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Hipótese.

por FJV, em 02.06.08

 

O pormenor não é de menosprezar: Manuela Ferreira Leite é a primeira mulher líder de um grande partido em Portugal. Não garantiu o lugar recorrendo à figura das “quotas para mulheres”, que o governo transformou em lei mas não cumpre. Acho que isso irá contribuir para algumas mudanças qualitativas na forma de fazer política nos próximos tempos, sem diminuir o tom e a intensidade. Para quem se recorda das picardias e das piadas “entre homens da política”, o “factor Manuela” é capaz de ajudar a mudar as coisas – e para melhor. Não por trazer um “ar maternal”, que é o modo machista de abordar a chegada das mulheres à política, mas por ser provável que MFL dê atenção aos temas centrais da vida portuguesa com outra sensibilidade e mais atenção. Só isso já é um avanço notável.

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LER 70 Junho

por FJV, em 02.06.08

 

Esta é a capa da edição 70 da LER, em distribiuição nacional a partir de hoje.

Ver aqui um resumo das matérias.

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Humor.

por FJV, em 02.06.08

Quinta-feira, na Bertrand Chiado, Ricardo Araújo Pereira, Rui Zink e Paulo Nogueira, conversam com Carlos Vaz Marques e respondem à pergunta «A literatura portuguesa tem sentido de humor?». Às 18h30.

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O regresso do Dr. António Sousa Homem, 6.

por FJV, em 02.06.08

 

«Todos os anos, nesta época, o velho doutor Homem, meu pai, suspirava por ostras. Era um queixume surdo e inclemente, que Portugal ouviu durante muito tempo. As ostras não eram propriamente um luxo na orla marítima da Galiza, e a recordação das suas viagens à Corunha ou a Vigo trazia-lhe aquela memória salgada arrancada ao mar frio deste lado da Península. A sua excentricidade chegou a levá-lo a Ribadeo, na fronteira entre a Galiza e o velho reino das Astúrias, porque lhe disseram que Don Álvaro Cunqueiro prezava especialmente essas ostras. Não quis deixar o crédito, inteiro e solitário, nas mãos do académico - e partiu para aquelas falésias, na compa­nhia do então director do Progreso de Lugo, que tinha famí­lia perto de Melgaço e era um teórico da culinária galega, para além de ter nascido nos arredores de Mondonedo, a terra de Cunqueiro.
O meu pai insistia que o escritor, por ter nascido no vale, não podia degustar inteiramente as ostras daquelas praias, contaminadas, ao longe, pelo Cantábrico. Era conversa fiada. Mondonedo, famosa pelas suas trutas e salmões, mas também por ser terra «de pão, boas águas e latim», como dizia Cunqueiro, era uma porta aberta na direcção do mar. O jornalista do Lugo (que tinha uma paixão pela ópera desde que escutara Manolo Cortés no teatro de Ribadeo, durante uma récita oferecida pelos Ruiseñores del Eo) visitou por duas vezes a casa de Ponte de Lima, durante o Verão, mas nunca trouxe ostras. Vinha ver o ciumen­to, como ele dizia, achando graça à perseguição que o velho doutor Homem, meu pai, fazia às enumerações gastronómicas do autor da Escola de Mencineiros.
Tudo isto ocupava uma parte do Verão, a mais cómi­ca e literária. Nessa altura, os areais de Moledo (con­quistados para a família, definitivamente, só a partir dos anos setenta, quando a «época balnear da Ínsua» era uma excentricidade) ainda não constituíam uma dependência da Academia Sueca e não se liam best-sellers à beira do mar.
As leituras de Verão disputavam terreno com os chamados «amores de Verão», que nasciam para fazer respeitar a tradição romântica do lugar. Os meus sobrinhos querem, com alguma frequência, saber se naquela altura já havia escândalos amoro­sos. Se confirmo, logo se abre uma brecha para considerar que as velhas gerações conheciam abundantemente o pecado e não têm razões para lamentar os infortú­nios da actualidade.»

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