portugueses e estrangeiros. Lembro-me sempre, e isto não tem nada de snob, do género «que horror que anda a nossa televisão», da tirada de Paulo Francis quando, chegado ao Brasil, passou um tempo a ver televisão e declarou, no «Manhattan Connection»: «Declaro-me tecnicamente morto.» Estou tecnicamente sem reacção. Vi dois minutos de cada uma das telenovelas da TVI, as portuguesas, e fiquei sem reacção. Vi uns minutos de um suposto espectáculo sobre «talentos» na RTP, e fiquei sem reacção. Vi, por uns minutos, uns rapazes na SIC Radical a imaginarem ter graça sobre já não sei o quê. Uma coisa chamada PortoCanal transmitia um debate sobre futebol, a SIC Notícias anunciava futebol para daí a bocado, e acabei por parar num canal francês onde a reportagem captava uns rostos vagamente familiares, pertencentes a uns corpos que estavam aos saltos em Neuchâtel, a dizer «Portugaaaale, Portugaaaale», e o pivot sorria, com aquele ar, vocês sabem. Cabeça a prémio. Tenho a cabeça a prémio.
Apanhei um programa de Artur Albarran na SIC a anunciar «vídeos divertidos» de animais e chamei a minha filha para ver. Quando ela chegou já não havia pandas a espirrar e estavam com uma reconstituição de cenas de violência doméstica. Mudei de canal e ficámos a ver um meeting de atletismo na Grécia e fiquei a saber que aquela rapariga Stela Pilatou, do salto em comprimento, vai aos Olímpicos. Fico à espera, embora prefira a Naide Gomes.
1. Coisas telegráficas. A rapaziada ganhou bem na segunda parte, o que foi necessário e mais do que suficiente para aviar a questão. Vai buscar. Dois ou três lances superiores a registar, além das bolas mal chutadas, que foram ao poste. Pepe sim senhor. João Moutinho também. Parece que a ideia de pôr Ronaldo ao centro é estapafúrdia. Não sei o que deu aos comentadores propriamente ditos, mas é melhor desligarem o som.
2. Ainda mais telegráficas. Os checos são aqueles?
Pois bem. Mesmo considerando que o posto de presidente da Assembleia-Geral da ONU não é muito relevante, tenham em conta que é actualmente ocupado por Miguel d'Escoto Brockmann, o padre católico que se ocupou dos Negócios Estrangeiros da Nicarágua durante o regime sandinista, e que recebeu o Prémio Lenine. Mas uma das vice-presidências está ocupada pela Birmânia. Valha-nos isso.
Em Portugal estamos habituados ao desvelo com que se usam acusações de «censura» ou de «fascismo». Mas a Igreja de Inglaterra está no negócio das analogias com grande destaque: os que não se preocupam com o aquecimento global são comparáveis ao monstro austríaco Josef Fritzl. Toma.
Reparem na notícia:
«A Eurocrats-only express service will be launched next month to ferry MEPs and officials in luxury at 186mph between one European parliament in Brussels and the other in Strasbourg. The buffet car will, of course, be fully stocked.
The Strasbourg Express will leave Brussels for the first time at 9.57am on Monday, July 7. Each return journey will cost the taxpayer about £158,000, but the fare-paying public will be banned. MEPs will pay £170 for a return ticket, but will then be reimbursed.
“The public will not be able to buy tickets or use this train,” said Thalys, the high-speed train operator that will run the service.
While ordinary passengers make do with a rickety scheduled service known as “the cattle truck”, which has no refreshments, Eurocrats can enhance the enjoyment of their journey with a choice of fine French, Australian and Chilean wines.
Whether gravy will actually be served is a moot point, but along with popular Belgian beers, savoury snacks will be on offer.
Every month, when the European parliament moves to Strasbourg, the “train of shame” will leave Brussels on a Monday, returning the following Thursday, with up to 377 MEPs and officials travelling each way in three spacious carriages. It is widely seen in Brussels as a gimmick to boost the French, whose insistence on maintaining the second parliament in Strasbourg makes such journeys necessary in the first place.»
Claro que o cidadão europeu não tem a clarividência necessária para compreender isto.
O Euronews mudou de logotipo: «The channel's new logo is a simple white circle, and is the result of 2 years of work and research conducted by the European broadcaster and its communication agency, FFL.» Dois anos.
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