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Na impossibilidade de estar presente ontem, na sessão de lançamento do seu livro (na Pó dos Livros, em Lisboa), o Dr. António Sousa Homem enviou a seguinte carta:
«Não é todos os dias que um Homem abandona a sua província para se aventurar nos caminhos da Pátria. Desde 1985, quando me fixei naquilo que viria a ser conhecido, em família – e depois entre os meus leitores –, como “o Eremitério de Moledo”, que raras vezes tenho abandonado o perímetro do meu Minho. Ao contrário do meu Tio Alberto, que se enamorou várias e repetidas vezes de senhoras estrangeiras, e que por isso conhecia os melhores hotéis de Madrid, a cor do lago de Genebra, os sabores de Paris ou o odor do Mar Cáspio, eu segui o destino dos velhos Homem de antanho, que só conheciam ou o caminho para casa ou o mapa das deambulações do senhor Dom Miguel. O velho Doutor Homem, meu pai, foi outra excepção, só possível porque o meu avô acreditava que em Inglaterra existia tudo o que valia a pena existir, tirando as quintas do Douro – e, mesmo essas, eram propriedade de súbditos ingleses. Não falo das viagens da adolescência ou da primeira juventude, claro – que me levaram a conhecer o mundo e a saber manejar mapas, talheres e línguas estrangeiras. Falo da idade adulta – ou seja, da idade em que as ilusões não sobram e em que as desilusões já não pesam.
Quis o destino que este Matusalém minhoto tivesse de esperar pelos oitenta anos para revelar a baixeza da vaidade e da pequena luxúria. Refiro-me à escrita. As outras são mais antigas. Os culpados desses desvarios são pessoas generosas que supuseram, por uns instantes, que eu acrescentaria alguma coisa às suas revistas ou aos seus jornais. Um dia, a minha sobrinha Maria Luísa levou uns amigos para um fim-de-semana a Moledo e, entre eles, estava a Dra. Mónica Bello, que trabalhava no jornal O Independente. Ela tinha lido uns arremedos anestésicos de crónicas que eu tinha escrito uns anos antes – na sua generosidade, que atribuí à idade e ao pavor de que o passado não tenha existido, ela lembrava-se. Eu viria do passado para provar que ele existiu. A Dra. Mónica Bello expôs-me o essencial da minha tarefa e resumiu-me o programa: eu seria um cronista que daria voz à Direita portuguesa. Corei de vergonha porque sempre supus que já não havia Direita e que eu estava irremediavelmente sozinho, com a memória da Tia Benedita – a ultramontana da família –, e o retrato do senhor Dom Miguel pendurado na parede do velho casarão de Ponte de Lima. Ainda hoje tenho dúvidas.
Eu disse que sim, mas esqueci o compromisso; era um sábado de depois da Páscoa e havia mimosas no Minho. Uma semana depois, à terça-feira, telefonavam do jornal acusando-me de estar atrasado no envio. Aprendi que “estar atrasado no envio”, “recibo verde”, “fecho” e “esta semana fechamos mais cedo” eram o essencial do jornalismo. Pessoas como o Dr. Henrique Burnay e o Dr. Francisco Camacho, no O Independente, trataram de mim como se trata um avô – e o ilustrador Fernando Mateus mais de uma vez me telefonou a perguntar se o retrato estava conforme. Nunca lhe disse, mas aproveito esta oportunidade, para lhe dizer que o retrato saía sempre melhor do que o original. Mais tarde, no Diário de Notícias e no Jornal de Notícias, o Dr. Francisco Camacho ou o Dr. Pombeiro telefonavam à segunda-feira a perguntar pela saúde, o que queria dizer que eu estava atrasado no envio e a D. Vera tremia à ideia de decifrar a minha caligrafia. Ainda hoje, a Dra. Fernanda Cachão, no jornal onde escrevo, espera receber a minha crónica acompanhada de um atestado médico. Um dia, tive o prazer de conhecer Dr. Manuel Alberto Valente, que me convidou a reunir em livro as primeiras crónicas. Achei o cúmulo da vaidade e a demonstração de que a degradação da alma humana não tem limites, razão por que o livro se publicou. Deixei, enfim, de ter vergonha. Sou de uma família que vive noutro século, tirando os meus sobrinhos e as minhas irmãs. É um pecado como qualquer outro, mas não se pode fazer nada contra o pormenor.
