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O regresso do Dr. António Sousa Homem, 4.

por FJV, em 31.05.08

 

«O velho Doutor Homem, meu pai, tinha pelo romance um desprezo discreto e morigerado. Ele atribuía isso ao facto de, por distracção, se ter fixado na palavra “gentleman” no título de The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman, quando passeava o seu ócio numa livraria de Londres. O meu pai, que tinha lido o Quixote e se compenetrara da importância de Pantagruel, ficou saciado para a vida inteira ao ler Tristram Shandy, como se não precisasse de ler outro livro. Partilhei do seu entusiasmo como se se tratasse de uma Bíblia. Na verdade, li-o toda a vida. E lendo-o durante toda a vida, li nele todos os livros que comenta.
A minha sobrinha acha que eu devia escrever um romance por ter coisas para contar. [...] “Há para aí tanto escritor sem nada para contar”, observa ela, tentando comover-me ou elogiar-me. Defeito de juventude: ela não conhece o poder extraordinário da preguiça, que, não sendo fonte de virtudes teologais, é um vício deste Matusalém minhoto.»

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