Quando em Janeiro passado o Dr. Octávio Ribeiro me convidou a escrever no seu jornal, levou-me a jantar num restaurante onde tomei a última refeição – um jantar – antes de embarcar para o Brasil há mais de cinquenta anos, para onde minha mãe, Dona Ester, me enviara a fim de esquecer um amor não correspondido e um casamento desfeito. Na mesma sala, nessa noite, o velho Doutor Homem, meu pai, recomendou-me que me divertisse e não esquecesse a gramática. Tenho tentado, rodeado de livros, plantas e um país que já não conheço.
Com este livro, os velhos Homem de outros tempos coraram nos seus jazigos – mais uns tempos e seríamos democratas e acompanharíamos, com o pé, o ritmo do Hino da Carta.
A ideia de publicar um novo livro foi proposta pela editora Bertrand, a quem agradeço o convite, o risco e o facto de amparar a vaidade de um velho anterior aos romances modernos, à máquina de escrever e à sociologia. Apenas impus a condição de o livro ser prefaciado pela Professora Maria Filomena Mónica porque já tenho poucas oportunidades de partilhar a companhia de senhoras que gostaria de ter conhecido em algum tempo ou em algum lugar da minha vida. No seu livro Bilhete de Identidade, a Doutora Filomena Mónica recorda, a certa altura – eu lembro esta passagem porque a comentei com as minhas irmãs, que são ciumentas – as tardes que passou, em Inglaterra, bebericando brandy e lendo apaixonadamente os clássicos. É uma cena, como se vê, digna de O Monte dos Vendavais. No fundo, se o meu médico de Viana do Castelo, um benemérito local, não me tivesse imposto a interdição do brandy, era isso que eu faria, exactamente. Beber brandy e ler apaixonadamente os clássicos. Não é o resumo de uma vida, mas, para um conservador minhoto, é como se Dom Miguel não tivesse embarcado em Sines para o exílio.
A minha sobrinha Maria Luísa viria de Braga recolher-me e transportar-me para Lisboa. Ela faz isso com uma frequência semestral, só que o destino é São Miguel de Seide, e não Lisboa. Infelizmente, o Verão é como é. Além do iodo, que é o meu suplemento de vida colhido nos pinhais de Moledo, à beira do mar, ele traz problemas às coronárias. O médico receitou-me morigeração e repouso – e eu poupo-me para as ostras de Ribadeo, que hão-de chegar este fim-de-semana. Dona Elaine, a governanta de Moledo, aguarda que conclua esta nota para enviá-la antes do jantar.
Agradeço-vos a todos. Se o livro tivesse de ser dedicado a alguém, escolheria duas pessoas (além do velho Doutor Homem, meu pai, da Tia Benedita, que ao longo de oitenta anos nos protegeu do bolchevismo, da devassidão moral e do fantasma de Afonso Costa, ou do Tio Alberto, o bibliógrafo e gastrónomo de São Pedro dos Arcos). Falo da minha sobrinha Maria Luísa, leitora fiel e hóspede quase permanente de Moledo, a única esquerdista que sente alguma ternura pelo miguelismo da família. E falo de Torcato Sepúlveda, um jornalista que tive o prazer de conhecer durante um almoço nas margens do Minho. Descobrimos, ao mesmo tempo, que éramos leitores de Camilo e, provavelmente, os últimos portugueses a ter lido o Minho Pittoresco ou o Tristram Shandy. Infelizmente, a morte sabe onde nos vir buscar, mesmo que não estejamos preparados.
No resto, para além da vaidade de um pobre velho do Minho, resta-me esperar que a leitura do livro sirva de consolação a alguém que o leia. Tal como o iodo de Moledo.»
Hoje, quarta-feira, 25 de Junho, pelas 18h30, na Livraria Pó dos Livros (Av. Marquês de Tomar, 89-A), lançamento de Os Males da Existência, com Maria Filomena Mónica e Francisco José Viegas, que falarão sobre as Crónicas de um Reaccionário Minhoto. Estará presente o autor, Dr. António Sousa Homem.
«O meu mundo desapareceu nestas três últimas décadas. Era um mundo onde a pasta dentífrica se espremia pelo fundo do tubo e onde os jornais não tinham erros nas secções de palavras cruzadas. O resto, a política, a bondade ou a crueldade dos homens, a vaidade ou a riqueza, o prazer ou o sofrimento são menos do que acontecimentos; a única coisa que aprendemos é que precisamos de alguma inteligência para não nos zangarmos com o mundo.»
«O velho Doutor Homem, meu pai, era um madrugador impenitente e dormia seis a sete horas por dia, raramente cabeceando a meio de uma partida de brídge, nas noites de sexta e de sábado, ou durante o obrigatório serão doméstico. O segredo, explicou várias vezes, residia na quantidade de livros aborrecidos que se esforçava por ler e na disciplina que essa leitura requeria.»
«Mas a verdade é que o país gosta de malandros. Gosta de pantomineiros e desculpa-lhes tudo. O país gosta de apreciar, nos outros, as mesmas faltas de carácter que o distinguem. Tal como as mulheres dos romances libertinos, que preferiam os canalhas, porque eram mais sedutores embora lhes ensinassem apenas o caminho da desgraça, o país também prefere os pantomineiros.»
«A Tia Benedita, o génio ultramontano da família, comparava os Cabrais à sanha demagoga do dr. Afonso Costa. Ela conhecia, à sua maneira, o elemento humano que se encaminhava para a corrupção e para a impostura.Os Cabrais estão em todo o lado, afinal: esclarecidos, cultos, abrindo estradas e dirigindo o progresso – mas temendo muito a liberdade e as ideias contrárias. Não porque, realmente, tenham medo de ambas; mas porque a liberdade e as ideias contrárias são correntemente um empecilho que desvaloriza a sua vontade de mandar.»
«A minha sobrinha Maria Luísa manifesta, cada vez mais esporadicamente, algumas perplexidades sobre a relação entre toda a bibliografia acumulada em Moledo e “o histórico” da família. Ela achava, em tempos, que a dimensão da biblioteca deveria afastar-nos da tradição conservadora do clã, até que ela própria (que votava no Bloco de Esquerda) foi escolhida para levar o retrato do senhor Dom Miguel a um artista de Braga, para que o cuidasse e reparasse. Expliquei, sem argumentos de peso, que não era preciso ser de esquerda para apreciar os grandes autores e que nem todos os bons escritores defenderam o comunismo, “o massacre das classes médias” (uma expressão histórica de Eça) ou o encerramento das igrejas. A questão era inteiramente diferente – ou até a inversa: como é que uma pessoa com tamanha biblioteca poderia ser “de esquerda”?»
«A mim, pelo contrário, uma casa sem duas prateleiras de bons livros parece-me uma parte do deserto de Moçâmedes (onde tivemos um tio agrimensor). É vaidade de velho e arrogância de um minhoto de antes da guerra civil (a de oitocentos, porque não houve outra). A minha sobrinha acha absurdo que, tendo eu lido alguns livros essenciais, e mantendo uma biblioteca razoável, me não importe de ser um conservador dos de primeira. Sobre isso não sei, mas respondo que acho estranho ela ter lido alguns desses livros, ter guardado o prazer de os escolher e de os guardar, e continuar a votar à esquerda.»
«No meu tempo havia toda uma mitologia em redor das ostras, um alimento do Inferno destinado a instantes de devassidão. O meu Tio Alberto, que se apaixonou por uma antiga princesa do Cáspio, achava as ostras um bom ornamento para o litoral galego mas não um dos pecados enumerados pelos Concílios – quanto ao caviar, sim, era chave da antecâmara da perdição. Ele considerava que, sendo o esturjão do Cáspio um sobrevivente entre as espécies condenadas pelo Dilúvio, algum motivo haveria para ser tão prezado. A sua princesa persa era uma senhora delicada e culta que nascera já fora da Rússia, de onde a família saíra nos anos vinte. Quando soube do romance, que durou muito tempo, a Tia Benedita temeu tratar-se de uma bolchevista (elas sabia de História apenas o essencial dos almanaques). O meu tio, bibliómano de São Pedro dos Arcos, não se deu ao trabalho de a desmentir. Remeteu-se ao silêncio, como um amante invejado, e limitou-se a suspirar pelo caviar.»
«Diante do vastíssimo número de escritores de hoje em dia, o velho Doutor Homem, meu pai, colocaria a hipótese de chamar pela polícia de costumes, uma velharia já no seu tempo. Mas a intenção fica.»
«O velho Doutor Homem, meu pai, comportava-se como um poeta satírico cujo propósito era rir dos românticos. Ele costumava dizer que a choraminguice portuguesa tinha sido transformada em lei pelo constitucionalismo e pelos liberais que tanto assinavam decretos como nos puniam com sonetos. A minha sobrinha sofre bastante quando ouve estas perversidades; ela acha que se deve premiar a “sensibilidade” e valorizar o lado “emocional” da vida. Nunca conseguimos chegar a acordo sobre o assunto. Acontece que a “sensibilidade” e o lado “emocional” da vida são coisas para consumo moderado, como os medicamentos, e que a sua prescrição deve ser consagrada para uso íntimo e estritamente pessoal.»
«A minha sobrinha acha que a bondade geral, a sensibilidade e a generosidade nasceram na margem esquerda dos caminhos, ficando a direita reservada para os espíritos tortuosos, para a maldade e para a insensibilidade. Por exemplo, a biblioteca. Com esta biblioteca, extensível em temas e autores como um planisfério elástico, eu não poderia levar a sério nem “o conservadorismo da família”, nem a existência do retrato do senhor Dom Miguel (guardado e protegido no casarão de Ponte de Lima), nem a ideia de que o mundo está razoavelmente bem feito. Eu devia, com algum exagero, evidentemente, esconder-me nas penumbras a lançar bombas contra a família, as classes médias e o senhor arcebispo de Braga.»
«Acontece que um dos desacertos com que o mundo tem lutado nasce da ideia de que “o bem” está à esquerda, a quem o futuro assenta como uma luva. Ao apropriar-se do “bem”, fica reservado o “mal” para todos os que não ponderam votar no dr. Louçã – desde velhos ultramontanos (que já não existem) a cépticos que manuseiam almanaques de história pátria dos últimos duzentos anos ou que duvidam das boas intenções da sociedade em geral. E, estando o “bem” em algum lugar, ele não pode praticar-se se não se transportar a bandeira das esquerdas. É, digamos, uma lógica insofismável.»
«Um jogador como o Ballack mostrou o espírito da liberdade frente a Portugal.»
No o Los Angeles Times:
«Agualusa weaves a gorgeous and intricate story about a man who trades in memories, selling people pasts to help reinvent their futures. Set in Angola, the tale darts to and fro with the swiftness of a step over by soccer player Cristiano Ronaldo. [...] He's a young master.»
Leio no Público que Ana Moura (que tem uma bela voz) gostava que Fernando Pessoa fosse vivo e escrevesse fados para ela. Não percebo porquê, a não ser por birra. Daqui a nada, temos gente que nunca leu uma antologia de Pessoa mas queria que ele fosse vivo ou fosse outra coisa. Que estivesse ao seu serviço. Não basta o que ele escreveu, o que ele deixou; é preciso que Pessoa seja guitarrista de rock ou saxofonista, que ele não foi. O pessoal nunca está contente, mas não têm sorte porque Pessoa foi mesmo assim como foi. Ana Moura não tem nada a ver com isto, evidentemente, porque se quisesse cantar Fernando Pessoa tinha muito por onde escolher. É só uma birra, desculpem.
No futebol, a Natalie Wood volta sempre ou por que razão Pacheco Pereira fala de futebol com o lado errado do cérebro. A crónica de Ferreira Fernandes no DN de hoje.
Movimentos geométricos dos russos, em estilo compressor, desprezando a utilização do compasso; régua e esquadro bastavam, e arcos de meia volta desenhados à distância, com a criatividade de Zhirkov, e dos fantásticos Arshavin e Pavlyuchenko. De repente, e pela primeira vez, apeteceu-me ir à Rússia.
Uma notícia da Macedónia: «Um jornalista macedónio foi preso sob suspeita de ser o assassino de três mulheres, crimes sobre os quais escrevia nos jornais em que trabalhava.»
Heptacampeões, em todas as condições e no terreno do inimigo. É o primeiro dia do Verão.
Médio de ataque ou descaído sobre a ala esquerda, escrevem eles. É o primeiro dia do Verão.
Aqui está a crítica ao The Book of Chameleons, de José Eduardo Agualusa (trata-se da tradução de O Vendedor de Passados), na Time Out de Nova Iorque, desta semana.
Frequentemente se ouvem, nas televisões e nas rádios, uns cavalheiros gabando com foguetes a actuação dos «jogadores com experiência» que «sacam uns penalties», «arrancam umas faltas» ou, pura e simplesmente, se valem da sua experiência para enganar o árbitro. Reinaldo Azevedo comenta o assunto a propósito das críticas de Lula a Robinho.
Ou muito me engano ou, no próximo ano, os hierofantes do Ministério da Educação (aqueles que acham que os professores de Matemática percebem de Matemática mas não percebem de «avaliação» -- uma declaração que deveria forçar a comissão de educação do Parlamento a chamá-los para esclarecer o assunto) dirão que houve uma substancial melhoria da estatísticas e que o homem novo está a caminho com uma taxa de sucesso a festejar. Basta ver a manigância a que eles (os que percebem de «avaliação») se dedicaram. Se não fosse trágico para o sistema de ensino, contaríamos mais uma anedota sobre o assunto.
1. O aborrecido em futebol é que alguém tem que perder e às vezes quem perde são os nossos. Antes assim, do que aumentar a bolha do «somos os maiores»; porque não éramos, dadas as circunstâncias de termos um treinador que insiste em burrices consagradas ao som de Roberto Leal. Com outro treinador, estes jogadores iriam mais longe. Maiores foram os alemães, mais rápidos, mais sólidos, mais concentrados e com uma bússola que lhes mostrava a direcção da baliza. Mesmo assim, a rapaziada não jogou mal mas a verdade é que depois de rever as partidas contra o Azerbaijão, a Polónia ou a Finlândia, compreende-se: Scolari gosta de futebol de flippers: cada jogador transformado num botãozinho, Ronaldo preso ao lugar menos indicado e todos a jogar para a equipa (eu nunca percebi isso), com a excepção de Deco, que esteve genial (apenas ele, valha a verdade). Alguns comentadores falam da Alemanha fria e calculista; eu vi ali futebol, passes, entradas pelas laterais & geometria descritiva. Que os jogadores portugueses são mais talentosos; então encontrassem jogo mais talentoso, porque Ballack, Schweinsteiger e Podolski não são nada de deitar fora, pois não?
2. Espero que a pátria entre em certo sossego.
3. Quanto ao resto, espero que Stamford Bridge conheça em breve Roberto Leal, a N. S. do Caravaggio, e o guarda-redes Ricardo.
Na próxima semana o Dr. António Sousa Homem deixará Moledo e estará em Lisboa para, na quarta-feira, 25, às 18h30, na Livraria Pó dos Livros, lançar o seu livro Os Males da Existência. Crónicas de um Reaccionário Minhoto. A apresentação estará a cargo de Maria Filomena Mónica. Oportunidade para uma conversa.
«Sou um conservador, um botânico e um velho. Até como botânico sou conservador, reservando sempre o mesmo espaço para as begónias – que me lembram Júlio Diniz e Uma Família Inglesa – e o mesmo enlevo para os hibiscos. A velha casa de Moledo, onde a família passa os domingos e, episodicamente, os finais de semana, não acolhe memórias de um século; alberga apenas a poeira de oitenta e quatro anos assinalados, religiosamente, em Dezembro de cada ano e anunciados à família como um avanço na conservação da espécie.»
Não se iludam: é orgulho mesmo. A França, através da ministra da Cultura, Christine Albanel, acaba de distinguir o meu (relapso) companheiro de blog, Manuel Alberto Valente, com o título de Cavaleiro das Artes e das Letras. Este blog rejubila e entra na Ordem da Cavalaria.
Cansado e com insónias, redescubro sempre os livros que me tranquilizam. Ontem foi Os Maias de novo. A velha escola explica o fascínio pelo livro: os personagens, os diálogos, as cenas, o fio da navalha. Podia ser A Grande Arte ou O Monte dos Vendavais (redescobri a velha edição Romano Torres, cheia de anacronismos) enquanto espero que a Antígona faça a reedição do Tristram Shandy num só volume. Podia ser A Cidade e as Serras, que me ilumina e reconforta muito mais. Ou Memórias Póstumas de Brás Cubas, que chama pelo riso. E, ao voltar as páginas, elogio sempre a senhora Condessa de Gouvarinho. Tenho por ela uma secreta admiração; é uma personagem injustiçada pelo machismo de Eça. Na verdade, destinada a distrair Carlos da Maia do seu tédio mortal (mas é ela que toma a dianteira, que decide, que seduz), a senhora Condessa dava, por si só, um romance, arrastando aquele perfume de verbena, os vabelos ruivos, a vontade de trair e de ir expiar os seus pecados à igreja de Santos. Ela e Craft, à distância, com a música de Cruges em fundo, podiam ser dois personagens fatais. Na verdade, são dois personagens fatais.
1. Uma horda de jornalistas repete até à exaustão que «hoje é o dia do mata-mata». Desde há uma semana que «hoje é o dia do mata-mata» porque já estava escrito que podíamos perder com a Suíça, e perdemos, e mesmo assim «hoje seria o dia do mata-mata». Nunca mais acaba o suplício. Matem lá.
2. Petit deu um «chupa-chupa» a Cristiano Ronaldo (CRonaldo, como escreve o Ferreira Fernandes). Que coisa superlativa. Todas as rádios anunciaram a dádiva e houve mesmo um comentador que acrescentou que Ronaldo tinha sido de uma enorme elegância. Comeu o «chupa-chupa» de boca fechada.
3. Não vi mais de metade dos jogos. Não vi três quartos dos jogos. Estou apenas à espera dos Jogos Olímpicos para dizer mal da China.
João Pereira Coutinho explica por que razão Cristiano Ronaldo põe ovos e arruinou esteticamente gerações sucessivas de portugueses.
A Europa, que foi berço de várias civilizações – e não apenas de uma, maneirinha e conformista – não merece tanta arrogância desta gente mal-educada que se põe a pregar moral aos irlandeses por ter votado como votou. O argumento de que apenas dois milhões de irlandeses põem em causa o Tratado de Lisboa não pega: na verdade, apenas eles foram consultados. Se o texto do Tratado é assim tão complexo que apenas as luminárias das altas esferas o entendem, pois que trabalhem (para isso são pagos pelos contribuintes e cidadãos da Europa) e o ponham em língua de gente. Os europeus podem ser cépticos, mas não são tão estúpidos como querem fazer crer – e não podem ser tratados como o velho Mao Tse-Tung tratava os chineses: como carne para canhão. A piada é para Durão Barroso, sim.
[Da coluna do Correio da Manhã.]
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